O problema
do Brasil
Uma abordagem político cognitiva
Por Elielton Alves Amador
“O problema do
Brasil são os políticos”. Pensando bem, não, “o problema do Brasil é o povo”. Afirmações
performáticas como estas, que há muito tentam explicar nossos problemas, resumem
a visão rasteira sobre as dificuldades da sociedade brasileira. Afirmações como
estas estão na mesma base radical daquelas que dizem que “bandido bom é bandido
morto”, muito repetida, por exemplo, por deputados policiais com formação
filosófica ou sociológica zero; mas também estão na mesma origem de afirmações
como a que diz que a “classe média é uma aberração cognitiva”, repetidas por
doutores filósofos de carteirinha partidária.
O problema do
Brasil, quando deixarmos de tentar explica-lo de maneira simplista, será muito
mais complexo do que se imagina. Só de pensar, dá preguiça de continuar esse
texto. Coisa de intelectual brasileiro.
Mas o fato é
que o Brasil vive em guerra cognitiva. O Brasil é multipolar. A guerra civil ou
o golpe de estado anunciados no wathsapp podem não ocorrer, mas não duvide. O
que parece também é.
Aldous Huxley teve
uma viagem de ácido e afirmou ter entendido que a droga era uma estratégia da
Rússia para acabar com o “espírito americano”. Tive uma viagem pelas redes
sociais e quase descobri que a droga pode ser uma estratégia dos EUA para
implodir o “espírito brasileiro”.
O Brasil pode
ser multicultural, diverso culturalmente e o caralho a quatro, mas o Brasil não
é o centro do mundo, e precisa se ver como um projeto de nação, que nunca foi. Ou
não, mas precisa se ver em alguma coisa que todos tenham a mínima noção do que
seja. Porque não sendo o centro do mundo, o Brasil precisa ter uma política
internacional. Mas para isso precisa saber o que é sua casa. Mi casa, su casa.
O Lula não é
“burro”. Ele está mais para um “esperto”. Quem passou pelo que ele passou tinha
que desenvolver capacidades cognitivas e persuasivas. Mas ele parece sincero,
desenvolveu um carisma mesmo quando mente. Dilma mente sem carisma. Sem
persuasão, ganha a ojeriza da classe média de baixa cultura e baixa cognição,
que eles não são burros.
Talvez você
diga que a presidenta não mente. Mas a mentira dela consiste em uma meia
verdade mal dita.
O Lula fez o
Brasil crescer explorando a cognição do status
quo. O status quo brasileiro! Sacou
o que o pobre queria e o que o empresário queria. Um queria comer e comprar
geladeira, carro, fogão. O outro queria vender. Durante um tempo isso sustentou
a ilusão de crescimento e desenvolvimento social. Mas a educação (afinal somos agora uma “pátria educadora”) ainda não conseguiu elevar a percepção do povo
brasileiro.
Um homem
educado, é que nem um homem nu, todo vestido por dentro, diz Emicida. É isso! A
riqueza de um povo não está no que ele pode comprar. E uma nação com tanta
diversidade, tanta desigualdade social e econômica, não pode se equilibrar sem
uma guerra entre as classes dominantes e dominadas, mesmo que essa guerra seja
simbólica e virtual.
O pelego não
vai segurar essa onda se o cavaleiro não aliviar o lombo do burrito. Entendeu?!
Ou não entendeu? Como diria um antigo editor meu, “então, vai pensado, quem
sabe um dicionário ajude.”
Uma nação como
o Brasil, já disse Celso Furtado, não pode achar que seu desenvolvimento será
pautado exclusivamente pela ilusão do crescimento econômico. Mas todo dia nos
jornais o “pibinho” do Brasil é achincalhado pelos especialistas de coisa
nenhuma e pelos jornalistas que não entendem nada. Fazem o jogo dos patrões e
só! A comunicação do PT não consegue desconstruir essa ideia. Ou porque acha
que o povo é burro e não vai entender. Ou porque ele mesmo não entende. Entende
somente a lógica empírica, da política desenvolvida por Lula, de alianças e
estratégias de manutenção do poder e do status
quo.
E o PSDB? Bem,
talvez o FHC tenha entendido alguma coisa. Dizem que ele andou dando uns tapas
na pantera preta da marijuana e isso lhe abriu a mente. Mais ninguém mais do
lado dele quis compreender ou compartilhar esse baseado. Aécio só quer saber de
cafungar, deixou a barba crescer pra tentar confundir certas noções de
“esquerda/direita”. Coitado!
E ensinar...?!
Além da preguiça, FHC ainda tem que preservar as vantagens de estar onde esta. E
não preciso dizer mais nada. Ou preciso?!
Tem saída?
Não. Não em um partido. As pessoas têm que se olhar no olho e conversar, ir à
aula, ao trabalho... e conversar. Ler um livro e pautar a televisão e os
jornais. Com seus problemas reais e os problemas comuns. Para entender o
problema comum tem que ter comunicação! É pra isso que serve! Não pra mascarar
o interesse de uns.
Tem que limpar
a calçada e ligar para o prefeito cobrando. Não interessa se ele é do seu
partido ou se ele emprega a sua sobrinha, que não estudou, e não conseguiria,
por mérito próprio, nem um estágio na iniciativa privada, sem QI.
Não sei de
onde virá a solução, mas eu sei que essa virtualização da vida nos tira a
concentração. A gente tem que botar o pé no chão e sentir o território. Se
proteger do frio e da fome, e, ao mesmo tempo, fazer crescer o mundo das ideias
na nossa cabeça. Quem sabe assim o “Brasil” que todos acham grande em suas
“ideias”, em sua “percepção”, seja, enfim, tão grande quanto seu território.
Até lá, muitas batalhas serão travadas. Parece.