Depois de longa negociação e lavagem interna de roupa suja, a Dançum Se Rasgum Produciones e a Associação Pro Rock fecharam uma parceria inédita e, eu ousaria dizer, histórica para a música paraense. A DSRP se junta à Pro Rock, ao selo Ná Music e ao Movimento Bafafá do Pará num passo decisivo para a criaçao do Forum Paraense de Música Independente, que já tem até data para pré-lançamento. Vai ser no dia 13 de julho, Dia do Rock, com a primeira edição do Bafafá Pro Rock. O local, público, está sendo definido, provavelmente a Praça da República. Várias bandas vão se apresentar. Vamos definir a programação amanhã. Então, eu trago novidades.
Adianto que seminários, mostras artísticas e o festival Se Rasgum vão acontecer como ações integradas este ano do FPMI. O festival também vai ter um "Palco Pro Rock", onde será definido o espaço rock do evento, este ano aberto a várias linguagens artísticas.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Nordestino paraense 2
Aprendi mais sobre Ary Lobo. A começar pela grafia correta do nome artístico do cantor e compositor paraense. É com "y" e não com "i" como foi postado anteriormente. Ele nasceu em 1930 e foi batizado Gabriel Eusébio dos Santos Lobo. Saiu de Belém para afirmar-se nacionalmente (nas décadas de 50/60) a partir do Rio de Janeiro. O nome "americanizado" era quase uma concessão inevitável ao sucesso naquela época.
Os discos prometidos pelo titã Charles Gavin foram, sim, lançados, pela Sony/BMG. São cinco e você dificilmente vai encontrá-los em Belém. Mas pode pedir pela internet na Livraria Cultura, por indicação de Cincinato. Allan, também do Quaderna, dá mais dicas no comentário do post anterior. Obrigado aos dois pela apresentação de sábado e pelo CD do Quaderna que ganhei, que vem com um libreto farto de informações sobre a migração nordestina para a Amazônia.
De acordo com o Dicionário da MPB, citado no encarte do CD, Ary Lobo é precursor do "Manguebeat", com a gravação de "Vendedor de Caranguejo", de Gordurinha. Sabe qual é?! Gilberto Gil já regravou e diz assim:
Caranguejo-uçá
Caranguejo uçá
Apanho ele na lama
E ponho no meu caçuá
...
Foto do blog Forró em Vinil.
Caranguejo-uçá
Caranguejo uçá
Apanho ele na lama
E ponho no meu caçuá
...
Foto do blog Forró em Vinil.
Elas
Post em homenagem às minhas amigas Sammliz e Marisa Brito, que estão em Sampa. Saudades. As duas foram mui importantes em um momento difícil. Grandes amigas, grandes pequenas cantoras. Essa foto foi feita em 2003, eu acho. Eu trabalhava na Secretaria Estadual de Educação, e fiz essa foto com uma Mavica que salvava as fotos em disquete, em baixa resolução. Foi depois do trabalho, quando fui assistir ao show "Elas", em homenagem ao dia da mulher, no Teatro da Estação Gasômetro.
sábado, 28 de junho de 2008
Cirurgia pop de poesia
O poema postado abaixo foi musicado por Vitor Ramil e gravado pela primeira vez em "Longes", de 2004. A canção foi regravada no álbum mais recente do compositor gaúcho, o imediantamente posterior "Satolep - SambaTown" (em parceria com o percussionista Marcos Suzano), lançado no ano passado pelo selo MPB da Universal Music. Foi o primeiro disco do cantor distribuído por uma major desde 1987, quando saiu "Tango", pela EMI.
Vitor Ramil estreou aos 18 anos em 1981 com "Estrela, estrela" (Polygram), cuja faixa título foi um grande sucesso e teve até hoje várias regravações, de Gal Costa, ainda nos anos 80, a Maria Rita, neste século. Antes de "Tango", seu terceiro e talvez mais cultuado disco (principalmente pela versão dylanesca Joquim e pela militante Loucos de Cara), ele ainda lançou "A Paixão de V segundo ele próprio" (Som Livre/RBS, 1984).
Depois de 1987, Vitor sumiu de vista do Grande Brasil e, fixando residência no Rio de Janeiro, se dedicou a shows e sabe-se mais a quê. Talvez ao amadurecimento de sua literatura. Atravessou um período de transição econômica e deve ter sofrido as agruras do mercado. Só voltou a lançar disco em 1995, oito anos depois. "À beça" saiu encartado na revista Capacete, de Porto Alegre, ao mesmo tempo em que ele lançava-se na litaratura com "Pequod". O disco tornou-se logo conhecido dos cultuadores de Vitor mas teve somente 3 mil cópias lançadas. A master dele foi perdida, impossibilitando assim seu relançamento.
"À beça" externou os primeiros estudos do que o compositor viria a definir como "Estética do frio". Voltou-se do centro econômico do País, onde certamente enfrentou dificuldades para afirmar sua arte rebuscada para os padrões comerciais, para o Sul, e iniciou sua transição para a gerência de seus negócios artísticos de forma independente. O disco posterior, "Ramilonga" (1997), já saiu com a marca do selo independente Satolep Discos, referência anagramática a sua cidade natal, Pelotas, contida já no disco de 1981.
"Ramilonga" reverencia a cultura regional riograndense e sai financiado pelo Fumproarte, da prefeitura de Porto Alegre. Foi também o último disco, numa série ininterrupta, que traz sua aura de "obra-de-arte pop contemporânea" imaculada (se é que se pode ter tal definição como algo imaculado!!).
"Tambog", de 2000, traz regravações dos discos "Estrela, estrela" e "À beça" juntamente com músicas inéditas. Ainda que seja um disco de unidade conceitual como todos os de Vitor, ele traz essa característica marcada fortemente pelo marketing: tornar públicas canções marcantes tanto para a trajetória do artista quando para seu público. Dos três primeiros discos de Vitor por gravadoras grandes, os direitos autorais de dois deles ("Tango" e "A Paixão de V...") foram recuperados pelo artista e relançados pelo selo Satolep Discos. Mas "Estrela, estrela" continua inédito em CD até hoje. E "À beça" não pode ser relançado porque, como eu disse, se perdeu. "Eu não poderia deixar para trás uma canção como 'À beça', que é tão importante na minha produção e define minha arte", disse Vitor a mim por ocasião do lançamento de Tambong em Belém, anos atrás quando eu era repórter de O Liberal.
"Longes", lançado em 2004, retoma o conceito e a pureza da obra única, apenas com músicas inéditas. O belíssimo disco traz a primeira versão de "A word is dead", de apenas 45 segundos; reforça a estética do frio com canções de melancólia serena; reverencia e contradiz Chico Buarque em "De Banda" e aproxima mais uma vez a música da literatura.
Com Satolep - SambaTown, Vitor volta a pender para o lado pop novamente, regravando canções com a levada rítmica de Marcos Suzano, que se tornou quase uma grife na MPB pop de Lenine e Paulinho Moska. Há uma estratégia clara nisso: o primeiro disco distribuído por uma multinacional tem muito mais condições de popularizar músicas marcantes e provocar a curiosidade dos neófitos sobre a discografia anterior do compositor. "A ilusão da casa" (inédita de Tambong) e "Café da Manhã" (de À beça) estão no disco em versões mais palatáveis. "A word is dead" deixou de ser uma vinheta poética de impacto certeiro ao ouvido treinado apenas para se tornar quase um refrão de 1:30 minuto, fácil de cantarolar e decorar já na repetição dos versos.
Vitor segue assim em sua fase independente: alternando obras complexas e densas com lançamentos um pouco mais comerciais, aproveitando o máximo de sua rica produção. O faz de maneira justa e honesta pois seu texto é superior a quase tudo que se encontra no mainstream da MPB contemporânea, que lança a cada ano grandes projetos caça-níqueis, de Maria Rita a Seu Jorge. Transformar a profundidade cirurgica de Emily Dickson em algo pop é, no mínimo, admirável.
Vitor Ramil estreou aos 18 anos em 1981 com "Estrela, estrela" (Polygram), cuja faixa título foi um grande sucesso e teve até hoje várias regravações, de Gal Costa, ainda nos anos 80, a Maria Rita, neste século. Antes de "Tango", seu terceiro e talvez mais cultuado disco (principalmente pela versão dylanesca Joquim e pela militante Loucos de Cara), ele ainda lançou "A Paixão de V segundo ele próprio" (Som Livre/RBS, 1984).
Depois de 1987, Vitor sumiu de vista do Grande Brasil e, fixando residência no Rio de Janeiro, se dedicou a shows e sabe-se mais a quê. Talvez ao amadurecimento de sua literatura. Atravessou um período de transição econômica e deve ter sofrido as agruras do mercado. Só voltou a lançar disco em 1995, oito anos depois. "À beça" saiu encartado na revista Capacete, de Porto Alegre, ao mesmo tempo em que ele lançava-se na litaratura com "Pequod". O disco tornou-se logo conhecido dos cultuadores de Vitor mas teve somente 3 mil cópias lançadas. A master dele foi perdida, impossibilitando assim seu relançamento.
"À beça" externou os primeiros estudos do que o compositor viria a definir como "Estética do frio". Voltou-se do centro econômico do País, onde certamente enfrentou dificuldades para afirmar sua arte rebuscada para os padrões comerciais, para o Sul, e iniciou sua transição para a gerência de seus negócios artísticos de forma independente. O disco posterior, "Ramilonga" (1997), já saiu com a marca do selo independente Satolep Discos, referência anagramática a sua cidade natal, Pelotas, contida já no disco de 1981.
"Ramilonga" reverencia a cultura regional riograndense e sai financiado pelo Fumproarte, da prefeitura de Porto Alegre. Foi também o último disco, numa série ininterrupta, que traz sua aura de "obra-de-arte pop contemporânea" imaculada (se é que se pode ter tal definição como algo imaculado!!).
