sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Reinavam com o castiçal

A música afiada de Rafael Lima, abrandada pela paternidade?

Meninos, ouvi Magnetique!

A performance de despedida de Sammliz, Edinho Guerreiro (ambos do Madame Sataan) e Arthur Kunz (Clepsidra), juntamente com Maurício Panzera, foi algo de especial. Sammliz e Edinho voltaram a São Paulo onde trabalham na pré-produção do segundo disco da banda, enquanto o jovem baterista Arthur Kunz deve partir para a Itália no dia 4 de fevereiro para uma temporada de pelo menos três meses, que pode se estender na trilha de seus estudos musicais.
O encontro desse quarteto aconteceu ontem no São Matheus durante o show Magnetique, que reuniu em seu repertório clássicos do hard/heavy rock e pérolas da MPB em versões de bom gosto e sofisticação. Sammliz arrasou na interpretação das “pedras”, abrindo o repertório logo com uma versão de War Pigs, engatando em seguida “uma” Eu sou neguinha, como que anunciando a proposta eclética do repertório. Algo arriscado. Ousadia que falta nesse rock paraense.
Apesar do know how de metaleira, a vocalista não decepcionou na interpretação das canções de MPB e até surpreendeu com o standard jazz Summertime. Mas seu forte mesmo é o hard rock. Depois de passear por Led Zeppelin, Black Sabbath e outros clássicos, Sammliz se mostrou como a rainha do rock paraense e pôs seus súditos metaforicamente de joelhos durante a apresentação de Duo e Molotov (do repertório do Madame Saatan), intercaladas por uma versão quase comportada de Highway to Hell.
A cozinha de Panzera e Kunz, entrosada, mostrou versões mais jazzy e suingadas, mas não decepcionou quando o peso se fez presente. “Eu ainda estou indeciso entre o jazz e o rock”, disse Kunz depois da apresentação, meio em tom de brincadeira. “Siga essa linha mesmo que você vai bem”, devolvi entre risos de satisfação.
Panzera, sempre eficiente nas levadas suingadas, desceu os dedos sobre as cordas do contrabaixo e fez pensar como soaria um Madame Saatan mais ao champignon (como diria Simonal). A tendência se mostra uma possibilidade pelo que se ouve dos ensaios da banda para esse segundo disco. Tendência ainda mais acentuada pela performance de Edinho, que se mostra cada vez menos a feito ao metal do que às harmonias de jazz e bossa nova. Fez pensar e nos deixou imaginando coisas.
Foi um momento especial, para poucos, muito bem prestigiado pelos amigos do rock, jornalistas, produtores, fã-clube e descolados. O cenário parecia algo hypado mesmo. “Daqui a pouco eu anuncio as celebridades”, brincou Sammliz. Ainda bem que eu estava lá.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Música: políticas públicas setoriais

Pouco mais de 18 pessoas participaram do Seminário promovido pelo Fórum Permanente de Música do Pará (FPM-PA) que foi aberto ontem no auditório do Instituto de Artes do Pará (IAP). Apesar do pouco quórum, ressaltado várias vezes pelos membros da delegação paraense à Pré-Conferencia Setorial, o Seminário contou com presenças importantes como a do Secretário de Estado de Cultura Edilson Moura e Delson Luiz, representante do Ministério da Cultura, que falaram sobre o papel do Estado no fortalecimento da cultura e da participação popular nas políticas públicas dessa área.

Edilson Moura disse que realizou a primeira conferência estadual de cultura aos seis meses de seu mandato e reuniu mais de 10 mil pessoas. “No entanto, a maior parte das pessoas que participam estão ligadas aos movimentos populares, representantes da cultura tradicional, dos afro-religiosos, indígenas, movimentos de bois e de pássaros. Nós sempre tivemos pouca participação dos segmentos da música, por exemplo."

Quando falou que a política de editais e o apoio as iniciativas artísticas ainda não foram suficientes, o secretário tocou num ponto nevrálgico do problema. Os recursos disponíveis para a cultura não são suficientes para atender a todas as demandas, mesmo que o governo compreenda a necessidade de investir nelas. Dentro de qualquer instituição de governo há competição orçamentária. E sempre quem perde é quem tem menos força para fazer cumprir suas reivindicações. Na cultura é assim. Na música é assim. A falta de interesse participativo nas decisões políticas enfraquece qualquer iniciativa e tentativa de construção de uma política pública que saia do “balcão”.

