quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Retroprospectiva 2009
Jornalismo cultural
Fora da blogosfera uma das poucas coisas legais que aconteceram em 2009, falando de jornalismo cultural, foram as reportagens publicadas no caderno Você do Diário, sobre o show de 14 anos do Norman Bates e o perfil do cantor, compositor e guitarrista Renato Torres, da banda Clepsidra. Os textos, um não assinado e outro de autoria do Leonardo Fernandes, são ousados e criativos para os padrões mais que caretas que imperam hoje em dia na quase absoluta totalidade das redações de jornais diários. Mesmo os mais descolados colunistas tem textos pobres e caducos, personalizados da pior maneira possível, se vendendo mais do que o tema dos artigos. Nada como a força criativa de jovens repórteres para mexer com isso, e a liberdade dada por editores conscientes como é o caso de Márcia Carvalho, editora do Você. Num jornal movido por interesses políticos partidários, o texto de um jovem repórter sobre uma banda de rock ou sobre um artista pode ser uma das poucas coisas verdadeiras e sinceras de suas páginas.
Nas paradas
A grande novidade nessa área foi também o investimento de Ronaldo Maiorana na franquia de uma das revistas americanas mais importantes do showbusiness. Pegou todo mundo de surpresa quando apareceu nas bancas com o nome de Ronaldo no alto do expediente da revista. Ele, que investe em micaretas e no circuitão da música comercial há anos, pode estar dando uma guinada interessante em seus negócios com a compra da revista. Uma notícia que merece destaque. No Rádio, Beto Fares comemorou 19anos (19 é informação mais precisa do que “quase incontáveis anos”, o básico é, às vezes, também o fundamental) a frente do Balanço do Rock. Na blogosfera, Angelo Cavalcante inaugurou seu blog e contribui para diminuir miopia do jornalismo cultural paraense. O rock paraense bombou no Twitter. Outra grande notícia foi a colaboração do jornalista Sidney Filho ao site gringo Nada Label, que demonstrou grande interesse em divulgar a cena paraense nos EUA. Ana Flor arrenbentou com as fotos muitos artistas paraenses.
Blague S/A
O documentário pos em evidência, junto com o tecnobrega, mais uma vez, o polêmico jornalista paraense Vladimir Cunha (depois da pisada de bola que deu com a Rolling Stone). Odiado pelas bandas de rock do Pará, adorado pelo seu “amigo” DJ Dinho, Vladimir e Gustavo Gondinho fizeram um retrato do mercado do informal no Pará que ganhou as telas Brasil afora. Sensacionalista na medida certa, ora displicente, Brega S/A é um produto de apelo. Misturando a análise sociológica de Lúcio Flávio Pinto e a blague de Paulo Cal como “facilitadores” da narrativa, Brega S/A não se decide entre o “jabá” underground e um autêntico produto de contracultura. Mesmo assim deveria ter sido discutido de melhor forma pela sociedade paraense e pelas autoridades ligadas à indústria fonográfica.
Se Rasgum IV
Foi o ano de consolidação do festival, que depois de muito perrengue e de grandes controvérsias, se ajustou com o patrocínio da Vivo para ter, sem dúvida, uma de suas mais equilibradas programações até agora, um recorte da imensa diversidade musical paraense, junto com os destaques da música independente nacional. Maior festival de “código fechado” do Norte, o Se Rasgum começou a deixar de lado o discurso de projetor de uma “tal” cena paraense e assumiu seu papel de empreendimento comercial. Contraditoriamente, porém, seu CNPJ saiu de uma associação cultural e não de uma empresa comercial. Como o tempo, espera-se, o discurso e pratica se afinam.
Pará Pró Música
Ainda faltam os artistas se assumirem como empreendimentos comerciais e passarem a impor uma postura adequada diante do emergente mercado cultural da cidade. A regulamentação desse mercado pode se dar, este ano, a partir de mobilizações como a do Pará Pro Música. Nascido da articulação do Fórum Paraense de Música Independente e da Associação Pró Rock, o programa finalizou o ano passado em sua fase de diagnóstico e deve entrar em funcionamento em fevereiro. A idéia é fortalecer a cadeia produtiva da música na Região Metropolitana de Belém através de várias ações de fomento e incubação. Pode significar um salto enorme na profissionalização do mercado cultural do Estado.
Bafafá
O manifesto da música autoral paraense chegou a seu segundo ano, e sua quarta edição, realizando uma única mostra esse ano de grande repercussão. No dia 13 de dezembro, 14 bandas se apresentaram na Praça da República e a repercussão ganhou, através da internet, espaço além das fronteiras nacionais e pavimentou o caminho para a consolidação de um projeto de fomento e de mobilização artística nunca visto na história recente da organização cultural paraense. Não se trata de um empreendimento comercial, mas de um projeto de difusão e de democratização do acesso à produção cultural. O Bafafá Pro Rock vira um ponto de cultura em 2010 e vai desenvolver várias atividades, como oficinas, cursos e mais mostras. A Pro Rock também aprovou muitos outros projetos que estarão sendo executados a partir do ponto cultura.