"Tambog", de 2000, traz regravações dos discos "Estrela, estrela" e "À beça" juntamente com músicas inéditas. Ainda que seja um disco de unidade conceitual como todos os de Vitor, ele traz essa característica marcada fortemente pelo marketing: tornar públicas canções marcantes tanto para a trajetória do artista quando para seu público. Dos três primeiros discos de Vitor por gravadoras grandes, os direitos autorais de dois deles ("Tango" e "A Paixão de V...") foram recuperados pelo artista e relançados pelo selo Satolep Discos. Mas "Estrela, estrela" continua inédito em CD até hoje. E "À beça" não pode ser relançado porque, como eu disse, se perdeu. "Eu não poderia deixar para trás uma canção como 'À beça', que é tão importante na minha produção e define minha arte", disse Vitor a mim por ocasião do lançamento de Tambong em Belém, anos atrás quando eu era repórter de O Liberal.
"Longes", lançado em 2004, retoma o conceito e a pureza da obra única, apenas com músicas inéditas. O belíssimo disco traz a primeira versão de "A word is dead", de apenas 45 segundos; reforça a estética do frio com canções de melancólia serena; reverencia e contradiz Chico Buarque em "De Banda" e aproxima mais uma vez a música da literatura.
Com Satolep - SambaTown, Vitor volta a pender para o lado pop novamente, regravando canções com a levada rítmica de Marcos Suzano, que se tornou quase uma grife na MPB pop de Lenine e Paulinho Moska. Há uma estratégia clara nisso: o primeiro disco distribuído por uma multinacional tem muito mais condições de popularizar músicas marcantes e provocar a curiosidade dos neófitos sobre a discografia anterior do compositor. "A ilusão da casa" (inédita de Tambong) e "Café da Manhã" (de À beça) estão no disco em versões mais palatáveis. "A word is dead" deixou de ser uma vinheta poética de impacto certeiro ao ouvido treinado apenas para se tornar quase um refrão de 1:30 minuto, fácil de cantarolar e decorar já na repetição dos versos.
Vitor segue assim em sua fase independente: alternando obras complexas e densas com lançamentos um pouco mais comerciais, aproveitando o máximo de sua rica produção. O faz de maneira justa e honesta pois seu texto é superior a quase tudo que se encontra no mainstream da MPB contemporânea, que lança a cada ano grandes projetos caça-níqueis, de Maria Rita a Seu Jorge. Transformar a profundidade cirurgica de Emily Dickson em algo pop é, no mínimo, admirável.
A word is dead*
A word is dead
When it is said
Some say
I say
It just begins
To live
That day
*Belíssimo poema de Emily Dickson musicado por Vitor Ramil.
Tradução livre: "uma palavra morre / quando é dita / dizem / eu digo que / ela apenas começa / a viver / naquele instante"
When it is said
Some say
I say
It just begins
To live
That day
*Belíssimo poema de Emily Dickson musicado por Vitor Ramil.
Tradução livre: "uma palavra morre / quando é dita / dizem / eu digo que / ela apenas começa / a viver / naquele instante"
terça-feira, 24 de junho de 2008
Ganhou, levou?!
Alex, baixista e um dos vocalistas dos Destruidores de Tóquio, acabou de ligar para dar a boa notícia. A banda paraense de Capanema ficou entre as cinco primeiras mais votadas no concurso de bandas da gravadora independente Peligro e do site Trama Virtual. Agradeço a quem votou motivado pelas solicitações do blog.
Mas, como eu já estou acostumado, toda boa notícia de projeção de uma banda paraense vem seguida de um "porém". Nesse caso, é o fato dos garotos terem que bancar as passagens para São Paulo para participar de uma das festas que vão acontecer durante todas as quintas-feiras de julho na descoladíssima e alternativa casa de shows Milo Garage. Vão ganhar cachê, mas certamente não paga as passagens.
Depois, provavelmente, terão que pagar as passagens para participar do Goiânia Noise. Tem sido sempre assim. Mas, por que tem que ser assim? Os caras ganharam um concurso que serve para promover a publicidade que paga o site! Não seria um gasto fora dos padrões de orçamentos de projetos desse tipo. Mas, enfim, como o DDT não vai mudar isso sozinho, alguém que se habilite a dar o apoio que eles precisam no momento?
Mas, como eu já estou acostumado, toda boa notícia de projeção de uma banda paraense vem seguida de um "porém". Nesse caso, é o fato dos garotos terem que bancar as passagens para São Paulo para participar de uma das festas que vão acontecer durante todas as quintas-feiras de julho na descoladíssima e alternativa casa de shows Milo Garage. Vão ganhar cachê, mas certamente não paga as passagens.
Depois, provavelmente, terão que pagar as passagens para participar do Goiânia Noise. Tem sido sempre assim. Mas, por que tem que ser assim? Os caras ganharam um concurso que serve para promover a publicidade que paga o site! Não seria um gasto fora dos padrões de orçamentos de projetos desse tipo. Mas, enfim, como o DDT não vai mudar isso sozinho, alguém que se habilite a dar o apoio que eles precisam no momento?
Nordestino paraense
Nos anos 1990, os Titãs ficaram muito famosos por suas atividades individuais. Discos solos, participações em filmes. O baterista Charles Gavin ganhou notoriedade por revirar os arquivos da Warner e reconduzir das sombras à luz clássicos ou obscuros discos da música popular brasileira que só haviam saído, até então, em vinil. Foi no início deste século já que trocamos algumas palavras sobre música nos corredores do Yamada TIM Festival (2004). Atencioso, Gavin recebeu o disco do Norman Bates e contou sobre o seu último projeto: relançar seis discos do compositor paraense Ari Lobo.
Foi desconcertante para mim não saber de quem se tratava. Mas o titã não se espantou. “Quase ninguém conhece, tá vendo? Nem você! Mas vão conhecer depois do lançamento desses discos”, disse ele, empolgado com a descoberta.
Naturalmente, fui pesquisar sobre Ari Lobo e escrevi uma reportagem no Diário do Pará, dando em primeira mão a notícia do trabalho do titã. Mas os anos passaram e eu não vi os tais discos. Não sei o que aconteceu. É difícil saber. Podem ter sido lançados sem promoção e com distribuição irregular. Ou o projeto pode ter sido abortado por falta de perspectiva de retorno de vendas, coisa muito comum na indústria. Talvez não valesse a pena recuperar a imagem de um compositor obscuro do Norte do país, que as pessoas achavam que era nordestino pelo cantar.
Fiquei assim: sabendo da existência e um pouco da história de Ari Lobo, mas desconhecendo ainda a música dele. Até na semana retrasada, quando ouvi na Rádio Cultura uma entrevista com os músicos do grupo Quaderna, que, pelo que entendi das palavras de Cincinato Marques, idealizador do projeto, pretende resgatar a influência nordestina na música paraense. O Quaderna interpreta canções de compositores como Ari Lobo e canta suas próprias canções, feitas sob a influência da pesquisa da música popular paraense. O trabalho é muito refinado, com performances vocais belíssimas.
O Quaderna tocou ao vivo na rádio uma ou duas músicas de Ari Lobo. Foi muito pouco, mas mesmo o ouvido menos experimentado pode percerber a riqueza na produção autoral do compositor. Entendi logo o entusiamo do titã.
No final de semana passada, quando os Titãs estiveram tocando no Hangar, em Belém, tentei até entrevistar o baterista para saber o que acontecera com o "Projeto Ari Lobo” e para, talvez, saber o que ele achara do disco do Norman Bates. Depois de me decepcionar um pouco com a performance da banda no palco, minha tentativa de aproximação acabou sendo desmotivada.
Foi desconcertante para mim não saber de quem se tratava. Mas o titã não se espantou. “Quase ninguém conhece, tá vendo? Nem você! Mas vão conhecer depois do lançamento desses discos”, disse ele, empolgado com a descoberta.
Naturalmente, fui pesquisar sobre Ari Lobo e escrevi uma reportagem no Diário do Pará, dando em primeira mão a notícia do trabalho do titã. Mas os anos passaram e eu não vi os tais discos. Não sei o que aconteceu. É difícil saber. Podem ter sido lançados sem promoção e com distribuição irregular. Ou o projeto pode ter sido abortado por falta de perspectiva de retorno de vendas, coisa muito comum na indústria. Talvez não valesse a pena recuperar a imagem de um compositor obscuro do Norte do país, que as pessoas achavam que era nordestino pelo cantar.
Fiquei assim: sabendo da existência e um pouco da história de Ari Lobo, mas desconhecendo ainda a música dele. Até na semana retrasada, quando ouvi na Rádio Cultura uma entrevista com os músicos do grupo Quaderna, que, pelo que entendi das palavras de Cincinato Marques, idealizador do projeto, pretende resgatar a influência nordestina na música paraense. O Quaderna interpreta canções de compositores como Ari Lobo e canta suas próprias canções, feitas sob a influência da pesquisa da música popular paraense. O trabalho é muito refinado, com performances vocais belíssimas.
O Quaderna tocou ao vivo na rádio uma ou duas músicas de Ari Lobo. Foi muito pouco, mas mesmo o ouvido menos experimentado pode percerber a riqueza na produção autoral do compositor. Entendi logo o entusiamo do titã.
No final de semana passada, quando os Titãs estiveram tocando no Hangar, em Belém, tentei até entrevistar o baterista para saber o que acontecera com o "Projeto Ari Lobo” e para, talvez, saber o que ele achara do disco do Norman Bates. Depois de me decepcionar um pouco com a performance da banda no palco, minha tentativa de aproximação acabou sendo desmotivada.
sábado, 21 de junho de 2008
Canditato
Pois é, sou candidato a prefeito. Mas não se preocupem, é de mentirinha. Trabalho da pós-graduação em Comunicação e Política, em que a gente simula um debate com candidatos fictícios em uma eleição fictícia. No nosso caso, estamos trabalhando para eleger o primeiro prefeito de Icoaraci, depois que a Vila foi emancipada (tudo imaginação). Mas por causa do trabalho e da correria fiquei devendo posts esses dias. Há muitas coisas para por em dia. Mas virão. Enquanto isso, eu reafirmo, os Destruidores de Tóquio são matadores e merecem o nosso voto. Votem.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Baixas Cabeça
Superjack desistiu do tributo ao disco Cabeça Dinossauro. Bernie Walbenny preferiu se guardar para o tributo a Lulu Santos, de quem ele é fã confesso. E Azul promete o tributo de Lulu para breve. Na disputa pela vaga de "Estado Violência" estão Ataque Fantasma e Baby Loyds. Outra baixa é do Telaviv que está temporariamente desfalcado de vocalista. Há uma idéia de a banda convidar vocalistas de outras bandas como Giovani (Norman Bates) e Jayme Catarro (Delinquentes) para incrementar a clássica faixa que dá nome ao disco. Mas nada está decidido ainda. A boa notícia é que o I.O.N confirmou sua participação com "O quê".
