A turma do Tributo aos Delinquentes no estacionamento da Funtelpa, depois do programa Balanço do Rock, no sábado passado
“Um tributo Delinqüente” é um dos melhores e mais originais discos no estilo que já escutei em qualquer lugar. Marca o aniversário de 24 anos da banda liderada por Jayme Catarro, 40. Ressalta, além da verve poética apocalíptica do vocalista/letrista da banda mais hardcore de Belém, os importantes dotes de uma das figuras mais importantes do rock paraense.
Não me lembro a primeira vez que vi ou fui apresentado pessoalmente a Beto Fares. Mas lembro que sempre fomos muito bem recebidos nos estúdios do Balanço do Rock, programa da Rádio Cultura FM do Pará, que está no ar há 19 anos, e que tem em Beto Fares a sua figura principal hoje. Lembro que os caras mais descolados da minha turma do rock na escola troçavam do inglês dele, mas todos ouviam o programa no início dos anos 90 com muito entusiasmo e freqüência. Foi assim que aprendemos a admirar figuras que depois vieram a ser nossos amigos e colegas de prof(c)issão, como Giovani Villacorta (Baby Loyds), Jayme Catarro (Delinquentes), Cláudio Figueredo (Tribo), entre tantos outros.
Beto simpatizou com o Norman Bates de cara, sempre foi um defensor do nosso som, tanto que é quase como um sexto integrante da banda.
Num meio onde as vaidades inflamam os egos e acendem fogueiras que se apagam no primeiro inverno, Beto tem a qualidade maior da simplicidade e da honestidade. Foi assim enquanto esteve na direção da rádio. Como ele disse no último programa, “a minha panela tem pouco feijão, mas eu sempre divido”. E sempre foi assim, mesmo, independente dos governos que tenham passado e ocupado a direção da Fundação de Telecomunicações do Pará (Funtelpa), que responde pela rádio e TV Cultura no Pará.
Beto tem a vantagem maior de não ser artista e não querer ser o que não é. Não precisa se “vender” como a maioria de nós. Essa “capa” que vestimos como se fosse um uniforme obrigatório do nosso trabalho, e que acaba por esconder nossos objetivos, os mais nobres e os piores. Infelizmente, o meio artístico está cheio daqueles e de outros. Não fosse assim, e pessoas como Beto Fares teriam o reconhecimento que merecem há mais tempo.
O teve de forma enviesada quando Faustão o chamou na TV pelo nome, com intimidade, como se o conhecesse de longa data, “Grande, Beto Soares”. Fausto Silva errou o nome, mas poderia ter feito justiça também a outro importante parceiro de Beto, o Toni. Mas a TV não vai fazer a justiça correta que ambos merecem. Aqui, eu faço a minha parte a respeito de Beto.
Era para ser uma entrevista sobre o tributo aos Delinqüentes, que também completam aniversário este ano. Mas virou mais que isso. Nosso papo demorou três consideravelmente longas sessões no MSN. Mesmo doente e atarefado, fiz questão de editar a primeira parte hoje, dia do lançamento digital do tributo. Confira no Portal Cultura o programa que vai ao ar todos os sábados na 97,3 FM. E baixa aqui no Blog do Azul.
Nicolau: Quando surgiu a ideia de fazer o tributo aos Delinquentes e como foi?
Beto: Cara, a idéia não é nova, inclusive não fui o único a pensar nisso. Sei que o Luciano, do Tennebrys também tava com vontade de fazer. Aí, a gente resolveu fazer agora porque era um bom gancho pra comemorar o aniversário do Balanço do Rock e da banda. Eu, Ulisses Moreira e Regina Silva estávamos tentando fazer um aniversário com um registro, já que 19 anos (do Balanço) significa ano 20. Queríamos marcar.
Pois é, já se vão quase 20 anos. Fala um pouco de como começou o programa.
Aqui na radio tinha o programa Rock da Silva. Que por motivos rocker (rsrsrs), foi tirado da grade. O (jornalista) Felipe Gillet logo pensou em fazer um novo programa. Ele trabalhava aqui, na TV Cultura, e falou com o Marcelo Ferreira, programador musical da radio na época. Eles formataram uma série de 12 programas pra contar a história do rock até os anos 1980. Eu fui convidado pra fazer o roteiro musical. O Marcelo e o Felipe fariam o levantamento histórico. Fechada a ideia, o projeto foi levado pra direção da rádio que aprovou. Isso foi no primeiro semestre de 1990. Na volta das ferias o programa entrou no ar. Aos poucos foi criando uma audiência bem relevante.
Como foi que tu assumiste o programa?