Na Music
O selo Na Music nunca teve tanto lançamento quanto em 2009. Chegaram à loja os discos novos de Malacai, Destruidores de Tóquio, Pedrinho Calado, Felipe Cordeiro, Lia Sophia, Mestre Vieira, Dudu Neves e Paulinho Moura, The Ways e Pio Lobato. O selo Na Figueredo Recors mudou de nome para New Amazonia’s Music e ganhou em seu staff a presença de Patrick Torquato, diretor artístico, e Gláfira Lobo, produção executiva. Apesar da pouca promoção dos discos deste ano, Ná pavimenta o caminho para um 2010 mais prospero. Votos de sucesso e de crescimento empresarial para o padrinho mais querido da música paraense.
Qualidade Virtual
Dois dos melhores lançamentos de 2009 foram virtuais. O EP Croma da banda Ataque Fantasma fez o que nenhum jornalista “autoral” conseguiu ou sequer tentou: a crônica dessa nova geração do rock paraense. Depois de deixar o barco do Suzana Flag antes do lançamento de Souvenir, Elder Effe, juntou-se ao baterista do Norman Bates para turbinar seus hits fáceis e bem tramados com uma levada mais forte. Letras como a de “O Homem Invisível” mostram em versos o que pode acontecer com a cena paraense quando ela é vítima de tanta alienação parental ou da vaidade de seus sujeitos (tão perto mas ninguém vê / distante pra quem ouviu / será o dia incerto / para quem não quer se apagar). Entenda quem tem neurônios para entender. Por dizer a verdade ou se autossabotar de vez em quando, Elder ficou um pouco como seus personagens que ninguém ouviu, ninguém viu e tão pouco percebeu. Mas como bom capricorniano, Elder há de aprender a lição em 2010. Croma foi lançado na internet, assim como o tributo Delinqüente, que trouxe uma justa homenagem à maior banda punk da história do nosso estado. Para baixar no blog do Azul, sempre atuante no meio digital e que promete vir contudo em 2010 com patricínio da Vivo também. O tributo, promovido pelo radialista e produtor Beto Fares, não só expos a banda como revisitou sua obra com grande força criativa. Não é demais dizer que algumas versões como a do grupo Massa Grossa, do Turbo e do ION ficaram tão boas ou melhores que as originais. Eu brinquei dizendo que as releituras expuseram a verve lírica apocalíptica de Jayme Catarro, outro capricorniano teimoso e de destaque em 2009. Sem dúvida o lançamento do ano aqui em nosso estado.
A Euterpia
A notícia triste ficou com o anúncio do fim d'A Euterpia que há quase dois anos radicada em São Paulo não resistiu as pressões e as dificuldades de se manter como uma banda. A boa notícia é que tanto o baterista Carlos Canhão, quanto os vocalistas Marisa Brito e Antonio Novais devem se lançar em projetos solos ou em coletivo, trazendo muito em breve seu talento a público novamente. Marisa participou do DVD de Edgar Scandurra e promete trabalho solo em 2010.
Te comporta, menina!
A festa inaugurou um circuito alternativo de julho em Belém. Aos poucos a temporada com Suzana Flag, La Pupuña e convidados conquistou a platéia do veraneio na cidade, e quem não saiu da mangueirosa até a quinta-feira teve uma ótima opção de divertimento na cidade. Artistas de passagem, como povo do Los Porongas, puderam ver a perfomance de algumas das bandas que bombam cada vez mais pela rede. Belém é uma cidade em que há sempre muito transito nacional e internacional. Não dependemos de grandes eventos somente para ter turistas e o próprio povo em transito pela cidade. A idéia vai seguir mais ou menos por aí neste ano.
Megafônica
O coletivo Megafônica, capitaneado pelas meninas superpoderosas Bahrbara e Kamilla, ganhou rápido destaque na cena local e trouxe a Belém nomes importantes do independente brasileiro contemporâneo como Macaco Bong e Los Porongas. Depois do Congresso Fora do Eixo, que aconteceu em setembro no Acre, Bah assumiu o leme e trouxe o Fora do Eixo para Belém.
MTV Belém
Demorou mas ela voltou. O surgimento da MTV Belém foi outro grande acontecimento do ano. A emissora trouxe espaço na mídia para eventos de pequeno e médio porte e pos as bandas autorais e maior evidência ainda. Este ano, já inaugurou seu primeiro programa local.
