sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O rock salva!


O cearense Sidney Filho chegou em Belém há 15 anos. Meu colega de turma na universidade de jornalismo, aprontou muito no circuito independente da cidade. Começou a escrever para internet em 1999, para o site www.ibelem.net, onde assinava a coluna "Nem Alhos, Nem Bugalhos". Em 2004, começou a escrever também para outro extinto site paraense www.miriti.com.br, com uma coluna já dedicada exclusivamente a divulgação das novidades sobre as bandas autorais paraenses. Em 2005, colaborou com o site www.senhorf.com.br. Em 2007, escreveu para o site www.showlivre.com.br, e o nome da coluna era "Independência ao Norte". Sem deixar o Show Livre de lado, Sidney alimenta com freqüência dois blogs que já são referência na blogosfera paraense, o Ver-O-Pop e o Rock Pará. Agora Sidney Filho deu um passo adiante, tendo seu trabalho reconhecido internacionalmente. Ele é o mais novo colaborador internacional do portal do selo americano Nada Label, que traz entre suas missões e objetivos promover a interação do público americano com os artistas de vanguarda do rock e da música contemporânea, inclusive pelo Brasil. Graças a ele, a audiência do Bafafá Pro Música, por exemplo, já é internacional. Sidney Filho tem grandes serviços prestados ao rock e à música paraense. Confiram o bate papo que tivemos no dia do Natal.

Nicolau: Como foi que o pessoal do Nada Label descobriu você?
Sidney Filho: Eu recebi um recado pelo Facebook da Delyse-Braun, que tinha conhecido os meus blogs. Ela afirmava que tinha gostado do conteúdo. Ela disse que trabalhava no selo americano de música independente Nada Label. E começamos a trocar figurinhas. Na semana passada, rolou uma apresentação geral com todos os integrantes do site e do selo. E hoje em dia, eu já faço parte da equipe como colaborador e divulgador da música paraense.

Como começou seu envolvimento com a música independente do Pará?
Antes de vir para Belém, eu tinha vindo de Recife, onde morei oito anos. Presenciei todo o nascimento do Manguebeat e quando cheguei aqui, pirei com a cena. De cara virei roaddie de uma das melhores bandas de trash metal do Brasil, o DNA. Depois já na faculdade, conheci outras bandas como Pig Malaquias e Norman Bates, que estava começando. Ainda na faculdade montei dois zines: Torpedo 136 e ZONA.

Você nasceu onde?
Eu sou cearense, mas morei em milhares de cidades. O meu pai é militar da reserva da Aeronáutica. "Não sou de nenhum lugar, sou de lugar nenhum". Mas estou em Belém há 15 anos. Sou praticamente paraense, e com muito orgulho.

Você também produziu umas festas e trabalhou com algumas bandas já dessa geração da música paraense. Conta um pouco...
Bem, eu produzi várias bandas: Cravo Carbono, A Euterpia e Madame Saatan. Além disso, eu, o meu primo (Miler) e o meu irmão (Beto) produzimos uns eventos no Mormaço, quando no Mormaço só ia a pior espécie, que foi o "Ver-o-Pop", que atualmente é o nome de um dos blogs que edito.

Você é um observador atento dessa tal cena paraense. Como você avalia o momento atual? Estamos preparados para mais um ciclo de expansão do rock e da música paraense?
O que é mais interessante atualmente é que estamos passando por uma época de transição, muito mais ligada ao mercado. Muitas coisas ainda estão indefinidas. Só que o mais importante é que Belém é o olho do furacão, sobretudo, quando se fala de música contemporânea. Uma cidade que gera bandas nada parecidas, como Norman Bates, Madame Saatan e Retaliatory, por exemplo, merece atenção do mercado.

Pois é, e tem o Aeroplano, Suzana Flag, Juca Culatra, Pio Lobato, Clepsidra e um monte de coisa diferente e "fresca" aos ouvidos...
Sem contar os Mestres Verequete, Cupijó, Laurentino, Chico Braga etc. Belém é um celeiro de músicos e músicas inacreditáveis!

Você acha possível que artistas como esses, por exemplo, possam estar lançando em breve discos por selos internacionais?!
Eu acho que hoje em dia, vivemos a maior revolução de todos os tempos, que é o poder da comunicação, através da internet. Então, por exemplo, o BNegão já excursionou para Europa várias vezes, com contatos feitos pela internet. Seria, sim, completamente viável.

