quinta-feira, 31 de julho de 2008

Cravo Carbono e pimenta nos olhos


Continua incerto o futuro da banda que revitalizou e tornou popular entre a classe média paraense a "guitarrada", estilo/gênero consagrado por Mestre Vieira de Barcarena. Como os leitores já devem saber, depois de trocas de farpas públicas na comunidade da banda no Orkut, o letrista/vocalista Lázaro Magalhães anunciou pela Internet seu afastamento do grupo.
A crise parece ter sido detonada por uma polarização de idéias e objetivos, principalmente entre o guitarrista Pio Lobato e Lázaro. Segundo Pio, o vocalista estaria muito mais ocupado com seu trabalho como jornalista, deixando a banda e m segundo plano. Como Pio e o baterista Vovô vivem exclusivamente de música, o quarteto, como eles mesmo disseram no Orkut, ficou dividido entre a "ala profissional" e a "ala amadora", completada pelo baixista/guitarrista Bruno Rabelo, que também se ocupa mais de seu emprego diurno do que do trampo musical.
Não tenho conversado com Lázaro, ainda que ele se manifeste pessoalmente vez ou outra no Orkut (o blog Cultura Maniçoba anunciou para breve uma entrevista exclusiva), mas eles se expuseram de tal forma que parece haver pouco mais a falar sobre a sua saída. Sobre isso parece que só resta lamentar, ou torcer para que haja um entendimento. Pio evita falar sobre o assunto mas é enfático em dizer que não vê possibilidade de retorno. Bruno afirma que a banda não acabou, mas não sabe na da a respeito do futuro. Lázaro o teria convidado para um novo projeto.
Enquanto a situação não se define fica um sentimento de perplexidade entre os internautas que acompanham as repercussões do caso. O que cria mais expectativa é a continuidade ou não do trabalho, que, todos concordam, é uma perda significativa para a música paraense.
Confesso que não é uma situação confortável comentar o assunto, por ser pessoa próxima aos artistas e por saber bem o que ocorre com a banda. Mas ainda que doa é preciso falar sobre isso. Nós, "músicos jornalistas" ou "jornalistas músicos", em casos como esses, nos vemos instigando nossos colegas nas redações ou sendo vítimas de uma complacência um tanto coorporativista que não favorece em nada os fãs da música.
Essa relação incestuosa que os artistas que não conseguem se manter da arte têm com outras profissões torna-se um problema para nós, "povos subdesenvolvidos da floresta", quando para muitos outros é uma das alternativas contemporaneas para sua sobrevivência. Convém, a quem o assunto interessa, refletir sobre isso.
Com 14 anos de carreira, a Norman Bates não tem "ala profissional". Mesmo o cara que poderia ser o mais talentoso na área estritamente musical optou por uma profissão que nada acrescenta à sua sensibilidade artística. Por um lado nos impôs a possibilidade de uma acordo (o que pressupõe alguma união) para preservar a nossa música. Conciliar nossas agendas pessoais, trabalho e família praticamente nos impõe o fato de jamais virmos a sobreviver exclusivamente de música. Será que se nos dedicássemos exclusivamente a ela essa realidade seria diferente?! Talvez. Mas não seria a mesma Norman Bates. Sem compromisso com o profissionalismo, a música crua e sem amarras proporciona expressões mais originais.
Por outro lado, qualquer um pode dizer que gosta de curtir o tempo de maturamento do processo todo, mas ninguém curte demorar seis anos para lançar o segundo disco. Não por necessidade! Não é "Chinese Democracy", é peia mesmo! Talvez bandas como Cravo Carbono e Norman Bates, que atravessaram a turbulenta década de 1990 e chegaram ao novo século, tenham seus dias contados mesmo. Talvez seja melhor assim, ou não.
Pimenta no dos outros é refresco.

4 comentários:

Anônimo disse...

"Será que se nos dedicássemos exclusivamente a ela essa realidade seria diferente?! Talvez. Mas não seria a mesma Norman Bates. Sem compromisso com o profissionalismo, a música crua e sem amarras proporciona expressões mais originais.". Será que entendi: para fazer música original, não se pode ser profissional???

Nicolau Amador disse...

Não sei. O que você acha? Penso que o processo impõe suas mudanças. O que posso dizer, sobre isso especificamente, é que se fossemos pensar em profissionalismo talvez não fizessemos as coisas do mesmo jeito. Não saber fazer, ser amador, nos fez desenvolver técnicas e visões artísticas diferentes.

Thiago Viana disse...

Nicolau,
fiquei também um tanto desapontado com essa ruptura no Cravo Carbono. No primeiro momento fui atrás de informações como fã mesmo. pra saber se ia ter show e tals. Mas aí achei necessário fazer, ou estimular, com que a banda pudesse dar uma resposta ao público. Fiz uma breve entrevista com o Lázaro e estou esperando a resposta que deve vir essa semana. Logo depois vou procurar a banda, porque, segundo o que já me foi adiantado, o Cravo Carbono não acabou.

Nicolau Amador disse...

Tomara que continue de verdade e continue gerando bons frutos, Thiago. Aguardamos as entrevistas e os proximos capítulos.
Abs.