terça-feira, 23 de junho de 2009

Rockabilly Guy

O show da banda Crazy Legs, no último sábado 20, foi muito bom. Uma banda bem desconhecida por aqui, tanto que o público foi pequeno. Mas a iniciativa da Radio Trash foi muito boa. O repertório foi ótimo e incluiu clássicos de Stray Cats e Johny Cash. Um pena que o baixista quebrou o cabo do captador na terceira ou quarta música, deixando o som do power trio menos power. O slap back (modo de tocar batendo nas cordas do contrabaixo acústico) acabou virando uma percussão inusitada, sem definição harmônica, mesmo assim, muito precisa no ritmo. Pena mesmo, mas não teve nada a ver com a organização do evento. Puro azar da banda. Mesmo assim valeu muito a pena ver o show.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Liberdade de escolha

Sou jornalista por formação. Quando prestei vestibular, só podia fazer universidade pública. Naquela época, os vestibulares da UEPA e UFPA coincidiam as datas dos exames propositadamente, para eliminar franco atiradores. Eu me inscrevi nas duas instituições, teria que escolher entre o curso de licenciatura em música na estadual ou o bacharelado em comunicação social da federal. A primeira prova foi o teste habilitatório em música. Passei e fiz as demais provas, tendo que escolher, no último dia de prova, entre a concorrência de 1,2 por vagar no curso de música ou de 16 por vaga na federal. Escolhi comunicação. O fator decisivo foi a pressão da família e dos amigos que diziam que eu ia "morrer de fome" se escolhesse ser músico.
O salário de um músico da orquestra do Theatro da Paz confirma hoje o que me diziam naquela época. Não me arrependo. Mas posso dizer que sou tão músico quanto sou jornalista hoje. A diferença é que não posso exercer a função de músico profissional sem a carteira da Ordem dos Músicos do Brasil. Sem ela, eu não posso me inscrever em nenhuma das associações arrecadadoras de direito autoral que compõem o Ecad. Não posso, consequentemente, vender minhas músicas em meio digital de download. Não posso nem morrer de fome com mais dignidade, deixando quem sabe a herança da minha pobre obra artística para a minha filha. Mas meus colegas que cursaram turismo já podem ser jornalistas.
Isso é uma ironia maldosa, para falar sobre a queda da lei que exigia diploma de comunicação e habilitação em jornalismo para se poder exercer a profissão. Confesso que não estou muito preocupado com isso. Sei que é uma mudança importante e mudanças são sempre para a melhor. O que sei sobre jornalismo hoje aprendi na escola e aprendi nas redações, aprendi com meu ofício de músico, aprendo com minhas leituras e com meus exercícios. Ninguém me tira. Conheço bons jornalistas sem formação acadêmica e conheço muitos péssimos com formação acadêmica. O contrário também é verdadeiro em muitos casos. A falta de ética, principalmente, grassa nas redações. Não fosse a oportunidade de relacionar o que aqui relaciono nem comentaria o fato.
Mas e sobre os músicos? Se caiu a lei de imprensa, filhote da "ditabranda", quanto tempo mais vai demorar a reformulação da lei que regulamenta o exercício de ofício que tanto mais que o jornalismo se confunde com o livre exercício da liberdade de expressão? A lei que criou a OMB é de 1969.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um crítico, por favor