Engraçado que Belém, às vezes, parece surda para algumas dessas coisas. O movimento tem que vir sempre de fora pra dentro?
O mais absurdo é isso. Aqui é um celeiro de músicos geniais; mas como tudo no Brasil é preciso que alguém de fora reconheça, para que a população local também acabe dando valor. Infelizmente, isso é coisa de brasileiro mesmo. Mas os ouvidos já estão se abrindo. Apesar disso, parece que as bandas locais vivem num universo paralelo que a elite falida da cidade prefere não reconhecer e é viciada em festinhas que tocam as tristes bandas cover, ou os DJs, que ainda tocam Dire Straits e U2. Essas bandas mega grandes não precisam disso, e nas festas daqui deveriam tocar as bandas autorais, tanto nos palcos quanto nas pick ups.

Muitas vezes os caras ignoram mesmo. Não há conexão entre certos DJs descolados e a produção local. Na verdade há uma certa disputa entre DJs, produtores e músicos. Alguns são mais estrelas do os ‘”artistas”. Isso também parece uma característica de Belém...
Eu acho isso tudo muito surreal. Porque em São Paulo, eu cheguei a ouvir La Pupuña e Suzana Flag numa festa da Outs (só não lembro quem era o DJ). Então, não querendo ser demagogo ou algo parecido, mas a palavra de ordem de 2010 será SOMA. Não dá mais para haver essa disputinha barata, todos têm o mesmo objetivo: impulsionar a cena. Então, como já disseram os Ramones várias vezes: Hey Ho!! Let's Go!!

Bom, tomara que você esteja certo e a gente se encontre nos objetivos comuns. Mas uma coisa é certa, só vamos ter um mercado equilibrado e justo se houver esta soma. Que 2010 seja bom pra todos. E você o que vai aprontar esse ano ainda?
Hoje à tarde, de duas às quatro, vou apresentar um programa especial de Natal com o Marcelo Souza no Instituto Federal do Pará. É só acessar o link da Rádio IFPA.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O grito da Pro Rock e do Bafafá

Fotos de Ana Flor

Por falta de tempo e pudor de autoresenhar-me, reproduzo aqui o texto de Sidney Filho, do Blog Ver-O-Pop, sobre o Bafafá Pró Música que aconteceu no último domingo 13 na Praça da República. Só gostaria de acrescentar que apesar do imprevisto embargo de um dos palcos do evento, ele não foi abalado em nada, ao contrário, o "grito" do Bafafá foi amplificado pela polêmica da liberação da Praça, e abriu canais de diálogo para a ocupação de outros espaços públicos e para a manutenção do mesmo. Desta forma eu e toda a equipe do Ponto de Cultura Bafafá Pro Rock quer parabenizar a todas as bandas que tocaram e às que não tocaram e foram compreensivas com a situação. 14 das 20 atrações previstas se apresentaram e mostraram porque a música paraense provoca um Bafafá tão grande pelo mundo a fora. Muito obrigado a Retaliatory, Ataque Fantasma, Miguelitos S/A, Dialetos, Stereoscope, Os Baioaras e Pio Lobato (vocês estarão no próximo). Muito obrigado aos parceiros Ná Music, MM Produções, Mudra Produções, Jambu Filmes e A3 Bureau. À Secretaria de Estado de Cultura, que ao incentivar tal evento contribui para o fortalecimento da nossa cultura. À Secretaria Municipal de Meio Ambiente que, apesar dos contratempos, foi compreensiva e sensível aos nossos argumentos (até onde foi possível). Ao Sebrae-PA que mostrou o nível certo que ousadia que os grandes negócios exigem ao patrocinar o Bafafá deste ano. A todos os fotógrafos, cinegrafistas, técnicos de áudio, roddies, músicos, jornalistas, enfim, a todos os profissionais envolvidos. Ao público. Não temos uma estimativa fiel pois muita gente viu o Bafafá em "turnos". Muita gente que ficou pela manhã não pode voltar a tarde e vice-versa. Mas muita gente ficou desde o início, chegando ao pico de mais de 2 mil pessoas num só momento. Quadriplique esse número e talvez cheguemos a uma estimativa fiel de quem ouviu o grito deste Bafafá - fora a repercussão. Muito obrigado a Mestre Laurentino, sempre presente, sempre na vibração da música. Por fim, convido a todos para a nossa confraternização, que vai ser neste próximo sábado, dia 19, no Centro Cultural Cidade Velha, com shows de Norman Bates, Suzana Flag e Clepsidra. Mande seu nome para associaprorock@gmail.com para pagar apenas R$ 5 na hora. As 20 atrações previstas na programação original terão quatro cortesias a sua disposição a partir de hoje na loja Ná Figueredo, é só passar lá nesta sexta-feira (ou no sábado pela manhã e a tarde) e retirar. Vamos, enfim, relaxar e comemorar.