Até hoje tem gente que diz que não reconhece o Fórum de Música. As mesmas pessoas que, quando tinham seus projetos dentro da lista de demandas do Fórum, antes o reconheciam. Ao primeiro sinal de adversidade, desagregam, fogem da briga e buscam a saída mais cômoda, quando enfim vislumbraram saídas satisfatórias aos seus interesses individuais. Ainda saem dizendo que nós é que somos desagregadores. Nossa falta de educação nos impede de desenvolver o conceito de cidadania.

A conversa paralela ao seminário, com colegas muito mais experientes e com muito mais “tarimba” do que o grupo que hoje se reúne em torno do Fórum, denota um desestimulo na batalha. “Quando a gente vai às reuniões, não consegue avançar no debate porque tem sempre alguém que levanta a voz para chorar seus reveses individuais”, disse, em resume, a fonte que prefiro manter em sigilo.

Mesmo assim, o grupo de delegados eleitos na última assembléia está treinando, exercitando a prática saudável e republicana do debate. É um avanço significativo. Melhor ter um debate restrito mas qualificado do que ter a balbúrdia que se viu em outros momentos de ápice de mobilização.

Mas, observe-se, o debate não é restrito por imposição do grupo. Há publicidade em torno desses encontros. Entre as 18 pessoas presentes ao IAP, a maioria são sujeitos atuantes no cenário, pessoas que influenciam e formam opinião. A professora coordenadora do Programa Luamim Heliana Evelyn, por exemplo, levantou questões cruciais sobre as artes e a educação. A trajetória do projeto Luamim, em si, é um exemplo de como a educação pública está comprometida em seus métodos e práticas (principalmente).

Heliana trabalha as artes como instrumento de socialização e transformação social. Mas não pode ocupar os espaços das escolas. Em primeiro lugar porque há muita resistência nos projetos pedagógicos tradicionais sobre métodos de interação. E ela fez uma observação importantíssima. Até esse ano as escolas são obrigadas por lei a oferecer conteúdo de ensino musical na educação básica. “Os governos, porém, construíram salas de aulas ao invés de novas escolas. Os espaços que poderiam ter sido ocupados por auditórios e teatros foram ocupados por mais salas de aula. O professor de música vai dar aula teórica porque o professor de matemática diz que ele está incomodando, fazendo barulho."

Isso me fez lembrar duas coisas. A primeira foi a conversa que tive com o maestro Enaldo, da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, que lembrou que os alunos são obrigados a estudar matemática mas não são obrigados a estudar música. “A música lida com os sentidos, com a matemática, com a lógica e com a coordenação motora. É um grande instrumento de aprendizado e de desenvolvimento”, observou.

A outra situação aconteceu bem recentemente e comprova isso. Num curso de formação de empreendedores que realizei no SEBRAE-PA, a professora promoveu uma dinâmica que tinha como objetivo, entre outras coisas, testar nossa capacidade de agir em grupo. Ela dividiu a turma em dois grandes grupos e deu a missão: cada grupo deveria apresentar uma espécie de coreografia para a música infantil “Escravos de Jó”.

A excecução é bem simples para quem estava familiarizado com o ritmo. Ao ritmo da música, e seguindo as instruções da letra, uma caneta deve ser passada de uma carteira para a outra em uma coreografia que exigia, como numa banda (ou numa orquestra), sincronia e harmonia.

Cada grupo tinha 20 minutos para exercitar a coreografia e apresentá-la de três modos: cantando a música em voz alta, marcando o ritmo com sons anasalados e, por fim, sem marcação sonora nenhuma, apenas os movimentos. O grupo adversário mostrava-se autoconfiante nos ensaios, executava a coreografia cantada em ritmo acelerado. O nosso grupo, por sua vez, tinha uma pessoa que dizia não conhecer a música e tinha visíveis limitações em acompanhar o ritmo, por mais que nós “ralentássemos” o andamento.

