Foi através do então produtor assistente do Norman Bates, Alex Leal, que conheci os Destruidores de Tóquio. Conterrâneo dos meninos de Capanema, ele me trouxe a primeira demo da banda. Disse, meio displicentemente (acho que Alex faz sempre essa cara blazé para tudo), para eu escutar o material. Nessa época, em 2003, chegavam muitas demos de bandas novas e a minha disposição para ouvi-las também era grande.
“A vaca foi pro brejo” trazia o som tosco do DDT. A banda ainda não era tão entrosada como hoje, e a produção era, claro, a pior possível. Mas percebi que havia algo bom ali. Um humor negro quase refinado e o impulso primitivo de bandas como Stooges e Nirvana eram as coisas mais evidentes. Mesmo com a qualidade ruim, o diferencial autoral dos meninos era maior do que as deficiências que o trabalho apresentava. Melhor que muita coisa que rolava em Belém naquela época. Não tecnicamente, mas, de fato, aquilo que vale a pena no rock.
Foi por isso que os chamei para abrir o show do Norman Bates e do Suzana Flag no Amazon Pub, local que fora antes o Insanu. Não foi fácil para mim fazer o primeiro show dos caras em Belém. O baterista, canhoto, tinha que virar a bateria toda para o lado dele, o que dava um puta trabalho para organizar a passagem de som. E batia muito forte também. Mais do que o necessário. Quebrou o suporte de um dos tambores do Regi (baterista do Norman), o que me deu prejuízo, além de uma grande dor de cabeça por causa do sermão que recebi depois. O público não entenderia o som fácil e teve músico(!) me olhando de lado, dizendo “porra, por que tu trouxeste esses caras para tocar aqui?!”.
Mas nada disso abalou o meu conceito do DDT e minha simpatia pela banda. Depois daquele disco, fiquei ainda mais surpreso quando no ano seguinte saiu mais um e, depois, outro EP. Cada um melhor que o anterior. Um disco por ano. Sempre gravado em casa ou em condições precárias. Sempre lançado em CDR em edição “de autor”, até chegarem ao mais do que amadurecido “Música para suicídio”, também em CDR, mas dessa vez endossado pelo selo de Ná Figueredo.
Hoje, poderia definir o som do DDT como se o Mamonas Assassinas fosse uma banda gaúcha descolada – principalmente no que diz respeito ao humor dos caras, sempre brilhante. Mas é mais do que isso. Nem Mamonas nem banda gaúcha engraçadinha, o humor negro dos Destruidores de Tóquio traz o refinamento do brega clássico e do samba de morro, a profundidade existencial dos quadrinhos de ficção científica, com sotaque de caboclo querendo ser inglês. Putz. Talvez você ache que isso não é nenhum fato digno de elogio, mas é o que ajuda a fazê-los únicos, transcendentais. Não são nada disso e são isso tudo ao mesmo tempo. São subproduto de cultura massificada, sim, mas são muito mais que qualquer produto de vitrine de gravadora.
Se tiver dúvida, ouça “Hipocondria”, hit maior do último disco deles. Versos como
É só você sumir
“A vaca foi pro brejo” trazia o som tosco do DDT. A banda ainda não era tão entrosada como hoje, e a produção era, claro, a pior possível. Mas percebi que havia algo bom ali. Um humor negro quase refinado e o impulso primitivo de bandas como Stooges e Nirvana eram as coisas mais evidentes. Mesmo com a qualidade ruim, o diferencial autoral dos meninos era maior do que as deficiências que o trabalho apresentava. Melhor que muita coisa que rolava em Belém naquela época. Não tecnicamente, mas, de fato, aquilo que vale a pena no rock.
Foi por isso que os chamei para abrir o show do Norman Bates e do Suzana Flag no Amazon Pub, local que fora antes o Insanu. Não foi fácil para mim fazer o primeiro show dos caras em Belém. O baterista, canhoto, tinha que virar a bateria toda para o lado dele, o que dava um puta trabalho para organizar a passagem de som. E batia muito forte também. Mais do que o necessário. Quebrou o suporte de um dos tambores do Regi (baterista do Norman), o que me deu prejuízo, além de uma grande dor de cabeça por causa do sermão que recebi depois. O público não entenderia o som fácil e teve músico(!) me olhando de lado, dizendo “porra, por que tu trouxeste esses caras para tocar aqui?!”.