Bafafá Pro Música: A festa para fechar o ano

Por Sidney Filho



A manhã do domingo passado (13) começou um pouco preguiçosa na Praça da República (um dos centros públicos e culturais de Belém) quando algumas notícias começaram a vir à tona sobre o embargo da Prefeitura Municipal de Belém, em relação a utilização da carreta palco para a realização do manifesto musical Bafafá Pro Música. Mas isso não tirou o brilho da festa. E todos os shows ocorreram no anfiteatro da praça.

O pontapé inicial foi dado de uma maneira estrondosa com o hardcore da banda Núcleo Base, acordando quem estava se chegando. Logo depois vieram as melodias da Dharma Burns. E para a mostrar a miscelânea musical, que ainda estava por vir, foi a vez do DJ Morcegão e a Máfia da Baixada.

Quando a compositora Joelma Klaudia subiu no palco, o público presente ficou encantado com a performance dela e com as músicas. Logo depois, foi a vez de outro destaque feminino paraense, Juçara Abe, que junto com o DJ Morcegão, mostraram que toda mistura bem feita é agraciada pelo público.

Já no início da tarde, o grande compositor paraense Rafael Lima fez um show arrepiante. Logo em seguida, utilizando programações e uma dupla de músicos experientes, o baterista Arthur Kunz promoveu um show de jazz experimental, cedendo espaço à música experimental.

A tarde continuava e o público esquentava, dando vez para uma das bandas de rock mais festejadas da cidade, Vinil Laranja, que enlouqueceu quem não arredava o pé. O nível foi mantido com Tomates Verdes, com fortes influências do grunge, e pela banda Xamã, que está completando mais de 10 anos de atividades na noite de Belém. Para abrilhantar a tarde de domingo, a sutileza da Suzana Flag.

Com o local das apresentações, o anfiteatro da Praça da República, completamente tomado pelo público, foi a vez do hardcore do Licor de Xorume. O peso foi mantido com a banda Norman Bates, clássica banda paraense, que mostrou porque o rock paraense é um dos mais vislumbrados no resto do país.

Para fechar com o clima lá em cima, foi a vez do thrash metal do Telaviv, o público já estava completamente alucinado, quando eles subiram no palco. Resultado do Bafafá pro Música: Festival perfeito, mesmo com o embargo da Prefeitura Municipal de Belém; e todos voltaram para casa felizes da vida.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Paraenses fazem um Bafafá!

Rafael Lima
Natural de Belém do Pará, Rafael Lima explora os elementos rítmicos e melódicos do Norte do Brasil e os funde com o jazz, ritmos indígenas e outras influências. No fim da década de 70 fez parte do grupo musical “Sol do Meio-dia”. Convidado a inaugurar a sala de concertos “Miles Davis” no Festival de Jazz de Montreux na Suíça em 1994, Rafael já lançou cinco CDs na Suíça e Brasil, além de gravações realizadas no Canadá também. Em Zurique, na Suíça, numa fria noite de inverno, compôs a opereta “Reinavam com o Castiçal”; adaptação musical feita para um diálogo de 13 páginas do livro “Primeira Manhã”, do escritor Dalcidio Jurandir. Apresenta-se no Bafafá ao lado da filha Juçara Abe, jovem cantora e compositora que começa a mostrar seus trabalhos solos.