Matéria-Prima
Mas os grandes acontecimentos nascem com o elo que inicia a cadeia, aquele sem o qual nada disso seria possível. Os músicos. O Madame Saatan apareceu na Globo e ganhou, entre outros, destaque na Veja Música. Com a publicidade bombando a banda enfrenta o desafio do segundo disco este ano. Enquanto isso, o Stereoscope prepara seu terceiro, segundo pelo Senhor F. Johnny Rockstar grava o primeiro de estúdio e o Aeroplano foi fazer o dele em Goiânia, depois de gravar uma parte do disco de Iva Rothe. Bruno Rabelo e Lázaro Magalhães retomaram os trabalhos musicais depois do fim do Cravo Carbono (ainda inédito). Este ano que passou tivemos Vinil Laranja e La Pupuña em Austin (EUA) e grandes revelações do metal paroara com Anubis e Telviv. Apesar de ter retornado aos palcos, o Norman Bates permaneceu longe do estúdio, perdeu Regi Cavalcante e ganhou Wagner Nugoli, um dos bateristas mais disputados da atual cena roqueira. Pelo menos a banda trouxe consigo o Paulo Ponte Souza. O Suzana Flag trabalhou duro na produção de Souvenir, enquanto fazia releituras pelos bares da cidade. Juca Culatra e o Casarão Floresta Sonora ganharam super destaques também. Coletivo Rádio Cipó estreou na Europa com um show em Londres. Muita gente descobriu o Dharma Burns depois do segundo Bafafá. Andro e Marcelo fundaram The Baudelaires. O Pianuts acabou, surgiu o Dançando no Escuro. O Coisa de Ninguém voltou, o Eletrola também. O Álibi tocou com a Orquestra de Violoncelos e mandou seu disco produzido por Edgar Scandurra pra prensa. Joelma Klaudia e Rafael Lima tiveram boa visibilidade. Cesar Escócio e Walter Freitas revitalizam a ACLIMA. O Clepsidra foi para Goiânia. Boas cantoras foram reveladas, como a Nana, que eu descobri no show em homenagem a Billy Blanco. Amazônia Jazz Band, Trio Manari e Arraial do Pavulagem mantiveram seus destaques já internacionais. O Marcos Puff arrebentou com seu instrumento e deu passos importantes para manter o teatro Waldemar Henrique. Sincera arrebentou em festivais pelo Brasil. O baterista Arthut Kunz se revelou em seu projeto solo. Agora me lembrei que que teve o Circuito Cultural Paraense e os editais da Secult. Vou postar depois sobre isso. Enfim, nessa área foi tanta coisa que é o que nos enche de esperança e nos aguça os sentidos para tomar posição de ataque no ano do Tigre. Um ano de prosperidade.
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5 comentários:
Oi Elielton, achei muito boa sua retrospectiva do ano de 2009, realmente foram grandes acontecimentos e grandes conquistas, mas acho que você deixou a desejar ao não falar dos Destruidores de Tóquio, eu comprei o disco deles e achei muito inovador, em minha opinião foi o melhor lançamento do ano na música independente.
Bjs.
Você tem toda a razão, Mariana. Destruidores foi um grande destaque. Eu citei entre os lançamento do Na Music mas merecia até uma resenha exclusiva. Por questões ética, eu não escrevi. Isso tem a ver com o que tenho escrito sobre a necessidade de termos mais jornalistas criticos atuantes em Belém e no Estado. Pessoas serias que possam nos ajudar a levantar a nossa produção que escrevam com responsabilidade, com apuro e com ética, principalmente. Até voltei para escutar de novo o disco. Eu teria pedido uma mixagem com a voz um pouco na frente, talvez isso tivesse chamado mais atenção pro disco, que tem em suas letras um ponto muito forte. DDT é uma das grandes banda do novo rock paraense sem dúvida, sem ressalvas.
Volte sempre.
Bjos.
Na verdade Mariana, o Destruidores de Tóqui é citado sim. Quem não são citados, são os lançamentos da DELINQUENTES (apesar da banda ser citada no Tributo da Cultura)e do VINIL LARANJA. Outra coisa importante e não citada foram os lançamentos dos clipes pela Funtelpa. Pelo menos 3 trampos ficaram muito bacanas (Turbo, Vinil Laranja e da própria Delinquentes) e infelizmente injustiçadas por este ano não ter o tido o Prêmio Ná Figueredo de videoclipes. Mas sei que é quase impossível se lembrar de tudo, por isso venho aqui dar essa "forcinha" extra à essa retrospectiva.
Muito obrigado, seu Jayme. Fiz um esforço grande, mas não podia ter esquecido o disco.Na verdade acho que isso tava implicito (só pra mim mesmo, bem lá dentro do meu cerebro somente) quando disse que tu eras mais um capricorniano de destaque. Ou seja, é INJUSTIFICÁVEL. Desculpa. Ainda bem que a internet, usada por pessoas com cérebro, pode nos proporcionar esse espaço mais interativo que não é mais o espaço de informar ou ser informado, é algo mais...enfim, é promover o debate.
E os clipes foram muito bem lembrados pelo Jayme também.
Outra informação importante que trazes é o fato de não ter tido premio Ná Figueredo esse ano? com tanta efervescencia, o premio deveria estar bombando! uma entressafra?! não conseguiram captar? (rs)
Pois é. Justamente o ano em que mais sairam clipes locais, acredito eu, e não teve. A concorrencia ia ser acirrada, tamanho o grau de clipes bons saindo.
Até cheguei à perguntar para algumas pessoas envolvidas, mas não entendi bem a resposta. Acredito que tenha havido uma dissolução (ou racha) ou algo assim daquele grupo de cinema. Taí um bom assunto para pesquisares prum possível tópico.
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