Mas nada disso abalou o meu conceito do DDT e minha simpatia pela banda. Depois daquele disco, fiquei ainda mais surpreso quando no ano seguinte saiu mais um e, depois, outro EP. Cada um melhor que o anterior. Um disco por ano. Sempre gravado em casa ou em condições precárias. Sempre lançado em CDR em edição “de autor”, até chegarem ao mais do que amadurecido “Música para suicídio”, também em CDR, mas dessa vez endossado pelo selo de Ná Figueredo.
Hoje, poderia definir o som do DDT como se o Mamonas Assassinas fosse uma banda gaúcha descolada – principalmente no que diz respeito ao humor dos caras, sempre brilhante. Mas é mais do que isso. Nem Mamonas nem banda gaúcha engraçadinha, o humor negro dos Destruidores de Tóquio traz o refinamento do brega clássico e do samba de morro, a profundidade existencial dos quadrinhos de ficção científica, com sotaque de caboclo querendo ser inglês. Putz. Talvez você ache que isso não é nenhum fato digno de elogio, mas é o que ajuda a fazê-los únicos, transcendentais. Não são nada disso e são isso tudo ao mesmo tempo. São subproduto de cultura massificada, sim, mas são muito mais que qualquer produto de vitrine de gravadora.
Se tiver dúvida, ouça “Hipocondria”, hit maior do último disco deles. Versos como
É só você sumir
Pro meu sol voltar a brilhar
Mas basta você surgir
Pro céu nublar
E a minha roseira murchar
E a minha roseira murchar
Você nem sabe o mal que me faz
Se sabe já não se importa mais
Minha agonia é você quem faz
Você me deixa doente demais
É só você aparecer
Pro meu tumor voltar a inflamar
Mas se você morrer
Minhas células sadias
Irão festejar
podem parecer puro deboche, mas trazem sentimentos reais, muito comuns, cada vez mais entre colegas de trabalho, vítimas de assédio moral ou de violência sexual. Sabe-se lá. Estamos falando de Capanema, Pará, Amazônia, Brasil. Ademais, são embalados na mais bela melodia pop. São como sintomas de uma febre pós-moderna tardia num corpo que resiste.
É por causa dessas, e de outras, que eles estão entre as 10 finalistas do concurso de bandas do site http://www.tramavirtual.com.br/ concorrendo a uma das cinco vagas para o festival Goiânia Noise. Se você conhece a banda vai lá e vota. Se não conhece, pode votar tranqüilo e depois vá procurar que você não vai se arrepender.
2 comentários:
NICOLAU
A GENTE QUERIA APROVEITAR E AGRADECER A FORÇA QUE VOCÊ TÁ DANDO (E SEMPRE DEU) PARA A BANDA, FALAMOS A TODO MUNDO COM ORGULHO QUE FOI VOCÊ QUEM NOS LEVOU PRA TOCAR A PRIMEIRA VEZ EM BELÉM, E FOI TAMBÉM O PRIMEIRO A ACREDITAR E DIVULGAR O NOSSO TRABALHO POR AÍ, E COM CERTEZA NINGUÉM ESCREVE MELHOR A NOSSO RESPEITO QUANTO VOCÊ, RETRATANDO NOSSOS ACERTOS E ERROS TAMBÉM. RESUMINDO: MESMO QUE VOCÊ DETONASSE A BANDA, AINDA ASSIM SERIA UM PRASER PARA NÓS TER VOCÊ FALANDO MAL DA GENTE.
NOVAMENTE OBRIGADO.
DESTRUIDORES DE TÓQUIO
hahahahahahaha
porra, cara. imagina se eu ia detonar.
espero que não tenha ficado impressão assim do que escrevi. este foi um relato sentimental.
vcs são foda e eu adoro o som de vcs.
boa sorte na parada.
estou sempre falando pra todos votarem. temos até segunda pra colocar vcs no topo.
obrigado pelo carinho de sempre.
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