Retaliatory

Um dos mais importantes grupos de metal paraense, o Retaliatory iniciou suas atividades em 1990 tocando thrash death metal inspirado em bandas como Sepultura, Sarcófago, Slayer e Kreator. O primeiro registro foi a gravação de ensaio “World in Coma” (1991). No ano seguinte surge a primeira demotape oficial, “Sicking in Pain”, com apenas duas músicas gravadas na Rádio Cultura de Belém. Em 1994, sai a segunda demotape, “Marching to the Unknow”. Com essas duas demos, o Retaliatory consegue ser conhecido em todo o estado do Pará. E também a participar das três edições do maior festival de Rock do Norte do país, o Rock 24 Horas. Mesmo mudando várias vezes de formação, o grupo se manteve na ativa, e em 2000 lançou o CD-R comemorativo pelos 10 anos de estrada, “Ancient Glorious Death”. Trabalho que impulsionou os paraenses a fazerem vários shows, tocando ao lado de bandas como Krisiun, Torture Squad, Funeratus, Distraught, Deadly Fate, Warpath, Unearthly, Violator, Obskure, entre outras. No final de 2004, após estabilizar seu line up com Gledson Moita (vocal), Hugo Bucho Fight (guitarra), Spetto Alfaia (guitarra), Luis Cara de Caveira(contrabaixo) e Wagner Nugoli (bateria), o grupo entra em estúdio para gravar seu álbum de estréia, “Retaliatory Attack”, lançado em março de 2006 pelo selo Kill Again Records. Com essa bagagem toda a banda encerra a programação do Bafafá no dia 13 de dezembro.


Stereoscope

Sabe aquela estrutura melódica das bandas dos anos 60? Já ouviste falar em Jovem Guarda? A banda paraense Stereoscope reflete exatamente essas duas premissas, mas vai além e viaja por outras décadas se deixando influenciar por outras sonoridades, o que resulta em um trabalho com apelo pop fortíssimo. O primeiro disco “Rádio 2000” lançado em 2003 pela então Na Records trazia os músicos Jack Nilson (guitarra e voz), Marcelo Nazareth (guitarra e voz), Ricardo Maradei (baixo e voz) e Ulysses Moreira (bateria) para o jogo do pop rock paraense que começava a ganhar visibilidade e conquistar fãs país afora. O Stereoscope também fez a sua pequena legião de seguidores. Faixas como “Eu Envelheço”, “Felicidade Azul” e “A Lira” ajudaram a conquistar, entre outros, Fernando Rosa, do site Senhor F, que se apaixonou pela sonoridade e os chamou para gravar o segundo trabalho. “O Grande Passeio do Stereoscope” foi lançado em 2006. No final de 2007, a banda ganhou novo baterista, Daniel Pinheiro. Este ano, a Stereoscope aguarda o lançamento de seu terceiro disco, também pelo selo Senhor F Discos.

Suzana Flag
A trajetória da banda castanhalense Suzana Flag começou em 2002, quando lançou de maneira totalmente independente o disco “Fanzine”. O nome representava bem o projeto caseiro, que foi repassado para os amigos, que começaram a espalhar o som da banda. A sonoridade desse primeiro registro cativou pela simplicidade e qualidade. A banda virou referência no circuito alternativo de Belém e foi peça fundamental para o que hoje se consolida como um cenário bastante diversificado e elogiado. Tendo praticamente todas as suas canções sido tocadas na Rádio Cultura, novas tiragens sendo providenciadas e a legião de fãs crescendo a cada show, sendo esse sucesso repercutido em vários prêmios como o do site carioca London Burning de Revelação (2004), participação em diversos festivais no país afora, como o pernambucano Abril Pro Rock (2005), além de estar inclusa no tributo ao cantor Odair José lançado em 2006 junto com nomes como Pato Fu, Paulo Miklos e Zeca Baleiro. O reconhecimento de crítica e público vem pavimentando o caminho da banda desde então, que se prepara para colocar o seu tão aguardado segundo disco no mercado no início do ano que vem. Premiado com o prêmio do selo Pará Musical, da Secretaria de Estado de Cultura, “Souvenir” chega com produção dos guitarristas Joel Melo e Nicolau Amador, mixado e masterizado no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Arthur Kunz Trio