Nos anos 80 eles metiam o pau em tudo e em todos sem distinção de cor, de gênero ou de bom senso. Acho que isso durou até os anos 90, quando a indústria fonográfica começou a entrar em bancarrota e as revistas e jornais perceberam que falar mal afetava todo o sistema, que incluia jornalistas e críticos. De lá para cá, a crítica séria, já rara, tornou-se cada vez mais artigo de museu na imprensa brasileira.
Dizem que o artista está sempre à frente da crítica, com o que concordo na maioria das vezes. Isso foi verdade clara, só não vista no Pará pela própria insipiência da imprensa especializada local. Uma efervescência como a de meados dos anos 00 só não passou despercebida pela ação fundamental de pessoas como Beto Fares e Ney Messias, que através da Rádio e da TV Cultura massificaram o que puderam os estilos e artistas emergentes.
Mas o alcance limitado da rede pública não foi suficiente para criar base de profissionalização aos artistas emergentes, que também não sobreviveram à ausência do apoio de Messias, que chegou a ser chamado de o próprio "Salvador" da música paraense por Pio Lobato. Sem transmissores como agora se implatam, após a suspensão do famigerado convênio com a TV Liberal, o alcance da Rede Cultura se resumia à Região Metropolitana de Belém.
Hoje, a TV Cultura tenta correr atrás do prejuízo, mas não se pode mais esperar que ela seja o único suporte de popularização da produção artística local. O mundo mudou em pouco anos, a indústria mudou, o paradigma de consumo mudou, enfim. A crítica volta a ser fundamental nesse contexto. Em outros momentos de ascensão do rock paraense, alguns jornalistas tentaram exercer tal papel, incluindo este poster.
Mas a crítica paraense tendia a ser irresponsável e leviana ou comprometida com as partes a ponto de prejudicar seu efeito transformador. A crítica deve estimular as virtudes e reconhecer as limitações, as do crítico inclusive, para ser minimamente honesta com o leitor. Coisa difícil onde queima a fogueira das vaidades.
É preciso se aperfeiçoar e conhecer cada vez mais nesse mundo de especialidades cada vez maior para se chegar à essência, pois creio que esse é o papel de um exegeta, e é isso o que deve ser um crítico. Um crítico deve fazer reconhecer aquilo que o público não vê a olhos nus. Se reproduzir padrões de mercado ou clichês e modismos tende a ser ridículo.
Conciliar esse olhar analítico é muito mais difícil ainda em uma cidade provinciana onde todos temem "se queimar" com "os caras" que fazem a "onda" acontecer.
Quando comecei a estagiar no caderno de variedade de O Liberal, há mais de 10 anos, minha professora e coordenadora de estágio, Regina Alves, me alertou para tomar cuidado e não me envolver com "essa mafiazinha de cultura" que existe em todo lugar. Eu não sabia bem do que ela estava falando, mas percebi logo com o tempo.
No século 21, a internet está aí para furar esses bloqueios e superar a mediocridade. Precisamos de críticos, urgente. Não de boçais, mas de pessoas honestas e com sabedoria e conhecimento para nos ajudar a enxergar e se fazer enxergar. A análise é o exercício da práxis, onde se aprende e se apreende ao perceber, ao contemplar, admirar, analisar, enfim. É necessário também ter informação, pois essa análise precisa ser baseada em argumentos e fatos, além da apreensão subjetiva. Nosso jornalismo cultural é precário.
É com essas coisas todas em mente que celebro, com grande otimismo, a chegada à rede dos blogs de dois colegas: o jornalista Sidney Filho, recém chegado de uma temporada em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e o publicitário e produtor de rádio Angelo Cavalcante, ex-parceiro de Norman Bates. Sidney já está há um tempo, fez inclusive uma entrevista comigo. Angelo chegou agora com uma resenha fresquinha sobre o disco de Arthur Nogueira. Sejam bem-vindos, amigos. E ajudem a nos libertar através da palavra.