Como esforço concentrado em ajudar a colega em dificuldades, ao final da apresentação, nós nos saímos bem melhor que o grupo adversário. E fiquei pensando (eu que tenho uma filha em idade escolar) o quanto atividades como essas são importantes no desenvolvimento físico e mental de forma muito mais objetiva e prática do que se pode supor o ensino de artes a um tecnocrata ou a um executivo de negócios.

A professora Heliana defende a criação de espaços comunitários para o desenvolvimento de atividades artísticas no bairro. Como o espaço cultural que a UFPA deve construir esse ano para as atividades do Projeto Luamim.

O secretário de cultura observou a boa intenção da delegação paraense dizendo que é assim, promovendo seminários como o que realizamos ontem e que continua hoje, que se constroem políticas públicas, enquanto outros artistas e grupos buscam apoio se dizendo não ser representados por determinados movimentos. Delson afirmou a mesma coisa. A proposição de fixação de índices de investimento na área cultural, inclusive com reservas e índices regionais podem ser proposições da delegação paraense à Pré-Conferência. Bem como a regulamentação do ensino musical nas escolas.


SERVIÇO:
O seminário “Desenvolvimento da Música no Pará” continua hoje a partir das 14h no Teatro Margarida Schivasappa (Centur). Apareça.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Seminário debate o desenvolvimento da Música Paraense

Seminário serve de base para a pré-conferencia setorial que acontece e Brasília até o dia 28 de fevereiro

O seminário “Desenvolvimento da Música Paraense” é organizado pelo Fórum Permanente de Música do Pará (FPM-PA) com o intuito de reunir os delegados eleitos para a Pré-conferencia Setorial de Música e outros agentes e estudiosos que interferem no processo de construção e desenvolvimento da cultura musical e da cadeia produtiva da música paraense. Dessa reunião os delegados deverão sair mais qualificados para o debate nacional e defender propostas que coloquem o Pará e a região Norte definitivamente dentro da Política Nacional de Cultura em nosso segmento.
O debate foi organizado de acordo com orientações do Ministério da Cultural sobre os cinco eixos temáticos propostos para a discussão na Conferência Nacional de Cultural, que será realizada em Brasília no início de março.
Antes da segunda CNC, acontecerá em Brasília a Pré-Conferência Setorial de Música, que deve reunir 81 delegados de todos os estados brasileiros para debater e elaborar propostas à CNC no segmento específico da música. A pré-conferencia é organizada pelo Conselho Nacional de Políticas Culturais (CNPC), órgão que está ligado ao MINC e que mantém os colegiados setoriais em várias áreas (música, dança, teatro etc), órgãos consultivos compostos por integrantes da sociedade civil, inclusive representantes do FPM-PA eleitos em assembléia.
O seminário “Desenvolvimento da Música no Pará” será organizado em dois dias em locais diferentes. No dia 25 de janeiro, segunda-feira, o debate acontece a partir das 14h no auditório do Instituto de Artes do Pará (IAP) e terá duas mesas redondas. Na primeira, o representante do MINC no Pará, Delson Luiz e o Secretario de Estado de Cultura Edilson Moura explicam como funcionam os mecanismos de “Gestão e Institucionalidade da Cultura” em suas esferas (estadual e federal), comentando o assunto com um dos delegados do FPM-PA, o compositor, cantor e empresário Márcio Macedo, com o sub-tema “Fortalecimento da ação do Estado e participação social no campo da Cultura”. Ainda no primeiro dia do Seminário, a pedagoga e cantora Gláfira Lobo, juntamente com a diretora Regional do Programa Mais Educação Luiza Romário; a professora Heliana Evelin (Programa Luamim), Cincinato Marques (Diretor da Câmara Setorial de Lazer, Cultura e Educação) e Juçara Abe (Cultura Ativa) debatem o tema “Música, Educação e Criatividade”.
O segundo dia do seminário acontece no Teatro Margarida Schivasappa, a partir das 14 horas. As mesas serão abertas com o tema “Música, Cidade e Cidadania”, com Nicolau Amador (FPM-PA), Augusto Hijo (Bafafá do Pará), Roberto Pinheiro (Semma) e Preto Michel (NRP). Depois vira a mesa “Economia criativa na música”, com Gláfira Lobo (FPM-PA), João de Deus (Sebrae), Rui Paiva (Pro Rock), Ná Figueredo (Ná Music), DJ Dinho (Tecnobrega). A ultima mesa será “Música e Desenvolvimento Sustentável”, com Nicolau Amador (FPM-PA), Bárbara Andrade (Coletivo Megafônica), Deyse Botelho (Pontão de Cultura de Marabá), Antonio Maciel (Dr. Em Semiótica) e Renée Chalú (Se Rasgum).
A Pré-Conferência Setorial de Música acontece até o dia 28 de fevereiro em data ainda a ser confirmada pelo MINC. Ao final os músicos devem redigir uma Carta de Belém sobre as propostas do estado para a conferência. O seminário é aberto a todos os músicos e profissionais da cadeia produtiva da música interessados na gestão participativa da política nacional de cultura.