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Destruidores da Trama Virtual
Foi através do então produtor assistente do Norman Bates, Alex Leal, que conheci os Destruidores de Tóquio. Conterrâneo dos meninos de Capanema, ele me trouxe a primeira demo da banda. Disse, meio displicentemente (acho que Alex faz sempre essa cara blazé para tudo), para eu escutar o material. Nessa época, em 2003, chegavam muitas demos de bandas novas e a minha disposição para ouvi-las também era grande.
“A vaca foi pro brejo” trazia o som tosco do DDT. A banda ainda não era tão entrosada como hoje, e a produção era, claro, a pior possível. Mas percebi que havia algo bom ali. Um humor negro quase refinado e o impulso primitivo de bandas como Stooges e Nirvana eram as coisas mais evidentes. Mesmo com a qualidade ruim, o diferencial autoral dos meninos era maior do que as deficiências que o trabalho apresentava. Melhor que muita coisa que rolava em Belém naquela época. Não tecnicamente, mas, de fato, aquilo que vale a pena no rock.
Foi por isso que os chamei para abrir o show do Norman Bates e do Suzana Flag no Amazon Pub, local que fora antes o Insanu. Não foi fácil para mim fazer o primeiro show dos caras em Belém. O baterista, canhoto, tinha que virar a bateria toda para o lado dele, o que dava um puta trabalho para organizar a passagem de som. E batia muito forte também. Mais do que o necessário. Quebrou o suporte de um dos tambores do Regi (baterista do Norman), o que me deu prejuízo, além de uma grande dor de cabeça por causa do sermão que recebi depois. O público não entenderia o som fácil e teve músico(!) me olhando de lado, dizendo “porra, por que tu trouxeste esses caras para tocar aqui?!”.
Mas nada disso abalou o meu conceito do DDT e minha simpatia pela banda. Depois daquele disco, fiquei ainda mais surpreso quando no ano seguinte saiu mais um e, depois, outro EP. Cada um melhor que o anterior. Um disco por ano. Sempre gravado em casa ou em condições precárias. Sempre lançado em CDR em edição “de autor”, até chegarem ao mais do que amadurecido “Música para suicídio”, também em CDR, mas dessa vez endossado pelo selo de Ná Figueredo.
Hoje, poderia definir o som do DDT como se o Mamonas Assassinas fosse uma banda gaúcha descolada – principalmente no que diz respeito ao humor dos caras, sempre brilhante. Mas é mais do que isso. Nem Mamonas nem banda gaúcha engraçadinha, o humor negro dos Destruidores de Tóquio traz o refinamento do brega clássico e do samba de morro, a profundidade existencial dos quadrinhos de ficção científica, com sotaque de caboclo querendo ser inglês. Putz. Talvez você ache que isso não é nenhum fato digno de elogio, mas é o que ajuda a fazê-los únicos, transcendentais. Não são nada disso e são isso tudo ao mesmo tempo. São subproduto de cultura massificada, sim, mas são muito mais que qualquer produto de vitrine de gravadora.
Se tiver dúvida, ouça “Hipocondria”, hit maior do último disco deles. Versos como
É só você sumir
“A vaca foi pro brejo” trazia o som tosco do DDT. A banda ainda não era tão entrosada como hoje, e a produção era, claro, a pior possível. Mas percebi que havia algo bom ali. Um humor negro quase refinado e o impulso primitivo de bandas como Stooges e Nirvana eram as coisas mais evidentes. Mesmo com a qualidade ruim, o diferencial autoral dos meninos era maior do que as deficiências que o trabalho apresentava. Melhor que muita coisa que rolava em Belém naquela época. Não tecnicamente, mas, de fato, aquilo que vale a pena no rock.
Foi por isso que os chamei para abrir o show do Norman Bates e do Suzana Flag no Amazon Pub, local que fora antes o Insanu. Não foi fácil para mim fazer o primeiro show dos caras em Belém. O baterista, canhoto, tinha que virar a bateria toda para o lado dele, o que dava um puta trabalho para organizar a passagem de som. E batia muito forte também. Mais do que o necessário. Quebrou o suporte de um dos tambores do Regi (baterista do Norman), o que me deu prejuízo, além de uma grande dor de cabeça por causa do sermão que recebi depois. O público não entenderia o som fácil e teve músico(!) me olhando de lado, dizendo “porra, por que tu trouxeste esses caras para tocar aqui?!”.
Mas nada disso abalou o meu conceito do DDT e minha simpatia pela banda. Depois daquele disco, fiquei ainda mais surpreso quando no ano seguinte saiu mais um e, depois, outro EP. Cada um melhor que o anterior. Um disco por ano. Sempre gravado em casa ou em condições precárias. Sempre lançado em CDR em edição “de autor”, até chegarem ao mais do que amadurecido “Música para suicídio”, também em CDR, mas dessa vez endossado pelo selo de Ná Figueredo.
Hoje, poderia definir o som do DDT como se o Mamonas Assassinas fosse uma banda gaúcha descolada – principalmente no que diz respeito ao humor dos caras, sempre brilhante. Mas é mais do que isso. Nem Mamonas nem banda gaúcha engraçadinha, o humor negro dos Destruidores de Tóquio traz o refinamento do brega clássico e do samba de morro, a profundidade existencial dos quadrinhos de ficção científica, com sotaque de caboclo querendo ser inglês. Putz. Talvez você ache que isso não é nenhum fato digno de elogio, mas é o que ajuda a fazê-los únicos, transcendentais. Não são nada disso e são isso tudo ao mesmo tempo. São subproduto de cultura massificada, sim, mas são muito mais que qualquer produto de vitrine de gravadora.
Se tiver dúvida, ouça “Hipocondria”, hit maior do último disco deles. Versos como
É só você sumir
Pro meu sol voltar a brilhar
Mas basta você surgir
Pro céu nublar
E a minha roseira murchar
E a minha roseira murchar
Você nem sabe o mal que me faz
Se sabe já não se importa mais
Minha agonia é você quem faz
Você me deixa doente demais
É só você aparecer
Pro meu tumor voltar a inflamar
Mas se você morrer
Minhas células sadias
Irão festejar
podem parecer puro deboche, mas trazem sentimentos reais, muito comuns, cada vez mais entre colegas de trabalho, vítimas de assédio moral ou de violência sexual. Sabe-se lá. Estamos falando de Capanema, Pará, Amazônia, Brasil. Ademais, são embalados na mais bela melodia pop. São como sintomas de uma febre pós-moderna tardia num corpo que resiste.
É por causa dessas, e de outras, que eles estão entre as 10 finalistas do concurso de bandas do site http://www.tramavirtual.com.br/ concorrendo a uma das cinco vagas para o festival Goiânia Noise. Se você conhece a banda vai lá e vota. Se não conhece, pode votar tranqüilo e depois vá procurar que você não vai se arrepender.
Software livre
Ontem, dia do download, entrevistei Everton Rodrigues, do projeto Casa Brasil e da Associação Software Livre Brasil. Everton está trabalhando há um ano com o pessoal da Associação Brasileira de Festivais Independentes de Música (Abrafim) na produção de um software que cruze informações de produtores de shows, artistas e casas de espetáculos a fim de facilitar e baratear o custo de produções. Conversamos sobre a possibilidade de participação da Pro Rock em evento em Brasília e a provável vinda dele a Belém para o lançamento do Fórum Paraense de Música Independente.
Sobre o “download day”, vale dizer que o movimento internacional de sofware livre quer botar o Firefox 3, lançado ontem pela Mozilla, no Guiness Book como o aplicativo mais baixado do mundo. Sobre as vantagens de usar programas livres, você pode acessar o site da associação: www.softwarelivre.org. Everton prega a "quebra" dos atravessadores entre programadores e empresários e a liberação da propriedade intelectual depois de remunerado o trabalho que o profissional teve no processo de criação. “Com softwares livres você tem acesso aos códigos e pode-se trabalhar novamente em cima do que foi criado, sem que se comece novamente do zero. Desse modo, a gente pode criar tecnologias mais avançadas mais facilmente e socializar esse conhecimento para a evolução das pessoas”, disse ele.
Everton veio a Belém para a preparação do Forum Social Mundial na área de mídia livre e tecnologia.
Sobre o “download day”, vale dizer que o movimento internacional de sofware livre quer botar o Firefox 3, lançado ontem pela Mozilla, no Guiness Book como o aplicativo mais baixado do mundo. Sobre as vantagens de usar programas livres, você pode acessar o site da associação: www.softwarelivre.org. Everton prega a "quebra" dos atravessadores entre programadores e empresários e a liberação da propriedade intelectual depois de remunerado o trabalho que o profissional teve no processo de criação. “Com softwares livres você tem acesso aos códigos e pode-se trabalhar novamente em cima do que foi criado, sem que se comece novamente do zero. Desse modo, a gente pode criar tecnologias mais avançadas mais facilmente e socializar esse conhecimento para a evolução das pessoas”, disse ele.
