Nos anos 80 eles metiam o pau em tudo e em todos sem distinção de cor, de gênero ou de bom senso. Acho que isso durou até os anos 90, quando a indústria fonográfica começou a entrar em bancarrota e as revistas e jornais perceberam que falar mal afetava todo o sistema, que incluia jornalistas e críticos. De lá para cá, a crítica séria, já rara, tornou-se cada vez mais artigo de museu na imprensa brasileira.
Dizem que o artista está sempre à frente da crítica, com o que concordo na maioria das vezes. Isso foi verdade clara, só não vista no Pará pela própria insipiência da imprensa especializada local. Uma efervescência como a de meados dos anos 00 só não passou despercebida pela ação fundamental de pessoas como Beto Fares e Ney Messias, que através da Rádio e da TV Cultura massificaram o que puderam os estilos e artistas emergentes.
Mas o alcance limitado da rede pública não foi suficiente para criar base de profissionalização aos artistas emergentes, que também não sobreviveram à ausência do apoio de Messias, que chegou a ser chamado de o próprio "Salvador" da música paraense por Pio Lobato. Sem transmissores como agora se implatam, após a suspensão do famigerado convênio com a TV Liberal, o alcance da Rede Cultura se resumia à Região Metropolitana de Belém.
Hoje, a TV Cultura tenta correr atrás do prejuízo, mas não se pode mais esperar que ela seja o único suporte de popularização da produção artística local. O mundo mudou em pouco anos, a indústria mudou, o paradigma de consumo mudou, enfim. A crítica volta a ser fundamental nesse contexto. Em outros momentos de ascensão do rock paraense, alguns jornalistas tentaram exercer tal papel, incluindo este poster.
Mas a crítica paraense tendia a ser irresponsável e leviana ou comprometida com as partes a ponto de prejudicar seu efeito transformador. A crítica deve estimular as virtudes e reconhecer as limitações, as do crítico inclusive, para ser minimamente honesta com o leitor. Coisa difícil onde queima a fogueira das vaidades.
É preciso se aperfeiçoar e conhecer cada vez mais nesse mundo de especialidades cada vez maior para se chegar à essência, pois creio que esse é o papel de um exegeta, e é isso o que deve ser um crítico. Um crítico deve fazer reconhecer aquilo que o público não vê a olhos nus. Se reproduzir padrões de mercado ou clichês e modismos tende a ser ridículo.
Conciliar esse olhar analítico é muito mais difícil ainda em uma cidade provinciana onde todos temem "se queimar" com "os caras" que fazem a "onda" acontecer.
Quando comecei a estagiar no caderno de variedade de O Liberal, há mais de 10 anos, minha professora e coordenadora de estágio, Regina Alves, me alertou para tomar cuidado e não me envolver com "essa mafiazinha de cultura" que existe em todo lugar. Eu não sabia bem do que ela estava falando, mas percebi logo com o tempo.
No século 21, a internet está aí para furar esses bloqueios e superar a mediocridade. Precisamos de críticos, urgente. Não de boçais, mas de pessoas honestas e com sabedoria e conhecimento para nos ajudar a enxergar e se fazer enxergar. A análise é o exercício da práxis, onde se aprende e se apreende ao perceber, ao contemplar, admirar, analisar, enfim. É necessário também ter informação, pois essa análise precisa ser baseada em argumentos e fatos, além da apreensão subjetiva. Nosso jornalismo cultural é precário.
É com essas coisas todas em mente que celebro, com grande otimismo, a chegada à rede dos blogs de dois colegas: o jornalista Sidney Filho, recém chegado de uma temporada em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e o publicitário e produtor de rádio Angelo Cavalcante, ex-parceiro de Norman Bates. Sidney já está há um tempo, fez inclusive uma entrevista comigo. Angelo chegou agora com uma resenha fresquinha sobre o disco de Arthur Nogueira. Sejam bem-vindos, amigos. E ajudem a nos libertar através da palavra.
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