Música para não baixar

Na revista Bravo desse mês, Carlos Eduardo Miranda anuncia: o download vai acabar! Para o brother produtor que revelou Raimundos ao Brasil, o formato de audição de música na rede vai ser o streaming e pouca gente vai baixar, tendo a disposição na própria rede uma fonoteca virtual a ser consultada a qualquer instante. Como vai ser isso, se vai ser pago ou não e como vai ser pago, Miranda ainda não arrisca. Fato é que a indústria fonográfica está se reorganizando e tentando direcionar um novo padrão de consumo. Mas, na minha opinião, esse padrão de consumo dificilmente vai se universalizar novamente em um único formato.
Vários fatores podem ser considerados para “prever” isso. Em primeiro lugar, a globalização que permite a transferência de consumo para a rede, não é de todo universal. Vivemos um momento de transição no mundo todo. Em muitos estados do Brasil e, creio, no mundo ainda hão de consumir CDs e DVDs por algum tempo considerável. As classes menos abastadas tendem a segurar a onda do capitalismo tardio enquanto a transição para um modelo menos exploratório não terminar. Isso deve demorar muito ainda.
Os dados sobre vendas de CDs e DVDs no ano passado anunciados pela ABPD há alguns meses (e que pouco ouvi notícias na mídia) mostram uma pequena recuperação de vendas de suporte físico em relação ao ano anterior (2007). Coisa rara no mundo hoje, aconteceu no Brasil. Alguns executivos creditam o feito ao “efeito batom”, causado no final de ano pela crise financeira que estorou em outubro. Com medo de gastar, o consumidor brasileiro voltou a presentear mais barato, e CDs e DVDs voltaram à lista de compras do final de ano.
Dessa forma, o comércio de CD na era digital pode não ser tão obsoleto quando imaginam os entusiastas do comércio de download, que cresce cada vez mais no mundo todo. O que vai mudar são as estratégias de venda, de marketing e o relacionamento de selos e gravadoras com artistas e seus consumidores.
Não há regra pré-estabelecida para isso, para essa nova era de relacionamento. Há, sim, tentativas de universalizar a idéia dos grandes. E o poder da indústria é forte para isso. Mas os independentes e os pequenos precisam articular outras vias, além da inevitável via digital. Idéias inovadoras e projetos ousados se fazem necessários.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Eletrosfera

Foto de Renato Reis

Hoje tem Suzana Flag com o show Eletrosfera Bar no Stand By. Elogiadíssimo, o show abre temporada todas as quartas de junho. Couvert a R$ 4. Reduzimos o set de equipamentos para fazer com quatro integrantes. Vai sobrar espaço para dançar e alegrar o ambiente. O Stand By é muito aconchegante e o atendimento é legal. O som de primeira. Enfim, vai ser muito massa. Pinta por lá na Rui Barbosa próximo à 28 de setembro.

Adeus de Walter



Mesmo com toda a experiência e competência, Walter Bandeira sempre foi uma pessoa muito simpática e extrovertida, isso não é novidade para ninguém. Nós costumávamos encontrá-lo pelos corredores e estúdios da rádio Cultura FM quando o Norman Bates fazia por lá suas produções sonoras. Uma vez, Walter se impressionou com a pegada forte da banda em “Tanto Quanto”. Generoso, disse ficar admirado. Ao invés de desqualificar a música primal do rock, tão distante das suas interpretações emocionais e técnicas, fez elogios. Disse que ele mesmo não conseguiria fazer igual ao Norman Bates nunca, o que não tirava nossos méritos. “Preciso ter a harmonia me guiando se não eu me perco todinho. Não consigo improvisar como no rock”, disse ele.
Logo em seguida, “a bicha”, como o chamávamos carinhosamente na frente dele mesmo, como muitas vezes ele mesmo se referia a si pórprio, dava cantadas engraçadas em um dos integrantes da banda, com o que nenhum de nós nunca nos incomodávamos.
Ele se divertia recomendando às bonitas apresentadoras de TV, que faziam cursos de dicção e locução com ele, que praticassem bastante sexo oral. Ele dizia isso com termos muito mais chulos, mas com um carisma que conseguia não ofender ninguém. Walter ensinou muita gente.
Ele apurava os graves da voz com os cigarros, que acendia um após o outro, provavelmente a principal causa do câncer de pulmão que o levou a morte ontem no Hospital Porto Dias.
O Pará perdeu uma figura ilustre, simpática, talentosa e muito generosa. Nossos pêsames a família, aos amigos, e vida eterna a Walter Bandeira.