Everton veio a Belém para a preparação do Forum Social Mundial na área de mídia livre e tecnologia.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Cabeça Dinossauro
O produtor e publicitário Edvaldo Souza, o Azul, teve um "estalo": vai fazer um tributo ao clássico disco dos Titãs só com bandas paraenses. Já está trabalhando na produção. Estão confirmadas as seguintes bandas e suas interpretações:
Telaviv - "Cabeça Dinossauro"
Mostarda na Lagarta - "AA,UU"
Madame Saatan - "Igreja"
Alíbi de Orfeu - "Polícia"
Superjack - "Estado Violência"
Delinquentes - "A Face do Destruidor"
Norman Bates - "Porrada"
Destruidores de Tóquio - "Tô cansado"
Rennegados - "Bichos Escrotos"
A Euterpia - "Família"
Johny Rockstar - "Homem Primata"
Suzana Flag - "Dívidas"
Falta confirmar a faixa "O Quê", com a banda I.O.N . Azul é autor do blog "Música Paraense", que você encontra nos links dos meus blogs favoritos. Em breve, mais informações sobre o projeto, com o qual passo a colaborar.
Telaviv - "Cabeça Dinossauro"
Mostarda na Lagarta - "AA,UU"
Madame Saatan - "Igreja"
Alíbi de Orfeu - "Polícia"
Superjack - "Estado Violência"
Delinquentes - "A Face do Destruidor"
Norman Bates - "Porrada"
Destruidores de Tóquio - "Tô cansado"
Rennegados - "Bichos Escrotos"
A Euterpia - "Família"
Johny Rockstar - "Homem Primata"
Suzana Flag - "Dívidas"
Falta confirmar a faixa "O Quê", com a banda I.O.N . Azul é autor do blog "Música Paraense", que você encontra nos links dos meus blogs favoritos. Em breve, mais informações sobre o projeto, com o qual passo a colaborar.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Exceções louváveis
Ainda que se possa considerar a possibilidade de sucesso comercial de bandas como Madame Saatan e A Euterpia no mainstream brasileiro uma exceção, elas (as bandas) seriam, sim, exceções bem plausíveis, além de louváveis. A julgar pela mediocridade da atual produção artística das grandes gravadoras brasileiras, o sucesso das duas (como de outras que circulam no meio indie) seria como que um tubo de oxigênio para o morimbundo. Claro que o nível de amadurecimento artístico "exigido" pela indústria tem o seu preço a pagar em criatividade e autenticidade, o que não é nada louvável, como tem mostrado a experiência de alguns artistas recentemente alçados do underground ao maintream. Melhor para um equilíbrio seria mesmo o fortalecimento de indústrias alternativas. A propósito, o disco do Madame recebeu três estrelas na edição de junho da Rolling Stone, que nem chegou a Belém ainda.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Entre luz e sombras
Foto de Renato Reis.
O cara que melhor fotografou o "triênio de ouro" do rock paraense. A foto foi uma das mais usadas em jornais nessa fase da banda. Mostra a ingenuidade sorridente de Susanne e as faces fechadas de Daniel e Elder, à esquerda. Cheia de luz e sombras, a fotografia é um retrato também metafórico da situação da banda naquela formação.
Textos explicativos
Em resposta à pergunta "Cadê o Suzana Flag?", seguem textos explicativos.
1º
O Suzana Flag se separou oficialmente no primeiro semestre de 2007. O baixista/vocalista Elder e o guitarrista Daniel Coutinho (ex-Indústria Vital) saíram na fase de mixagem do segundo disco (o primeiro que seria prensado em escala comercial). Juntos formaram o Attack Fantasma, rebatizado Ataque Fantasma. O Johny Rockstar já existia antes. A última apresentação dessa formação foi no primeiro festival Se Rasgum no Rock, em 2006. Foi uma das piores apresentações que já vi da banda ao longo dos pelo menos cinco anos que os acompanho. Talvez a maior parte do público não tenha percebido, mas a mim, parecia que eles queriam se matar um ao outro. Joel e Elder voltaram às boas, meses depois. Houve poucas apresentações com a formação sem o Elder. Numa delas, em Castanhal, Elder tocou e cantou “Contraposto” com a banda, levando fãs castanhalenses ao delírio e aos prantos na platéia.
2º
A separação foi provocada por uma crise interna nada leve, que se agravou ainda mais. A gota d’água talvez tenha sido a sabotagem que a banda sofreu no âmbito do governo estadual, em esferas restritas, que hoje evidenciam, na minha opinião, a fraqueza da política cultural praticada naquele governo. Depois de quase três anos promovendo e produzindo a banda, eu deixei o grupo e continuei com meu trabalho como produtor. Fui, ainda publicamente associado ao Suzana Flag, convidado para um reunião com a diretoria de marketing de uma operadora de celular, onde nos foi dito que gostariam de investir 50 mil reais no próximo disco da banda, bastando para isso vencer a burocracia estatal na aprovação do projeto na Lei Semear. Levei a notícia aos integrantes e me propus a executar o projeto em parceria com Bernie Walbenny, como freelancer. Já tínhamos aprovado duas vezes, em anos anteriores, o mesmo projeto de disco na Lei Semear, mas as cartas venciam sem que conseguíssemos arranjar patrocinadores. Dessa vez, o projeto chegou na gerência da Lei Semear com uma carta de intenção de patrocínio assinada pelo departamento de marketing da operadora. Em qualquer situação isso seria uma garantia de aprovação. Menos naquela. Depois de longa espera, o projeto foi reprovado sem direito a recurso e nós perdemos o patrocínio. Foi um golpe de misericórdia.
Na fase de mixagem do disco, cuja gravação foi executada com total apoio da Funtelpa, Elder saiu da banda e sugeriu que o disco fosse lançado sem ele mas com as músicas dele. Metade das canções eram dele ou cantadas por ele. Sem patrocínio para a prensagem e sem condições de levar aos palcos as canções do Elder (sem ele próprio para cantá-las), Joel Melo, produtor musical do disco, decidiu por suspender o lançamento e sair de cena para se recuperar do baque.
3º
Um grupo de amigos juntou grana para manter o Suzana Flag vivo e comprou um PC e uma placa de áudio profissional para que Joel gravasse as canções que comporia para preencher metade do disco deixada para trás. Foi mais de um ano compondo, arranjando e pré-produzindo o novo disco do Suzana Flag. Cerca de 80% das gravações foram realizadas no quarto do apartamento que ele e Susanne ocupam até hoje em Belém, junto com uma amiga, e vive com o aluguel atrasado. O disco novo mantém o mesmo espírito “faça você mesmo” do Fanzine. Pelo menos a pré-produção dele.
4º
Atualmente, o Suzana Flag é composto por um trio: Joel Melo (guitarras e efeitos), Susanne Melo (voz) e João Ricardo “Ramones” (bateria). A banda deve voltar a fazer shows no segundo semestre com músicos convidados ou definitivamente integrados ao grupo. Isso não está definido ainda. Mas serão shows isolados em eventos específicos, como o Bafafá Pro Rock. O retorno à cena, definitivamente, vai ocorrer depois do lançamento do disco Souvenir, que ainda não tem data marcada. Estamos trabalhando para viabilizar isso (esperamos apoio o do governo que não tivemos em 2006). Voltei para a produção da banda no segundo semestre do ano passado.
1º
O Suzana Flag se separou oficialmente no primeiro semestre de 2007. O baixista/vocalista Elder e o guitarrista Daniel Coutinho (ex-Indústria Vital) saíram na fase de mixagem do segundo disco (o primeiro que seria prensado em escala comercial). Juntos formaram o Attack Fantasma, rebatizado Ataque Fantasma. O Johny Rockstar já existia antes. A última apresentação dessa formação foi no primeiro festival Se Rasgum no Rock, em 2006. Foi uma das piores apresentações que já vi da banda ao longo dos pelo menos cinco anos que os acompanho. Talvez a maior parte do público não tenha percebido, mas a mim, parecia que eles queriam se matar um ao outro. Joel e Elder voltaram às boas, meses depois. Houve poucas apresentações com a formação sem o Elder. Numa delas, em Castanhal, Elder tocou e cantou “Contraposto” com a banda, levando fãs castanhalenses ao delírio e aos prantos na platéia.
2º
A separação foi provocada por uma crise interna nada leve, que se agravou ainda mais. A gota d’água talvez tenha sido a sabotagem que a banda sofreu no âmbito do governo estadual, em esferas restritas, que hoje evidenciam, na minha opinião, a fraqueza da política cultural praticada naquele governo. Depois de quase três anos promovendo e produzindo a banda, eu deixei o grupo e continuei com meu trabalho como produtor. Fui, ainda publicamente associado ao Suzana Flag, convidado para um reunião com a diretoria de marketing de uma operadora de celular, onde nos foi dito que gostariam de investir 50 mil reais no próximo disco da banda, bastando para isso vencer a burocracia estatal na aprovação do projeto na Lei Semear. Levei a notícia aos integrantes e me propus a executar o projeto em parceria com Bernie Walbenny, como freelancer. Já tínhamos aprovado duas vezes, em anos anteriores, o mesmo projeto de disco na Lei Semear, mas as cartas venciam sem que conseguíssemos arranjar patrocinadores. Dessa vez, o projeto chegou na gerência da Lei Semear com uma carta de intenção de patrocínio assinada pelo departamento de marketing da operadora. Em qualquer situação isso seria uma garantia de aprovação. Menos naquela. Depois de longa espera, o projeto foi reprovado sem direito a recurso e nós perdemos o patrocínio. Foi um golpe de misericórdia.
Na fase de mixagem do disco, cuja gravação foi executada com total apoio da Funtelpa, Elder saiu da banda e sugeriu que o disco fosse lançado sem ele mas com as músicas dele. Metade das canções eram dele ou cantadas por ele. Sem patrocínio para a prensagem e sem condições de levar aos palcos as canções do Elder (sem ele próprio para cantá-las), Joel Melo, produtor musical do disco, decidiu por suspender o lançamento e sair de cena para se recuperar do baque.
3º
Um grupo de amigos juntou grana para manter o Suzana Flag vivo e comprou um PC e uma placa de áudio profissional para que Joel gravasse as canções que comporia para preencher metade do disco deixada para trás. Foi mais de um ano compondo, arranjando e pré-produzindo o novo disco do Suzana Flag. Cerca de 80% das gravações foram realizadas no quarto do apartamento que ele e Susanne ocupam até hoje em Belém, junto com uma amiga, e vive com o aluguel atrasado. O disco novo mantém o mesmo espírito “faça você mesmo” do Fanzine. Pelo menos a pré-produção dele.