PROGRAMAÇÃO

SEGUNDA-FEIRA, 25

1 - GESTÃO E INSTITUCIONALIDADE DA CULTURA

MESA: Representantes regionais do MINC no Pará
Mediador: Nicolau Amador
Delson Luiz (representante do MINC no Pará), Edilson Moura (Secult), Marcio Macedo (MM Produções)


2 - MÚSICA, EDUCAÇÃO E CRIATIVIDADE
Mediador: Gláfira Lobo

Profa. Luiza (diretora Regional do Programa Mais Educação) Heliana Evelin (Programa Luamim) UFPA, Cincinato Marques (Câmaras setoriais), Juçara Abe (Cultura Ativa)


TERÇA-FEIRA, 26 - Teatro Margarida Schivasappa

1 - MÚSICA, CIDADE e CIDADANIA
Mediador: Nicolau Amador
Augusto Hijo (Bafafá do Pará), Roberto Pinheiro (Semma), Preto Michel (NRP), Renato Gusmão (FPM-PA)


2 - ECONOMIA CRIATIVA NA MÚSICA
Mediadora: Gláfira Lobo
MESA: João de Deus (Sebrae), Rui Paiva (Pro Rock), Ná Figueredo (Ná Music), DJ Dinho (Tecnobrega), Nicolau Amador (FPM-PA)

3 - MÚSICA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Mediador: Nicolau Amador
Bárbara Andrade (Coletivo Megafônica), Deyse Botelho (Pontão de Cultura de Marabá), Dr. Antonio Maciel, Carlos Henrique (Secult), Se Rasgun (Renée Chalu)

domingo, 10 de janeiro de 2010

Pela noite

Depois de um tempo fora das baladas, fui ao Bar do Índio no sábado para a festa Black Soul Samba. Primeira vez no novo velho Bar do Índio, que assusta porque fica na entrada da baixada hardcore da Cidade Velha, ao lado da Igreja do Carmo. Mas não teve problema, não. A cidade parece estar mais segura com mais policiais circulando pelas ruas. Uma amiga ficou preocupada com a saída, na hora de tirar o carro estacionado à Praça. Mas foi tranqüilo. “Um amiga me disse era perigoso”, contou.

Quem medo não sai de casa. O perigo está solto. Mas o que se viu na festa foi mais divertido do que assustador. 22h30 quando cheguei. O clima era de bar com mesas em volta do palco onde estavam montadas aparelhagens para discotecagem com CDs, Vinis e MP3. O som forte dos arquivos em wave e os vinis davam um clima de festa mas não cortava a liga do papo gostoso com as meninas.

A festa foi adentrando a noite e as pessoas adentrando o recinto. Nem muito crawdiado, o clima certo. Sergio Darwich me abraçou quando me viu e disse que gosta muito de mim e da minha banda “a despeito de uma matéria que você escreveu sobre o Nó Cego em 2006”. Quando ele disse isso, o HD começou a rodar tentando me lembrar quando eu “falei mal” da banda dele. “Não, você conseguiu descrever com precisão o som do Nó Cego. Mas o mais legal era que você tava bêbado”, disse ele. Alívio. “Vamos armar de tocar juntos, domingo tem show no Caverna.”