Arthur Kunz é uma das atrações do BAFAFÁ

Nascido em 1983 em Belém do Pará, Arthur de Rezende Kunz e Silva ganhou sua primeira bateria aos 16 anos. Desde então a música faz parte de sua rotina de estudos. Participou de vários grupos de rock e só mais tarde descobriu uma grande paixão: o jazz. Em 2002 já atuava no cenário da música instrumental paraense quando decididamente resolveu iniciar seus estudos de composição. O resultado disso é um disco (ainda em fase de pré-produção) com composições híbridas misturando o som da bateria acústica com elementos eletrônicos. Com Davi Amorim (Fafá de Belém, Nilson Chaves etc) está garantida a quentura do som, com uma guitarra solo ácida, porém pop, e Elias Coutinho (bacharel em saxofone) trazendo suas frases de sax nostálgicas e frenéticas, está formado o Arthur Kunz Trio, que estréia no Bafafá.

myspace.com/arthurkunz

O canto d'A Euterpia

A cantora Marisa Brito, 26 anos, segue carreira solo a partir do ano que vem

Era uma manhã chuvosa em São Paulo. Os rios Pinheiros e Tietê transbordaram e alagaram as ruas provocando caos na cidade. Por conta disso, a professora de canto Marisa Brito não pode sair de casa naquele dia. Sobrou tempo para que ela e eu refizéssemos uma entrevista iniciada quase um mês antes sobre o anunciado fim da banda A Euterpia. Na correria eu simplesmente esqueci de salvar o texto. Ela também não salvou. Eu poderia ter escrito um texto corrido com a memória do que foi dito, mas queria as palavras dela. Seu depoimento verdadeiro sobre o fim de uma das bandas mais emblemáticas do cenário paraense dos últimos anos. A Euterpia levara quase seis anos para gravar seu primeiro registro, tempo suficiente para amadurecer o som da banda e consagrar sucessos como “Veneza” e “Brechó do Brega”. Um som difícil, como muitos taxaram, para dizer o mais leve das críticas. Mas trata-se de uma banda injustiçada. Não que devamos lamentar uma perda que, como Marisa diz, gera, através do sofrimento, a evolução, o amadurecimento. Bandas injustiçadas há aos montes. Mas a trajetória da Euterpia ajuda a entender os dilemas dos músicos que vivem no Pará ou na Amazônia e que lutam para se firmar num mercado inc(s)ipiente. Não fosse A Euterpia e talvez, a despeito dos Mutantes, bandas como a amapaense Minibox Lunar demorassem alguns anos mais para aparecer. Com vocês o depoimento de Marisa Brito sobre o fim da Euterpia.


Nicolau: Por que a banda acabou?

Marisa: Tudo no universo está em constante mudança, em constante transformação. O ciclo da vida existe para tudo, até para os projetos como uma banda. Se nós como pessoas passamos por fases, que dirá de um encontro de amigos, de jovens com sonhos que em dado momento parecem os mesmos, mas que, com o passar do tempo, podem ir ficando diferentes, porque somos diferentes... Mudar de cidade foi importantíssimo para o nosso crescimento pessoal. Mas não conseguimos nos firmar como banda. Fizemos shows bem legais, mas ficou tudo muito inconstante, muito incerto, e já estamos na fase da vida em que queremos mais estabilidade. Não somos mais adolescentes. Queremos casar, ter filhos, nossas casas, enfim...

O que você acha que faltou para A Euterpia se firmar?

Olha, eu acho que somos todos muito "artistas” (risos). Nenhum de nós dentro da banda, tinha um talento nato para a parte de produção, uma coisa mais de marketing. Acho que foi aí que o bicho pegou porque não conseguimos que nenhum produtor encarasse pra valer o projeto, até o fim. Pessoas maravilhosas trabalharam com a gente, nos ajudaram muito, mas sempre saíram no meio do caminho, pois viam que pro nosso estilo seria necessário muito investimento, que muitas vezes eles não tinham condições de dar, ou encontravam um outro trabalho que fosse mais viável pra eles trabalharem. Sabíamos que A Euterpia pra "vender" não era a coisa mais simples do mundo. O mercado musical é muito instável. Não conseguimos nos firmar dentro desse mercado, por isso fomos procurar outras formas de viver de música. Todos nós vivemos de música, mas nosso sustento nunca veio da banda. Sempre foi trabalhando com música, mas fazendo outras coisas. E isso é uma realidade acho que de todas as bandas de Belém, senão, a maioria.