4º
Atualmente, o Suzana Flag é composto por um trio: Joel Melo (guitarras e efeitos), Susanne Melo (voz) e João Ricardo “Ramones” (bateria). A banda deve voltar a fazer shows no segundo semestre com músicos convidados ou definitivamente integrados ao grupo. Isso não está definido ainda. Mas serão shows isolados em eventos específicos, como o Bafafá Pro Rock. O retorno à cena, definitivamente, vai ocorrer depois do lançamento do disco Souvenir, que ainda não tem data marcada. Estamos trabalhando para viabilizar isso (esperamos apoio o do governo que não tivemos em 2006). Voltei para a produção da banda no segundo semestre do ano passado.
Parabólica
Antes de responder, segue o texto de Ismael Machado, publicado no jornal Diário do Pará, no último dia 6 de junho, na coluna Parabólica. Os colchetes são meus.
Cadê o Suzana Flag?
Acho que foi no final de 2004 ou início de 2005 que ouvi Suzana Flag pela primeira vez. Eles estavam abrindo no Teatro Gasômetro um show do Álibi de Orfeu, que recém voltara a dar as caras. O grupo de Castanhal “engoliu” a atração principal com um pop agridoce que à época só me tinha uma senão: a excessiva timidez da vocalista Suzane [Susanne é o nome correto] no palco. Até falei isso a ela após o show, eu que não conhecia ninguém da banda, mas havia ficado agradavelmente impressionado com aquelas canções.
Adquiri o disco da banda, o Fanzine. Num texto explicativo, Nicolau Amador informava que o CD havia sido gravado em 2002 no quintal da casa do guitarrista Joel Melo em precárias condições técnicas. O assombro com a qualidade da banda só cresceu. Tornei-me uma espécie de fã das canções amorosas do grupo.
No triênio que ainda vai ser considerado daqui a alguns anos como o período mais fértil do rock paraense no início do século (2004/2005/2006), o Suzana Flag foi uma das bandas protagonistas da renascença pop do rock em Belém. Época em que Eletrola e Stereoscope dividiam palcos e que o Euterpia emocionava com “Veneza”. O jornalista Vladimir Cunha, o cara que mais bem sabe escrever sobre o pop paraense, já disse que 2006 foi o “ano que não aconteceu” para o rock paraense, ou seja, o ano em que tudo parecia indicar que a capital paraense seria a “nova Meca para a música pop brasileira”. Foi o que quase aconteceu. O Suzana Flag chegou a ser eleita a banda revelação do ano pelo site especializado ‘London Burning’. Eu mesmo fiz uma matéria para o Globo sobre o rock paraense.
E o que tinha o Suzana Flag de especial? Belas canções e letras adolescentemente dolorosas, que falam de amores perdidos, esperanças tênues e a difícil transição para o mundo adulto. Foi a trilha sonora ideal para a geração “Alta Fidelidade” que lotava as inesquecíveis festas da Se Rasgum no Café com Arte. “Acho frases soltas que juntas não fazem sentido / Em todo caso posso usá-las quando precisar / trago sempre meus cigarros / pra cada passo levo uma canção / pra cada dente uma mentira quando precisar”, diz “Ludo”, a primeira música do disco.
Há “Recreio”, que diz “eu queria te falar dos meus planos / dos lugares que pensei te mostrar / mas só escuto o telefone chamando / e eu estranho não te ver de manhã”.
Mas a melhor do disco é mesmo “Contraposto”, uma das melhores canções já produzidas por uma banda de rock de Belém em qualquer tempo. Parceria inspirada da dupla Elder Fernandes e Joel Melo, a canção vai desfilando uma série de antíteses que é, em essência, uma das melhores representações para um relacionamento em crise, seja ele qual for. “Você prefere os tons mais toscos / se o dia te oferece cor / você só quer um tempo frio, se o tempo pede mais calor / não ir em frente quando se deve ir mais longe / ser tão claro quando te pedem explicação”.
A letra, pungente em alguns momentos, fez com que eu presenciasse uma cena inusitada certa feita em Algodoal. A banda tocava a canção e três meninas ao meu lado choravam copiosamente. Eu nunca vi isso no rock local.
Para completar, a canção traz riffs de guitarra que lembram, e muito, uma canção do New Order, do disco Brotherhood, de 86.
A banda ainda lançaria nos anos seguintes, duas canções maravilhosas: “Sem Você” e “Boas Novas”. Mas Elder sairia da banda e formaria o Johnny Rock Star [a grafia correta do nome da banda é Johny Rockstar]. O Suzana Flag passaria por uma pequena crise, mas seguiria adiante. Só que há pelo menos um ano não ouço sequer ouvir falar da banda. Por isso a pergunta: cadê o Suzana Flag?
Cadê o Suzana Flag?
Acho que foi no final de 2004 ou início de 2005 que ouvi Suzana Flag pela primeira vez. Eles estavam abrindo no Teatro Gasômetro um show do Álibi de Orfeu, que recém voltara a dar as caras. O grupo de Castanhal “engoliu” a atração principal com um pop agridoce que à época só me tinha uma senão: a excessiva timidez da vocalista Suzane [Susanne é o nome correto] no palco. Até falei isso a ela após o show, eu que não conhecia ninguém da banda, mas havia ficado agradavelmente impressionado com aquelas canções.
Adquiri o disco da banda, o Fanzine. Num texto explicativo, Nicolau Amador informava que o CD havia sido gravado em 2002 no quintal da casa do guitarrista Joel Melo em precárias condições técnicas. O assombro com a qualidade da banda só cresceu. Tornei-me uma espécie de fã das canções amorosas do grupo.
No triênio que ainda vai ser considerado daqui a alguns anos como o período mais fértil do rock paraense no início do século (2004/2005/2006), o Suzana Flag foi uma das bandas protagonistas da renascença pop do rock em Belém. Época em que Eletrola e Stereoscope dividiam palcos e que o Euterpia emocionava com “Veneza”. O jornalista Vladimir Cunha, o cara que mais bem sabe escrever sobre o pop paraense, já disse que 2006 foi o “ano que não aconteceu” para o rock paraense, ou seja, o ano em que tudo parecia indicar que a capital paraense seria a “nova Meca para a música pop brasileira”. Foi o que quase aconteceu. O Suzana Flag chegou a ser eleita a banda revelação do ano pelo site especializado ‘London Burning’. Eu mesmo fiz uma matéria para o Globo sobre o rock paraense.
E o que tinha o Suzana Flag de especial? Belas canções e letras adolescentemente dolorosas, que falam de amores perdidos, esperanças tênues e a difícil transição para o mundo adulto. Foi a trilha sonora ideal para a geração “Alta Fidelidade” que lotava as inesquecíveis festas da Se Rasgum no Café com Arte. “Acho frases soltas que juntas não fazem sentido / Em todo caso posso usá-las quando precisar / trago sempre meus cigarros / pra cada passo levo uma canção / pra cada dente uma mentira quando precisar”, diz “Ludo”, a primeira música do disco.
Há “Recreio”, que diz “eu queria te falar dos meus planos / dos lugares que pensei te mostrar / mas só escuto o telefone chamando / e eu estranho não te ver de manhã”.
Mas a melhor do disco é mesmo “Contraposto”, uma das melhores canções já produzidas por uma banda de rock de Belém em qualquer tempo. Parceria inspirada da dupla Elder Fernandes e Joel Melo, a canção vai desfilando uma série de antíteses que é, em essência, uma das melhores representações para um relacionamento em crise, seja ele qual for. “Você prefere os tons mais toscos / se o dia te oferece cor / você só quer um tempo frio, se o tempo pede mais calor / não ir em frente quando se deve ir mais longe / ser tão claro quando te pedem explicação”.
A letra, pungente em alguns momentos, fez com que eu presenciasse uma cena inusitada certa feita em Algodoal. A banda tocava a canção e três meninas ao meu lado choravam copiosamente. Eu nunca vi isso no rock local.
Para completar, a canção traz riffs de guitarra que lembram, e muito, uma canção do New Order, do disco Brotherhood, de 86.
A banda ainda lançaria nos anos seguintes, duas canções maravilhosas: “Sem Você” e “Boas Novas”. Mas Elder sairia da banda e formaria o Johnny Rock Star [a grafia correta do nome da banda é Johny Rockstar]. O Suzana Flag passaria por uma pequena crise, mas seguiria adiante. Só que há pelo menos um ano não ouço sequer ouvir falar da banda. Por isso a pergunta: cadê o Suzana Flag?
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Idéias expostas
Com a publicação da quarta e última parte do artigo "Qualquer bossa...", dedico-me aos desdobramentos que podemos ter a partir das idéias expostas e dos comentários (que não não foram feitos diretamente no blog!!!). Mas, enquanto isso, vamos tratar de assuntos um pouco mais amenos. A próxima série de posts será sobre o Suzana Flag e o disco "Souvenir". Mas vou intercalar com posts mais descontraídos e mais curtos.
Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia
Parte IV
Muito se fala hoje no Pará em integração regional, e é fato que as idéias separatistas ganham terreno fértil na falta de identidade das populações de determinadas regiões do estado com o que se acredita ser a cultura paraense. Em determinados lugares o carimbó, o boi-bumbá ou a marujada, só para citar exemplos de ritmos amazônicos, não criam identificação com as suas populações.
Preservar essas linguagens, afirmá-las como parte da identidade de determinadas regiões é muito importante. Mas a imposição dela como uma espécie de “cultura oficial” a todos o estado não ajuda a integrar social e culturalmente um estado tão diverso, centro de atração de populações de todos os cantos do país. Na busca de uma integração de fato, que mexa com o sentimento de um povo, a cultura é fundamental, pois acaba inserindo as pessoas em um contexto “global” mesmo que ocupem sítios geográficos políticos um tanto distantes (suas aldeias).