Quando os saatanicos Sammliz e Edinho chegaram, eu, LiIly e Thalita já tinhamos nos desvencilhados das cadeiras e o bar virou boate. Samm sorriu, aproveitou a festa para reecontrar amigos e contou que ia estar no dia seguinte no show do Turbo, Ataque Fantasma e Stereocope no Caverna Clube. Eddie esquentava a CDJ, enquanto as pick ups esperavam. O clima tava ficando bom mesmo. E muita gente legal chegou por lá.

Na hora que Alex Pinheiro bombava a pista misturando as cores da black music no nosso imaginário da Música Popular Brasileira com Wilson Simonal, Nação Zumbi, Mutantes, Secos e Molhados e Fellini, encontrei Marcos Sacchi, que elogiou o set do DJ. “Ele é bom! é da velha guarda, é dos melhores”, disse para ele, com vontade de dizer que na verdade Alex é foda. O melhor DJ de Belém.

Quando eu saí de lá pelas quatro e meia da manhã, só lamentava que o Bar do Índio não tivesse um segundo ambiente externo. Talvez um trapiche até bem próximo da baía, para poder captar um pouco da brisa do Guajará. Uma festa sem hype demais e com a medida certa de se divertir com música boa. E foi assim que eu não pude cumprir a promessa de tentar chegar às prévias do Grito Rock, que rolava no mesmo dia.

No dia seguinte, consegui assistir a metade do show do Stereocope no Caverna Clube, depois de perder o Turbo e o Ataque Fantasma. “Agora nós somos uma banda profissional devidamente cadastrada no SEBRAE”, provocaram os meninos depois de terem me visto. Yeaaah. Ao invés de me sentir “provocado”, senti orgulho. O som tava bom e o público também.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Retroprospectiva 2009



Jornalismo cultural
Fora da blogosfera uma das poucas coisas legais que aconteceram em 2009, falando de jornalismo cultural, foram as reportagens publicadas no caderno Você do Diário, sobre o show de 14 anos do Norman Bates e o perfil do cantor, compositor e guitarrista Renato Torres, da banda Clepsidra. Os textos, um não assinado e outro de autoria do Leonardo Fernandes, são ousados e criativos para os padrões mais que caretas que imperam hoje em dia na quase absoluta totalidade das redações de jornais diários. Mesmo os mais descolados colunistas tem textos pobres e caducos, personalizados da pior maneira possível, se vendendo mais do que o tema dos artigos. Nada como a força criativa de jovens repórteres para mexer com isso, e a liberdade dada por editores conscientes como é o caso de Márcia Carvalho, editora do Você. Num jornal movido por interesses políticos partidários, o texto de um jovem repórter sobre uma banda de rock ou sobre um artista pode ser uma das poucas coisas verdadeiras e sinceras de suas páginas.

Nas paradas
A grande novidade nessa área foi também o investimento de Ronaldo Maiorana na franquia de uma das revistas americanas mais importantes do showbusiness. Pegou todo mundo de surpresa quando apareceu nas bancas com o nome de Ronaldo no alto do expediente da revista. Ele, que investe em micaretas e no circuitão da música comercial há anos, pode estar dando uma guinada interessante em seus negócios com a compra da revista. Uma notícia que merece destaque. No Rádio, Beto Fares comemorou 19anos (19 é informação mais precisa do que “quase incontáveis anos”, o básico é, às vezes, também o fundamental) a frente do Balanço do Rock. Na blogosfera, Angelo Cavalcante inaugurou seu blog e contribui para diminuir miopia do jornalismo cultural paraense. O rock paraense bombou no Twitter. Outra grande notícia foi a colaboração do jornalista Sidney Filho ao site gringo Nada Label, que demonstrou grande interesse em divulgar a cena paraense nos EUA. Ana Flor arrenbentou com as fotos muitos artistas paraenses.