Pois bem, o Edgar Augusto assumiu a diretoria da rádio e me passou para produção da radio. Era uma promoção, porque eu era discotecário. Na produção, ele me passou o programa. Fiquei com a direção e produção. Aí, resolvi mudar o formato de contador de história pra comentários. Tipo os programas da BBC. O programa já tinha uma boa audiência. Por conta disso, abrimos uma sessão só para pedidos. Foi aí que a porca torceu o rabo. A maioria dos pedidos eram de bandas locais, que nem música gravada tinham.
Foi aí que o programa passou a interferir diretamente na cena local...
Pois é, em 1993, resolvi reformatar o programa. Solicitei pautas de estúdio para o programa. A idéia era gravarmos as músicas pedidas pra podermos atender as pessoas e ajudar as bandas. Para não virar farofa. A gente ia no show ver se a banda merecia mesmo ser gravada - merecia no sentido de que se eles eram uma banda autoral, se tocavam direito, e se estavam dentro das linhas editorias do programa. Esse é o aspecto, que no meu entender, deu essa longevidade pro programa. Quem mantém a audiência do Balanço do Rock é o som local.
Pô, o programa gravou muitas bandas...
Cara, muitas. Nem sei quantas. Gravamos o DNA, Jolly Jocker, uma banda do Pesão que não lembro o nome. Isso foi bacana. Essa banda do Pesão precisava de uma gravação pra mostrar para um gringo que tinha um iate. Ele queria uma banda de rock pra tocar numa excursão. Ai, o Pesão veio aqui pedir esse socorro. Foi na hora q topamos ajudar. E não é que o cara ganhou a vaga e foi na excursão marítima tocando. Rsrsrs. Gravamos o Solano Star, Tribo, Orador, Retaliatory, Norman Bates…
Yeaahh!
Na verdade, desde que começamos a gravar, sempre a geração vigente termina passando pelo Balanço, por isso é difícil enumerar. O bom disso é o convívio direto com a música da cidade. Cara, esse papo do Balanço foi tão forte que o projeto saiu dos âmbitos do programa e foi criado um núcleo de produção na rádio só pra fazer isso. Eu, Assis Figueredo e Heraldo Pereira, no caso
Para quê? Gravar as bandas?
Nós passamos a ter uma pauta semanal pra gravar. Daí, fizemos a primeira gravação do Arraial do Pavulagem. O Ronaldo silva não lembra mas, som, fomos padrinho dessa bagaça. Gravamos o Adelbert Carneiro, a Iva Rothe, Dayse Addario, Nei Conceição, e por ai foi Era uma versão replicada do Bdor. O Bdor tinha basicamente uma musica inédita e exclusiva por programa. A radio tinha uma música inédita e exclusiva por semana. Foi nessa que aprendi alguma coisa sobre produção musical.
E como você começou a gravar os discos valendo?
Bom, isso já foi mais na frente. Tínhamos feito umas gravações do folclore do Pará para um programa que foi proposto para grade de programação da rádio. Começamos a mapear essas coisas. Gravamos vários grupos de boi-bumbá. Com as gravações o Toni Soares propôs para o Nélio Palheta, então presidente da Funtelpa, pra fazer um CD. Ele topou. Então, foi criado o selo Paraenssíssima. O primeiro cd foi o do Vavá da Matinha. Um CD de resgate. Depois o Belém dos bumbas, Carimbó de Vigia. Antes do selo, fizemos produções de disco com Delinquentes e Norman Bates. Mas isso era parceria. Não foram discos lançados pelo selo, foram gravados por nós e lançados pelas bandas em parceria como Na Figueredo.
Mas teve o “Container”, que era uma coletânea que nunca chegou a sair em CD. Lembro que duas músicas do Norman Bates dessa coletânea entraram no nosso primeiro disco.
O Container foi o um projeto Conceitual. A gente queria chamar a atenção para uma nova audiência no Balanço. Eu acompanhava o circuito na época e via muita banda nova já com características novas, aquela coisa dos anos 90 mesmo. As bandas que estavam vigentes eram muito oitentistas ou banda de metal, no Container, além do Norman Bates, tinha o Carmina Burana, Mangabezo, Niko Demo, Delinqüentes e Cravo Carbono.
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5 comentários:
Égua, muito boa a entrevista. Porra, muito boa!
Eras, que legal. Não sabia que vocês eram assim tão íntimos. Bacana.
Obrigado, Didi. Acho importnate a gente divulgar a nossa história e ressaltar a importância de pessoas fundamentais como o Beto. Espero que as outras partes fiquem tão boas quanto esta. Obrigado pela sua preseça frequente aqui.
Abs.
O nome da banda do pesão era: "The Green hell angels"
Ricardo Ramones
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