Nessa linha de pensamento, torna-se necessária a valorização de uma música que seja ao mesmo tempo “profissional” (no sentido que ela vá integrar uma cadeia produtiva) e que preserve elementos de identificação regionais e universais, como as experiências do novo rock paraense e de experimentações contemporâneas que não ignoram nossas linguagens (Cravo Carbono, La Pupuña, Curimbó de Bolso, A Euterpia, Madame Sataan, Norman Bates dão exemplos mais ou menos próximos disso).
Nem sempre os elementos estéticos podem ser prevalecentes. Artistas locais, nascidos ou radicados no estado, serão reconhecidos como objeto comum a diversas populações se tiverem visibilidade. Daí a importância, por exemplo, da atual política de expansão do sinal da TV Cultura aos demais municípios paraenses. Não espero, nem acredito que seja possível hoje, em nossa região, fabricar "ídolos" ou "semi-deuses" que se tornem ao extremo arrogantes e alienados a questões sociais e culturais. A mobilização necessária para emplacar tal projeto daria conta por si só da formação de uma personalidade com menos "estrelismos". Esse é um dilema já há muito imposto ao artista contemporâneo.
Tradição - Acredito que mesmo a aceitação das manifestações mais tradicionais (e localizadas) seriam mais facilmente assimiladas pelas populações mais distantes da capital se fossem inseridas em um processo de difusão mais profissional.
A solução que vejo para o gargalo da produção e difusão da cultura tradicional, que naturalmente têm dificuldade maior para se organizar burocraticamente, é a adoção dela pelos movimentos sociais ou por associações organizadas (já existem algumas em estágio incipiente), no sentido destes ajudarem a criar essa estrutura, num plano também econômico (cooperativas, associações, economia solidária etc.). A política de Pontos de Cultura, da Secretaria Estadual de Cultura e do Ministério da Cultura, vai ser importante para desenvolver essa produção, uma vez que prevê a organização e estruturação física de centros de cultura. Se houver capacitação técnica e visão do que poder ser tal “empreedimento” por parte dos gestores desses pontos de cultura, finalmente poderemos avançar nessa área muito mais do que nos últimos 20 anos pelo menos.
Através de tal política, o artista regional tradicional preserva, até onde lhe é possível diante das transformações do mundo contemporâneo, sua expressão, sem que ela seja privada de se colocar no mercado como uma produção séria, para fazer uma referência irônica a Theodor Adorno – o teórico alemão que definiu a “regressão da audição” no início da indústria cultural.O desafio é grande em várias frentes. Mas se a população do estado deve pensar seu desenvolvimento deve também levar em consideração tais complexidades, e possibilidades.
Muito se fala hoje no Pará em integração regional, e é fato que as idéias separatistas ganham terreno fértil na falta de identidade das populações de determinadas regiões do estado com o que se acredita ser a cultura paraense. Em determinados lugares o carimbó, o boi-bumbá ou a marujada, só para citar exemplos de ritmos amazônicos, não criam identificação com as suas populações.
Preservar essas linguagens, afirmá-las como parte da identidade de determinadas regiões é muito importante. Mas a imposição dela como uma espécie de “cultura oficial” a todos o estado não ajuda a integrar social e culturalmente um estado tão diverso, centro de atração de populações de todos os cantos do país. Na busca de uma integração de fato, que mexa com o sentimento de um povo, a cultura é fundamental, pois acaba inserindo as pessoas em um contexto “global” mesmo que ocupem sítios geográficos políticos um tanto distantes (suas aldeias).
Nessa linha de pensamento, torna-se necessária a valorização de uma música que seja ao mesmo tempo “profissional” (no sentido que ela vá integrar uma cadeia produtiva) e que preserve elementos de identificação regionais e universais, como as experiências do novo rock paraense e de experimentações contemporâneas que não ignoram nossas linguagens (Cravo Carbono, La Pupuña, Curimbó de Bolso, A Euterpia, Madame Sataan, Norman Bates dão exemplos mais ou menos próximos disso).
Nem sempre os elementos estéticos podem ser prevalecentes. Artistas locais, nascidos ou radicados no estado, serão reconhecidos como objeto comum a diversas populações se tiverem visibilidade. Daí a importância, por exemplo, da atual política de expansão do sinal da TV Cultura aos demais municípios paraenses. Não espero, nem acredito que seja possível hoje, em nossa região, fabricar "ídolos" ou "semi-deuses" que se tornem ao extremo arrogantes e alienados a questões sociais e culturais. A mobilização necessária para emplacar tal projeto daria conta por si só da formação de uma personalidade com menos "estrelismos". Esse é um dilema já há muito imposto ao artista contemporâneo.
Tradição - Acredito que mesmo a aceitação das manifestações mais tradicionais (e localizadas) seriam mais facilmente assimiladas pelas populações mais distantes da capital se fossem inseridas em um processo de difusão mais profissional.
A solução que vejo para o gargalo da produção e difusão da cultura tradicional, que naturalmente têm dificuldade maior para se organizar burocraticamente, é a adoção dela pelos movimentos sociais ou por associações organizadas (já existem algumas em estágio incipiente), no sentido destes ajudarem a criar essa estrutura, num plano também econômico (cooperativas, associações, economia solidária etc.). A política de Pontos de Cultura, da Secretaria Estadual de Cultura e do Ministério da Cultura, vai ser importante para desenvolver essa produção, uma vez que prevê a organização e estruturação física de centros de cultura. Se houver capacitação técnica e visão do que poder ser tal “empreedimento” por parte dos gestores desses pontos de cultura, finalmente poderemos avançar nessa área muito mais do que nos últimos 20 anos pelo menos.
Através de tal política, o artista regional tradicional preserva, até onde lhe é possível diante das transformações do mundo contemporâneo, sua expressão, sem que ela seja privada de se colocar no mercado como uma produção séria, para fazer uma referência irônica a Theodor Adorno – o teórico alemão que definiu a “regressão da audição” no início da indústria cultural.O desafio é grande em várias frentes. Mas se a população do estado deve pensar seu desenvolvimento deve também levar em consideração tais complexidades, e possibilidades.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia
Parte III
Para a valorização do artista paraense e sua inserção em um mercado mais que incipiente falta um salto de profissionalização, de capacitação, que exige um esforço coletivo grande. Primeiro, de superação das diferenças dos atores sociais que movimentam a produção artística no estado do Pará. Aqueles que se movimentam nessa área meio nebulosa da produção artística autoral não são muitos e se esbarram vira e mexe. Deveriam ter seu esforço somado para fortalecer o setor. Mas, ao contrário de outros setores “produtivos” onde o empresariado e mesmo os trabalhadores se unem em prol de seu desenvolvimento, os artistas e produtores da área se digladiam em devaneios de “superegos” típicos de quem produz arte em estágio primário.
Desenvolver essa cultura depende de esforço conjunto da iniciativa privada, de organização das classes, de diálogo progressista e da intervenção crucial do Estado, em acordo com as idéias propostas por esse fórum. Há que se traçar planos e projetos conectados a um objetivo maior e desenvolver frentes de trabalho, baseadas na teoria do economista John Maynard Keynes (obrigado professor Fábio Castro pelos comentários).
A idéia do portal na internet para venda e promoção da produção paraense é o projeto que mais tem entusiasmado os artistas engajados nesse movimento. Seria o carro-chefe dessas frentes de trabalho – que envolveriam ainda projetos na área de difusão através de eventos, festivais; feiras de negócios em música; formação e capacitação de agentes e produtores etc.
Atrelado à estrutura de um ponto de cultura, gerido pelas associações, e a uma estrutura de gravadora, editora e produtora (estas, iniciativas do empresário Na Figueredo), o portal pode vir, junto com a citada mobilização de outros setores, a ser um grande instrumento de valorização do artista paraense, inclusive economicamente.
Não se tem idéia real de quanto gera a economia da música, principalmente em nossa região. Mas podemos supor facilmente que ainda gera menos dividendos financeiros que a indústria do minério, por exemplo. Ela, porém, torna-se significativa para uma classe relativamente grande e socialmente importante, pois soma ainda uma cadeia produtiva que gera emprego e renda principalmente para artistas e profissionais jovens. Ela polui muito menos que as demais e, com o advento do download digital, gera pouquíssimo excedente. Sem contar seu potencial socializante e, por que não dizer, educativo.
Para a valorização do artista paraense e sua inserção em um mercado mais que incipiente falta um salto de profissionalização, de capacitação, que exige um esforço coletivo grande. Primeiro, de superação das diferenças dos atores sociais que movimentam a produção artística no estado do Pará. Aqueles que se movimentam nessa área meio nebulosa da produção artística autoral não são muitos e se esbarram vira e mexe. Deveriam ter seu esforço somado para fortalecer o setor. Mas, ao contrário de outros setores “produtivos” onde o empresariado e mesmo os trabalhadores se unem em prol de seu desenvolvimento, os artistas e produtores da área se digladiam em devaneios de “superegos” típicos de quem produz arte em estágio primário.
Desenvolver essa cultura depende de esforço conjunto da iniciativa privada, de organização das classes, de diálogo progressista e da intervenção crucial do Estado, em acordo com as idéias propostas por esse fórum. Há que se traçar planos e projetos conectados a um objetivo maior e desenvolver frentes de trabalho, baseadas na teoria do economista John Maynard Keynes (obrigado professor Fábio Castro pelos comentários).
A idéia do portal na internet para venda e promoção da produção paraense é o projeto que mais tem entusiasmado os artistas engajados nesse movimento. Seria o carro-chefe dessas frentes de trabalho – que envolveriam ainda projetos na área de difusão através de eventos, festivais; feiras de negócios em música; formação e capacitação de agentes e produtores etc.
Atrelado à estrutura de um ponto de cultura, gerido pelas associações, e a uma estrutura de gravadora, editora e produtora (estas, iniciativas do empresário Na Figueredo), o portal pode vir, junto com a citada mobilização de outros setores, a ser um grande instrumento de valorização do artista paraense, inclusive economicamente.