Blague S/A
O documentário pos em evidência, junto com o tecnobrega, mais uma vez, o polêmico jornalista paraense Vladimir Cunha (depois da pisada de bola que deu com a Rolling Stone). Odiado pelas bandas de rock do Pará, adorado pelo seu “amigo” DJ Dinho, Vladimir e Gustavo Gondinho fizeram um retrato do mercado do informal no Pará que ganhou as telas Brasil afora. Sensacionalista na medida certa, ora displicente, Brega S/A é um produto de apelo. Misturando a análise sociológica de Lúcio Flávio Pinto e a blague de Paulo Cal como “facilitadores” da narrativa, Brega S/A não se decide entre o “jabá” underground e um autêntico produto de contracultura. Mesmo assim deveria ter sido discutido de melhor forma pela sociedade paraense e pelas autoridades ligadas à indústria fonográfica.

Se Rasgum IV
Foi o ano de consolidação do festival, que depois de muito perrengue e de grandes controvérsias, se ajustou com o patrocínio da Vivo para ter, sem dúvida, uma de suas mais equilibradas programações até agora, um recorte da imensa diversidade musical paraense, junto com os destaques da música independente nacional. Maior festival de “código fechado” do Norte, o Se Rasgum começou a deixar de lado o discurso de projetor de uma “tal” cena paraense e assumiu seu papel de empreendimento comercial. Contraditoriamente, porém, seu CNPJ saiu de uma associação cultural e não de uma empresa comercial. Como o tempo, espera-se, o discurso e pratica se afinam.

Pará Pró Música
Ainda faltam os artistas se assumirem como empreendimentos comerciais e passarem a impor uma postura adequada diante do emergente mercado cultural da cidade. A regulamentação desse mercado pode se dar, este ano, a partir de mobilizações como a do Pará Pro Música. Nascido da articulação do Fórum Paraense de Música Independente e da Associação Pró Rock, o programa finalizou o ano passado em sua fase de diagnóstico e deve entrar em funcionamento em fevereiro. A idéia é fortalecer a cadeia produtiva da música na Região Metropolitana de Belém através de várias ações de fomento e incubação. Pode significar um salto enorme na profissionalização do mercado cultural do Estado.

Bafafá

O manifesto da música autoral paraense chegou a seu segundo ano, e sua quarta edição, realizando uma única mostra esse ano de grande repercussão. No dia 13 de dezembro, 14 bandas se apresentaram na Praça da República e a repercussão ganhou, através da internet, espaço além das fronteiras nacionais e pavimentou o caminho para a consolidação de um projeto de fomento e de mobilização artística nunca visto na história recente da organização cultural paraense. Não se trata de um empreendimento comercial, mas de um projeto de difusão e de democratização do acesso à produção cultural. O Bafafá Pro Rock vira um ponto de cultura em 2010 e vai desenvolver várias atividades, como oficinas, cursos e mais mostras. A Pro Rock também aprovou muitos outros projetos que estarão sendo executados a partir do ponto cultura.

Na Music
O selo Na Music nunca teve tanto lançamento quanto em 2009. Chegaram à loja os discos novos de Malacai, Destruidores de Tóquio, Pedrinho Calado, Felipe Cordeiro, Lia Sophia, Mestre Vieira, Dudu Neves e Paulinho Moura, The Ways e Pio Lobato. O selo Na Figueredo Recors mudou de nome para New Amazonia’s Music e ganhou em seu staff a presença de Patrick Torquato, diretor artístico, e Gláfira Lobo, produção executiva. Apesar da pouca promoção dos discos deste ano, Ná pavimenta o caminho para um 2010 mais prospero. Votos de sucesso e de crescimento empresarial para o padrinho mais querido da música paraense.

