Pará Pro Música
Havia mais de um ano que um grupo de pessoas mais assíduas tentava reestruturar a Associação Pro Rock, nascida em 2004 e, por um ano e meio, atuante na cidade de Belém. Foi em janeiro ou fevereiro de 2008 que o cantor e compositor Paulo Martins, o Luamim, pediu minha adesão ao manifesto do movimento Bafafá do Pará. Li e achei que era uma boa oportunidade de agregar os músicos paraenses em torno de um projeto estruturante.
Em 13 de julho daquele mesmo ano se concretizava uma parceria que envolvia ainda o selo Ná Music e a Dançum Se Rasgum (registrado o início da parceria aqui, no blog). Como o Fórum Permanente de Música tivesse se dissolvido, se dispersado, depois que se encerraram as reuniões da Câmara Setorial de Música promovidas pela Funarte até 2006, propomos a criação do Fórum Paraense de Música Independente, mais voltado para as preocupações dos artistas e produtores que, de certa forma, naquele momento estavam ligados por uma rede.
A idéia era pleitear ações públicas em favor do desenvolvimento da cadeia produtiva da música para gerar trabalho honesto e digno, interagindo com a sociedade, justificando o investimento de dinheiro publico com a apresentação do potencial econômico e social da música paraense, além de seu talento e diversidade.
O Programa de Ações Integradas do Fórum Paraense de Música Independente ia custar R$ 260 mil e realizar três grandes eventos, dois deles em praça pública, ia ajudar a prensar seis discos que estavam quase prontos mas por falta de poucos recursos não saiam (alguns deles não saíram até hoje) e ajudar a realizar a terceira edição do festival Se Rasgum, que enfrentava sérias dificuldades e corria risco de não se realizar naquele ano.
Pedimos ajuda à Secult, que repassou para o programa apenas R$ 13 mil. A Se Rasgum pleiteou mais por fora e conseguiu mais R$ 15 mil só para o festival. Mas quem receberia o recurso seria a própria Pro Rock. No entendimento do controle interno da Secult, porém, gerar dois processos para a realização do mesmo programa ou para ações já previstas no programa não era legal. R$ 15 mil se foram por água abaixo. Ao cobrar em nome dos colegas da Pro Rock e do Bafafá mais visibilidade para a marca do movimento no festival, numa infeliz coincindência com o revés, fui acusado de agir de má fé, supostamente sabendo com antecedencia que o festival seria prejudicado.
Olhando de hoje, observo certa ingenuidade misturada com a falta de presteza gerencial, ansiedade, passionalidade, vaidade (sempre ela) que acabaram por provocar essa situação bizarra. Porém, a inexperiência de gestão da própria Pro Rock não me permitia saber do desastre com antecedência. Jamais provocaria conscientemente uma condição que prejudicasse, por exemplo, a sanidade fiscal da associação ou que prejudicasse os parceiros, mesmo eles tendo ido negociar recursos por influências pessoais no Governo. Quem me conhece sabe disso.
As diferenças estão sendo superadas como as dificuldades, consolidação de algumas políticas, além do mais do que necessário amadurecimento das partes, inclusive gerencial. E o mais produtivo de tudo é que dois anos de discussão e estudos e análises de conjuntura da música independente e da música comercial brasileiras resultaram em um modelo de programa de fomento da cadeia produtiva. Esse programa está hoje encampado pelo SEBRAE-PA e chama-se Pará Pró Música.
A ação integrada entre o SEBRAE e os empreendedores da música paraense deve gerar um programa de referência nacional. Aderido também pela Se Rasgum, que já incluiu na semana de profissionalização deste ano a apresentação do Programa, o programa já provoca um Bafafá em outros estados através da sua divulgação informal no Fórum Nacional de Música.
O programa tem como base a inclusão do músico paraense no mercado digital, através da afirmação no mercado de um portal da música paraense, abastecido de conteúdo livre e pago, de redes sociais, de uma agência de notícias e de uma interface de negócios digitais, que deve ser gerido por uma cooperativa – modelo de negocios que também cresce em outros estados como Minas Gerais, São Paulo, Espírito Santo e Maceió.
Ao longo de três anos, a consolidação dessa plataforma digital seria incubada através da formação e qualificação de músicos, produtores e gestores em todas as áreas necessárias ao desenvolvimento. Além de ações de promoção da música paraense como criação de feiras de música, cursos de produção musical, a manutenção de um calendário de eventos importantes, como o Se Rasgum, o Bafafá e outros.
Interagindo com as redes nacional e internacional, o programa, se for bem desempenhado, vai dinamizar a produção artística já profissional e vai preparar os que ainda carecem da profissionalização, promovendo sua inclusão no mercado emergente.
David McLoughlin, o americano que vende música brasileira para o exterior através da BM&A, me disse na semana retrasada durante a Feira da Música do Sul que a música paraense esta pronta para “estourar” e fez certa referência ao tecnobrega. Eu diria que o que todo mundo diz sobre a musicalidade do Pará e da Amazônia precisa do suporte do Pará Pró Música e de uma política pública de estado consolidada para acontecer. Como diria o caboco, a gente aqui é que vive, a gente aqui é que sabe. Com a ajuda do conhecimento gerado fora por outras iniciativas pioneiras, podemos criar algo novo.
É nesse embalo que a terceira edição do Bafafá (pro música) acontece no dia 13 de dezembro, com apoio do Governo do Estado, através do SEBRAE-PA e da Secretaria de Estado de Cultura. Os apoios ainda são pequenos mas garantem mais um manifesto pacífico, no qual onde os artistas paraenses integrados ao projeto de construção de um mercado auto sustentável podem pedir a adesão do público paraense, da mídia, da iniciativa privada e dos poderes executivos. É preciso o apoio definitivo a um setor que se mostra promissor e necessário ao desenvolvimento social e econômico da região.
(Você ainda não vê nenhum conexão entre isso e mais e mais jovens sem opção e alternativa jogados pela praça da República aos domingos? Falamos mais sobre isso lá na frente.)
De qualquer forma, esse apoio só virá quando vier também o reconhecimento maior da própria classe artística. Governo nenhum vai investir em um setor que ele mesmo não se valoriza e não se organiza, por maior que seja seu potencial. A participação efetiva de todos os interessados no Pará Pró Música se faz necessária. Atualmente em fase de diagnóstico, cerca de 40 empreendedores entre músicos e produtores de quase todos os estilos já preencheram o questionário de diagnóstico da consultoria do SEBRAE-PA. Bregueiros, roqueiros, MCs e DJs já aderiram ao projeto. Falta o pessoal na música instrumental e da música regional aderir também. É preciso pelo menos mais 20 empreendedores individuais ou coletivos (associações, micro-empresas, coletivos, enfim).
Portanto eu gostaria de convidar a todos para no dia 1º de dezembro, às 15h, participarem da reunião de apresentação e adesão do programa Pará Pro Música. Nos próximos dias apresento aqui mesmo no blog os artistas que vão estar no dia 13 na Praça da República e no Teatro Waldemar Henrique em campanha pela música paraense e pelo Teatro, que ainda precisa de investimentos públicos para se reestruturar.
Nos próximos posts eu conto mais, enquanto trabalho, sobre a mobilização da música no Brasil.
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