Não se tem idéia real de quanto gera a economia da música, principalmente em nossa região. Mas podemos supor facilmente que ainda gera menos dividendos financeiros que a indústria do minério, por exemplo. Ela, porém, torna-se significativa para uma classe relativamente grande e socialmente importante, pois soma ainda uma cadeia produtiva que gera emprego e renda principalmente para artistas e profissionais jovens. Ela polui muito menos que as demais e, com o advento do download digital, gera pouquíssimo excedente. Sem contar seu potencial socializante e, por que não dizer, educativo.
sábado, 7 de junho de 2008
Cadê o Suzana?!
Enquanto reviso e publico o artigo "Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia", em partes, preciso pontuar algo factual. Hoje, depois de chegar de viagem olhei a coluna "Parabólica", do jornalista Ismael Machado no caderno Por Aí, do Diário do Pará, espaço que (des)ocupei com uma coluna que tem o nome deste blog há um ano. Lá ele pergunta "Cadê o Suzana Flag?". Como produtor e colaborador da banda pretendo responder o artigo de Ismael. Primeiro, a ele diretamente. Mas aqui também nesse espaço vocês poderão ter mais notícias sobre a banda e o que a levou a estar ausente do cenário neste momento. Em breve vocês não só poderão ter notícias como terão de volta a banda ao cenário.
Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia
Parte II
Ao mesmo tempo que a indústria fonográfica mainstream observa a manutenção das quedas de vendas de CDs e DVDs físicos, procura alternativas para a saída da crise diversificando os meios de venda e faturamento. O presidente da ABPD, Paulo Rosa, diz que a indústria deve inclusive recuperar o fôlego na venda de CDs e DVDs este ano. Existem alguns fatores responsáveis por esta sobrevida do suporte de mídia físico, mas não quero me alongar neste assunto neste artigo.
Hoje a recuperação do potencial de lucro da indústria e da publicidade da música comercial gravada é capitaneada pela Internet, o mesmo meio que antes assustou e causou estragos.
De acordo com o relatório da ABPD, as vendas digitais das majors no Brasil em sites de música aumentaram nada menos que 1.620% em relação ao ano de 2006. O volume de faturamento nesses meios ainda é pequeno se comparado à venda de CDs físicos ou a venda através da telefonia celular. As vendas em sites somaram R$ 5,7 milhões em 2007, enquanto que as vendas através de celulares renderam no mesmo ano R$ 15,8 milhões (um aumento 127% em relação ao ano anterior). As vendas em CDs e DVDs físicos somaram R$ 312,5 milhões, menos 31% que no ano anterior. Número muito mais distante dos US$ 930 milhões registrados em 1995, por exemplo, em vendas somente de discos físicos.
Mas some aos valores atuais os ganhos com publicidade e propaganda e a participação das gravadoras em shows (modalidades novas de arrecadação não computadas nos relatórios de vendas), além do fato de que muitos catálogos são antigos (o que baixa os custos de produção que exigem os artistas novos), e eu diria que a indústria fonográfica não vai mal. Na verdade, para os grandes a crise é coisa do passado. Mudaram talvez as margens de lucro que antes eram, segundo Lobão, "estratosféricas".
Mal vão os artistas regionais, que além de terem cada vez mais distante a perspectiva de se inserir nesse mercado, não detêm ainda as condições de desenvolver seus próprios meios de comercialização – uma alternativa paralela ao mainstream seria um mercado alternativo (independente?) forte e profissional.
Mas, da mesma forma que a Internet obrigou uma postura diferente da grande indústria, ela abre a possibilidade de que se desenvolvam indústrias regionais alternativas. Em tese, uma produção rica e que se encontra em fase de evolução e profissionalização como a música paraense, teria, a partir desse novo cenário, condições de popularizar seus artistas regionalmente e levá-los, através da Internet, ao mercado internacional, fugindo um pouco do círculo vicioso da produção comercial nacional, baseada no jabá, na padronização das linguagens e na valorização exagerada dos artistas do “eixo” ou nele radicados.
De acordo com o presidente da maior distribuidora e gravadora independente do País, a Trattore, hoje as indies brasileiras faturam apenas 3% de sua receita com vendas digitais. Mas, Silvio Pellacani Jr, que também é membro da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) diz que as indies estrangeiras já faturam 40% de sua receita com a venda digital. Tudo corrobora para a sensação de “caminho sem volta” em relação ao formato digital.
Criar uma indústria da música na Amazônia, a partir de um projeto específico, parece utópico. Principalmente porque antes de entrar no mercado digital a produção paraense teria que vencer etapas anteriores muito complexas.
Mas pode se tornar real na medida em que existe uma proposta de ampliação da esfera pública baseada na política de comunicação do novo governo estadual e que a estabilidade econômica fomenta novos negócios. Se esse ponto for pautado nas políticas públicas de cultura mais fortemente, assim como na área social e econômica, essa será, sim, uma possibilidade cada vez mais real.
Acrescente-se a favor dessa proposição o fato de que, finalmente, após um longo ostracismo, a classe artística musical paraense começa a se organizar – essa é uma das principais etapas a ser vencida. Iniciativas recentes e ainda pouco difundidas como a rearticulação da Associação Pro Rock, a criação do Movimento de Bandas Independentes do Pará (Mobip) e a mobilização do Movimento Bafafá do Pará demonstram isso. Enquanto propõem ações articuladas em vários níveis da sociedade, essas entidades e movimentos se articulam para criar um Fórum Paraense de Música Independente, aberto a todos os estilos e tendências. Esse movimento ganha mais força ainda na união com o empresário Ná Figueredo, quase um visionário, que tem lançado e distribuído há quase uma década, e quase sem apoio institucional algum, a maior parte da produção musical paraense relevante. Ná lançou, mesmo que em CDRs, a maioria das bandas paraenses de rock que têm sido apontadas pelos poucos críticos de credibilidade nessa área (como Pedro Alexandre Sanches, Benjamim Talbkin, Carlos Eduardo Miranda, Alex Antunes e Penna Schimidt) como trabalhos inovadores e criativos. De Suzana Flag a Madame Saatan, de A Euterpia a Norman Bates. Sem contar os campeões de vendas, Mestres da Guitarrada e Verequete. Ná lançou ou distribuiu ainda discos de artistas como Cravo Carbono, Deocley Machado, La Pupuña, Lu Guedes, Arraial do Pavulagem, Toni Soares, entre muitos outros.
Ao mesmo tempo que a indústria fonográfica mainstream observa a manutenção das quedas de vendas de CDs e DVDs físicos, procura alternativas para a saída da crise diversificando os meios de venda e faturamento. O presidente da ABPD, Paulo Rosa, diz que a indústria deve inclusive recuperar o fôlego na venda de CDs e DVDs este ano. Existem alguns fatores responsáveis por esta sobrevida do suporte de mídia físico, mas não quero me alongar neste assunto neste artigo.
Hoje a recuperação do potencial de lucro da indústria e da publicidade da música comercial gravada é capitaneada pela Internet, o mesmo meio que antes assustou e causou estragos.
De acordo com o relatório da ABPD, as vendas digitais das majors no Brasil em sites de música aumentaram nada menos que 1.620% em relação ao ano de 2006. O volume de faturamento nesses meios ainda é pequeno se comparado à venda de CDs físicos ou a venda através da telefonia celular. As vendas em sites somaram R$ 5,7 milhões em 2007, enquanto que as vendas através de celulares renderam no mesmo ano R$ 15,8 milhões (um aumento 127% em relação ao ano anterior). As vendas em CDs e DVDs físicos somaram R$ 312,5 milhões, menos 31% que no ano anterior. Número muito mais distante dos US$ 930 milhões registrados em 1995, por exemplo, em vendas somente de discos físicos.
Mas some aos valores atuais os ganhos com publicidade e propaganda e a participação das gravadoras em shows (modalidades novas de arrecadação não computadas nos relatórios de vendas), além do fato de que muitos catálogos são antigos (o que baixa os custos de produção que exigem os artistas novos), e eu diria que a indústria fonográfica não vai mal. Na verdade, para os grandes a crise é coisa do passado. Mudaram talvez as margens de lucro que antes eram, segundo Lobão, "estratosféricas".
Mal vão os artistas regionais, que além de terem cada vez mais distante a perspectiva de se inserir nesse mercado, não detêm ainda as condições de desenvolver seus próprios meios de comercialização – uma alternativa paralela ao mainstream seria um mercado alternativo (independente?) forte e profissional.
Mas, da mesma forma que a Internet obrigou uma postura diferente da grande indústria, ela abre a possibilidade de que se desenvolvam indústrias regionais alternativas. Em tese, uma produção rica e que se encontra em fase de evolução e profissionalização como a música paraense, teria, a partir desse novo cenário, condições de popularizar seus artistas regionalmente e levá-los, através da Internet, ao mercado internacional, fugindo um pouco do círculo vicioso da produção comercial nacional, baseada no jabá, na padronização das linguagens e na valorização exagerada dos artistas do “eixo” ou nele radicados.
De acordo com o presidente da maior distribuidora e gravadora independente do País, a Trattore, hoje as indies brasileiras faturam apenas 3% de sua receita com vendas digitais. Mas, Silvio Pellacani Jr, que também é membro da Associação Brasileira de Música Independente (ABMI) diz que as indies estrangeiras já faturam 40% de sua receita com a venda digital. Tudo corrobora para a sensação de “caminho sem volta” em relação ao formato digital.
Criar uma indústria da música na Amazônia, a partir de um projeto específico, parece utópico. Principalmente porque antes de entrar no mercado digital a produção paraense teria que vencer etapas anteriores muito complexas.
Mas pode se tornar real na medida em que existe uma proposta de ampliação da esfera pública baseada na política de comunicação do novo governo estadual e que a estabilidade econômica fomenta novos negócios. Se esse ponto for pautado nas políticas públicas de cultura mais fortemente, assim como na área social e econômica, essa será, sim, uma possibilidade cada vez mais real.