Qualidade Virtual
Dois dos melhores lançamentos de 2009 foram virtuais. O EP Croma da banda Ataque Fantasma fez o que nenhum jornalista “autoral” conseguiu ou sequer tentou: a crônica dessa nova geração do rock paraense. Depois de deixar o barco do Suzana Flag antes do lançamento de Souvenir, Elder Effe, juntou-se ao baterista do Norman Bates para turbinar seus hits fáceis e bem tramados com uma levada mais forte. Letras como a de “O Homem Invisível” mostram em versos o que pode acontecer com a cena paraense quando ela é vítima de tanta alienação parental ou da vaidade de seus sujeitos (tão perto mas ninguém vê / distante pra quem ouviu / será o dia incerto / para quem não quer se apagar). Entenda quem tem neurônios para entender. Por dizer a verdade ou se autossabotar de vez em quando, Elder ficou um pouco como seus personagens que ninguém ouviu, ninguém viu e tão pouco percebeu. Mas como bom capricorniano, Elder há de aprender a lição em 2010. Croma foi lançado na internet, assim como o tributo Delinqüente, que trouxe uma justa homenagem à maior banda punk da história do nosso estado. Para baixar no blog do Azul, sempre atuante no meio digital e que promete vir contudo em 2010 com patricínio da Vivo também. O tributo, promovido pelo radialista e produtor Beto Fares, não só expos a banda como revisitou sua obra com grande força criativa. Não é demais dizer que algumas versões como a do grupo Massa Grossa, do Turbo e do ION ficaram tão boas ou melhores que as originais. Eu brinquei dizendo que as releituras expuseram a verve lírica apocalíptica de Jayme Catarro, outro capricorniano teimoso e de destaque em 2009. Sem dúvida o lançamento do ano aqui em nosso estado.


A Euterpia
A notícia triste ficou com o anúncio do fim d'A Euterpia que há quase dois anos radicada em São Paulo não resistiu as pressões e as dificuldades de se manter como uma banda. A boa notícia é que tanto o baterista Carlos Canhão, quanto os vocalistas Marisa Brito e Antonio Novais devem se lançar em projetos solos ou em coletivo, trazendo muito em breve seu talento a público novamente. Marisa participou do DVD de Edgar Scandurra e promete trabalho solo em 2010.


Te comporta, menina!
A festa inaugurou um circuito alternativo de julho em Belém. Aos poucos a temporada com Suzana Flag, La Pupuña e convidados conquistou a platéia do veraneio na cidade, e quem não saiu da mangueirosa até a quinta-feira teve uma ótima opção de divertimento na cidade. Artistas de passagem, como povo do Los Porongas, puderam ver a perfomance de algumas das bandas que bombam cada vez mais pela rede. Belém é uma cidade em que há sempre muito transito nacional e internacional. Não dependemos de grandes eventos somente para ter turistas e o próprio povo em transito pela cidade. A idéia vai seguir mais ou menos por aí neste ano.

Megafônica

O coletivo Megafônica, capitaneado pelas meninas superpoderosas Bahrbara e Kamilla, ganhou rápido destaque na cena local e trouxe a Belém nomes importantes do independente brasileiro contemporâneo como Macaco Bong e Los Porongas. Depois do Congresso Fora do Eixo, que aconteceu em setembro no Acre, Bah assumiu o leme e trouxe o Fora do Eixo para Belém.

MTV Belém

Demorou mas ela voltou. O surgimento da MTV Belém foi outro grande acontecimento do ano. A emissora trouxe espaço na mídia para eventos de pequeno e médio porte e pos as bandas autorais e maior evidência ainda. Este ano, já inaugurou seu primeiro programa local.


Matéria-Prima

Mas os grandes acontecimentos nascem com o elo que inicia a cadeia, aquele sem o qual nada disso seria possível. Os músicos. O Madame Saatan apareceu na Globo e ganhou, entre outros, destaque na Veja Música. Com a publicidade bombando a banda enfrenta o desafio do segundo disco este ano. Enquanto isso, o Stereoscope prepara seu terceiro, segundo pelo Senhor F. Johnny Rockstar grava o primeiro de estúdio e o Aeroplano foi fazer o dele em Goiânia, depois de gravar uma parte do disco de Iva Rothe. Bruno Rabelo e Lázaro Magalhães retomaram os trabalhos musicais depois do fim do Cravo Carbono (ainda inédito). Este ano que passou tivemos Vinil Laranja e La Pupuña em Austin (EUA) e grandes revelações do metal paroara com Anubis e Telviv. Apesar de ter retornado aos palcos, o Norman Bates permaneceu longe do estúdio, perdeu Regi Cavalcante e ganhou Wagner Nugoli, um dos bateristas mais disputados da atual cena roqueira. Pelo menos a banda trouxe consigo o Paulo Ponte Souza. O Suzana Flag trabalhou duro na produção de Souvenir, enquanto fazia releituras pelos bares da cidade. Juca Culatra e o Casarão Floresta Sonora ganharam super destaques também. Coletivo Rádio Cipó estreou na Europa com um show em Londres. Muita gente descobriu o Dharma Burns depois do segundo Bafafá. Andro e Marcelo fundaram The Baudelaires. O Pianuts acabou, surgiu o Dançando no Escuro. O Coisa de Ninguém voltou, o Eletrola também. O Álibi tocou com a Orquestra de Violoncelos e mandou seu disco produzido por Edgar Scandurra pra prensa. Joelma Klaudia e Rafael Lima tiveram boa visibilidade. Cesar Escócio e Walter Freitas revitalizam a ACLIMA. O Clepsidra foi para Goiânia. Boas cantoras foram reveladas, como a Nana, que eu descobri no show em homenagem a Billy Blanco. Amazônia Jazz Band, Trio Manari e Arraial do Pavulagem mantiveram seus destaques já internacionais. O Marcos Puff arrebentou com seu instrumento e deu passos importantes para manter o teatro Waldemar Henrique. Sincera arrebentou em festivais pelo Brasil. O baterista Arthut Kunz se revelou em seu projeto solo. Agora me lembrei que que teve o Circuito Cultural Paraense e os editais da Secult. Vou postar depois sobre isso. Enfim, nessa área foi tanta coisa que é o que nos enche de esperança e nos aguça os sentidos para tomar posição de ataque no ano do Tigre. Um ano de prosperidade.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Retrospectiva pra frente

O ano novo chegou! Então, feliz ano novo! Como todos sabem este blog é atualizado meio preguiçosamente. Mas não é preguiça, não. Só que tenho que mantê-lo em meio a uma série de outras atividades e os posts fazem análise e contextualizam algumas situações. Às vezes, há alguns registros importantes. Outras vezes meus afazeres realmente me impedem de atualizá-lo com mais frequência. Por isso, nós vamos retomar os trabalho em 2010 ainda com uma breve retrospectiva atrasada. Eu sou da opinião que análises atrasadas podem obter uma isenção maior e,logo, podem ser mais eficientes. Então vou falar de alguns lançamentos e isso vai coincidir com algumas novidades, que espero compartilhar com meus leitores muito em breve.
Por hora vale fazer um registro importante. Sidney Filho mais uma vez deu uma dentro, entrevistando Maurílio Kuru Lima, diretor da Cria! Produções, que presta serviços para a empresa de telefonia Vivo. Kuru é um cara muito querido e respeitado no cenário da música independente no Brasil. Desde o projeto Conexão, da antiga Telemig, empresa mineira que foi incorporada pela Vivo. O projeto Conexão Vivo é algo de revolucionário e pode a ajudar a mudar definitivamente o cenário artistico e cultural paraense.
Para isso, porém, é preciso ter alguns cuidados. Mas não custa lembrar o que aconteceu em tempos recentes com outra empresa de telefonia, que já não existe mais. Ela realizou um projeto que tinha tudo para ser o que promete ser hoje o Conexão Vivo, porém, alguns artistas e marketeiros que não estavam interessados em construir um mercado cultural sólido, acabaram levando o projeto e a própria empresa à falência.
Já contei aqui como o boicote desses marketeiros prejudicou drasticamente a carreia de uma das bandas mais promissoras desse estado, a Suzana Flag. Depois de ter sido pré aprovado o projeto dentro da própria operadora, o patrocínio de R$ 50 mil, que poderia ter mudado a história da banda, fugiu entre os dedos depois que os artistas que comandavam os dispositivos de insenção fiscal para a cultura no Estado o boicotaram, simplesmente porque a linha de investimentos da empresa estava mudando, indo em direção a artistas mais jovens, ou que falassem ao público mais jovem.
Para se consolidar como uma empresa de responsabilidade social e cultural no Pará a Vivo deve observar, como o tem feito Kuru, e manter uma linha de patrocínios transparente e coerente. Afinal, não custa lembrar também que além do investimento próprio da empresa (baseado em uma plataforma de compartilhamento de recursos) há investimento de isenção fiscal, que, na verdade, é dinheiro público. Essa transparência e coerência é o que se espera de Kuru. Então, boa sorte na empreitada e que esse projeto se consolidade em 2010 juntamente com a cena forte e promissora que é a da música paraense.