Acrescente-se a favor dessa proposição o fato de que, finalmente, após um longo ostracismo, a classe artística musical paraense começa a se organizar – essa é uma das principais etapas a ser vencida. Iniciativas recentes e ainda pouco difundidas como a rearticulação da Associação Pro Rock, a criação do Movimento de Bandas Independentes do Pará (Mobip) e a mobilização do Movimento Bafafá do Pará demonstram isso. Enquanto propõem ações articuladas em vários níveis da sociedade, essas entidades e movimentos se articulam para criar um Fórum Paraense de Música Independente, aberto a todos os estilos e tendências. Esse movimento ganha mais força ainda na união com o empresário Ná Figueredo, quase um visionário, que tem lançado e distribuído há quase uma década, e quase sem apoio institucional algum, a maior parte da produção musical paraense relevante. Ná lançou, mesmo que em CDRs, a maioria das bandas paraenses de rock que têm sido apontadas pelos poucos críticos de credibilidade nessa área (como Pedro Alexandre Sanches, Benjamim Talbkin, Carlos Eduardo Miranda, Alex Antunes e Penna Schimidt) como trabalhos inovadores e criativos. De Suzana Flag a Madame Saatan, de A Euterpia a Norman Bates. Sem contar os campeões de vendas, Mestres da Guitarrada e Verequete. Ná lançou ou distribuiu ainda discos de artistas como Cravo Carbono, Deocley Machado, La Pupuña, Lu Guedes, Arraial do Pavulagem, Toni Soares, entre muitos outros.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Qualquer bossa vale uma nota na Amazônia
Parte I
A contemporânea mudança de paradigma no consumo da arte, de forma geral, e mais especificamente da música popular, trouxe desafios gigantes à organização da classe artística de regiões periféricas como a Amazônia. Trouxe também desafio às políticas públicas de cultura. A despeito das políticas que se desenvolvem historicamente no Pará, de valorização e preservação de uma cultura regional (de concepção que ainda é alvo de muita controvérsia entre estudiosos da área), o momento histórico nos impõe a necessidade de pensar políticas públicas também voltadas ao mercado – sem deixar de lado, obviamente, as políticas de preservação de memória e culturas tradicionais e de socialização e democratização.
Essa necessidade se mostra maior do ponto de vista que um projeto de desenvolvimento regional sustentável não pode ignorar o potencial da produção artística além do registro histórico da cultura de um determinado espaço/tempo e como instrumento de formação de identidade regional. Além dessas características, a produção artística ganha contemporaneamente potenciais econômicos e sociais que somam ao seu potencial simbólico/antropológico.
A necessidade de um modelo de desenvolvimento social e econômico sustentável é uma realidade contemporânea muito forte na Amazônia. A produção artística, a sua valorização e a sua difusão dentro de uma esfera pública em formação ou em expansão e dentro de uma sociedade de consumo fortalecida pela estabilidade econômica vêm a ser um importante instrumento a favor de tal modelo.
A formação de um mercado e/ou de uma indústria cultural diferenciada da máquina de promoção ideológica representada principalmente pela cultura de massa norte-americana, torna-se possível na Amazônia no contexto político, histórico e econômico que começa se configurar. Isso porque a região começa a se inserir tardiamente no processo de globalização modernizando e potencializando sua produção econômica, justamente no momento em que o modelo neoliberal começa mais intensamente a ser questionado, principalmente na América Latina – e anuncia-se um possível declínio do império econômico norte-americano.
Os fatores propícios ao desenvolvimento de uma indústria cultural no Pará e na Amazônia são muitos, mas estão dispersos nas esferas cultural, econômica, social e política dessa configuração histórica. É urgente a necessidade de estudar esses fatores a fim de que as políticas públicas, as iniciativas da sociedade organizada e do incipiente setor produtivo (se é que ele já existe nessa área) possam de fato potencializar os benefícios que a classe artística e sua produção podem trazer a essa reorganização social em curso.
Vale, em se falando de música, analisar a crise que abalou a indústria fonográfica nacional e mundial na última década. Já são bastante conhecidas as mudanças que a Internet e a pirataria impuseram a essa indústria, mas há algumas ainda pouco difundidas. Durante muito tempo, artistas locais de produção autoral pautaram suas atividades buscando o reconhecimento externo e a inserção na chamada indústria mainstream. Mas a indústria, a despeito da crise ou não, raramente teve condições de absorver a diversidade da produção brasileira. Movimentos específicos acabaram incorporando, de forma suave eu diria, à música pop brasileira, fabricada no eixo econômico do País, um pouco da diversidade cultural brasileira.
Linguagens regionais, sem ignorar a influência colonizadora, como o samba, o forró, o brega, o axé ou o manguebeat, assim como tantos outros movimentos artísticos, imprimiram suas marcas na paisagem sonora promovida pela indústria cultural. Algumas mais suaves que outras. A expressão amazônica ou a produção de artistas da Amazônia quase nunca passaram de um retrato exótico de um país que não faz parte de fato da produção cultural imposta pela indústria que aí está.
A superação da crise da indústria, ou o início dela, anunciada, por exemplo, no último relatório anual de vendas da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), divulgado em abril, não aponta uma modificação significativa nesse cenário. As vendas de CDs e DVDs continuam em queda. Houve uma queda de 31% em faturamento e 17% em unidades totais vendidas no ano de 2007.
Ainda vale o argumento de que a baixa de vendas impede o investimento em novos artistas. Bandas como Madame Saatan e A Euterpia, que saíram de Belém para tentar a sorte em São Paulo, podem até vir a ser incorporadas ao mainstream ou a um estrato intermediário dessa pirâmide artística social. Mas, se ocorrerem, serão raras e valorosas exceções. Pelo menos é o que, acredito, se pode avaliar neste momento.
A contemporânea mudança de paradigma no consumo da arte, de forma geral, e mais especificamente da música popular, trouxe desafios gigantes à organização da classe artística de regiões periféricas como a Amazônia. Trouxe também desafio às políticas públicas de cultura. A despeito das políticas que se desenvolvem historicamente no Pará, de valorização e preservação de uma cultura regional (de concepção que ainda é alvo de muita controvérsia entre estudiosos da área), o momento histórico nos impõe a necessidade de pensar políticas públicas também voltadas ao mercado – sem deixar de lado, obviamente, as políticas de preservação de memória e culturas tradicionais e de socialização e democratização.
Essa necessidade se mostra maior do ponto de vista que um projeto de desenvolvimento regional sustentável não pode ignorar o potencial da produção artística além do registro histórico da cultura de um determinado espaço/tempo e como instrumento de formação de identidade regional. Além dessas características, a produção artística ganha contemporaneamente potenciais econômicos e sociais que somam ao seu potencial simbólico/antropológico.
A necessidade de um modelo de desenvolvimento social e econômico sustentável é uma realidade contemporânea muito forte na Amazônia. A produção artística, a sua valorização e a sua difusão dentro de uma esfera pública em formação ou em expansão e dentro de uma sociedade de consumo fortalecida pela estabilidade econômica vêm a ser um importante instrumento a favor de tal modelo.
A formação de um mercado e/ou de uma indústria cultural diferenciada da máquina de promoção ideológica representada principalmente pela cultura de massa norte-americana, torna-se possível na Amazônia no contexto político, histórico e econômico que começa se configurar. Isso porque a região começa a se inserir tardiamente no processo de globalização modernizando e potencializando sua produção econômica, justamente no momento em que o modelo neoliberal começa mais intensamente a ser questionado, principalmente na América Latina – e anuncia-se um possível declínio do império econômico norte-americano.
Os fatores propícios ao desenvolvimento de uma indústria cultural no Pará e na Amazônia são muitos, mas estão dispersos nas esferas cultural, econômica, social e política dessa configuração histórica. É urgente a necessidade de estudar esses fatores a fim de que as políticas públicas, as iniciativas da sociedade organizada e do incipiente setor produtivo (se é que ele já existe nessa área) possam de fato potencializar os benefícios que a classe artística e sua produção podem trazer a essa reorganização social em curso.
Vale, em se falando de música, analisar a crise que abalou a indústria fonográfica nacional e mundial na última década. Já são bastante conhecidas as mudanças que a Internet e a pirataria impuseram a essa indústria, mas há algumas ainda pouco difundidas. Durante muito tempo, artistas locais de produção autoral pautaram suas atividades buscando o reconhecimento externo e a inserção na chamada indústria mainstream. Mas a indústria, a despeito da crise ou não, raramente teve condições de absorver a diversidade da produção brasileira. Movimentos específicos acabaram incorporando, de forma suave eu diria, à música pop brasileira, fabricada no eixo econômico do País, um pouco da diversidade cultural brasileira.
Linguagens regionais, sem ignorar a influência colonizadora, como o samba, o forró, o brega, o axé ou o manguebeat, assim como tantos outros movimentos artísticos, imprimiram suas marcas na paisagem sonora promovida pela indústria cultural. Algumas mais suaves que outras. A expressão amazônica ou a produção de artistas da Amazônia quase nunca passaram de um retrato exótico de um país que não faz parte de fato da produção cultural imposta pela indústria que aí está.
A superação da crise da indústria, ou o início dela, anunciada, por exemplo, no último relatório anual de vendas da Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), divulgado em abril, não aponta uma modificação significativa nesse cenário. As vendas de CDs e DVDs continuam em queda. Houve uma queda de 31% em faturamento e 17% em unidades totais vendidas no ano de 2007.
Ainda vale o argumento de que a baixa de vendas impede o investimento em novos artistas. Bandas como Madame Saatan e A Euterpia, que saíram de Belém para tentar a sorte em São Paulo, podem até vir a ser incorporadas ao mainstream ou a um estrato intermediário dessa pirâmide artística social. Mas, se ocorrerem, serão raras e valorosas exceções. Pelo menos é o que, acredito, se pode avaliar neste momento.
re-start
Hesitei muito em ter um blog. Já faz quase um ano longe das redações de jornais, e agora a produção sobre cultura e arte se acumula nos meus arquivos. Pensei ser esse um momento apropriado para trazê-la a público.
Começo com a primeira parte de um artigo um pouco longo no qual baseio o processo de construção do Forum Paraense de Música Independente. Espero contribuições a esse processo de construção.
Começo com a primeira parte de um artigo um pouco longo no qual baseio o processo de construção do Forum Paraense de Música Independente. Espero contribuições a esse processo de construção.
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