Mesmo com essa dificuldade de afirmação da banda, o disco da Euterpia foi um dos mais vendidos lançamentos do selo Na Music. Como você vê essa dicotomia?

Isso é interessante. Olha, realmente parece incoerente... não sei como explicar. Hoje quando paro pra pensar no mercado da música, não consigo entender muitas coisas. Para mim é um mistério. Passamos muito tempo ouvindo pessoas dizendo que A Euterpia era muito "difícil" para vender demais. Mas ao mesmo tempo, víamos pessoas cantando todas as músicas na frente do palco. Eu acho que não tem fórmula pra isso, o mercado quer rotular tudo, dar diretrizes para o que vai vender e o que não vai, mas no final, nem sempre dá certo. Acho que conquistamos nosso público porque fizemos do início ao fim, uma música coerente com o que sentíamos, uma música carregada de verdade, e isso, por mais difícil que pareça, chega ao coração das pessoas. Ora, muitas vezes nos emocionamos com músicas em idiomas que não conhecemos nenhuma palavra, porque não nos emocionaríamos com uma música que tem uma palavra ou outra diferentes? A arte é isso. Não tem explicação. Já ouvi pessoas criticando, dizendo que parecíamos esnobes, por às vezes colocar uma palavra estranha na música, que as pessoas não entendiam. Que tínhamos que simplificar... por quê?! A arte também é um meio de ensinar, de educar, como artista, não acho que devemos olhar pras pessoas como inferiores, precisamos sim mostrar coisas novas pra gerar curiosidade e evolução nelas. Esse tipo de pensamento de que tudo deve ser mais fácil é que faz a cultura ficar cada dia mais rasa, superficial. Não escrevíamos músicas daquela forma porque queríamos esnobar, e sim porque é a forma como a comunicação fluía, assim como sempre respeitamos e admiramos outras manifestações artísticas que são naturais, espontâneas e verdadeiras, mas que usam palavras mais simples. Tem que ter espaço pra tudo. Tem músicas da banda que são super básicas. O que importa é a espontaneidade, a verdade com que se coloca a emoção.

Que lembranças você tem de Belém? mágoas? saudades?

Nossa, lembranças maravilhosas... eu me sinto uma pessoa muito realizada e feliz, não guardo mágoas de coisas ruins, pois todas elas serviram para me fazer crescer, todo sofrimento gera evolução, então, o sofrimento é bom e importante. Quando fecho os olhos e penso em Belém, lembro somente das pessoas cantando nossas músicas nos shows, dos abraços que recebia depois de cantar, do brilho nos olhos daqueles que se comunicavam conosco através da música. Lembro e recebo até hoje, todos os dias, mensagens lindas pela net, e as vezes não tenho tempo de agradecer a todas, mas elas me tocam o coração profundamente, e quero aproveitar aqui pra agradecer todo esse carinho que recebo diariamente. Isso acho que é o maior sinal de que não devo me entristecer com nada. Que conseguimos plantar amor, alegria, bons sentimentos nos corações daqueles que nos admiram. Lembro de todos que trabalharam com a gente, que em algum momento de suas vidas dedicaram parte de seu tempo e seu talento para abrilhantar nosso trabalho. E minha gratidão será eterna.

Como é a relação entre os integrantes da banda hoje?

Maravilhosa. Conseguimos perceber com tudo isso, que nossa relação realmente foi construída de maneira muito sólida. A gente não se vê constantemente, mas quando precisamos um do outro, sabemos que podemos contar. A forma como conseguimos entender, respeitar e apoiar a decisão pessoal de cada um, quando parte decidiu voltar a Belém... não havia o que discutir, foi tudo muito harmonioso. Acima do sonho da Euterpia existe a vontade ver todos da banda sendo muito felizes. Não adianta construir um trabalho em cima da tristeza de uns. Estamos aqui para sermos felizes, e isso foi muito mais forte do que a vontade da banda continuar a qualquer custo.

Quais os projetos futuros?

Falando por mim. Como sou formada em licenciatura em música, sempre gostei muito da área de educação musical, sou apaixonada por ensinar, e desde o início queria vir pra SP pra também dar continuidade nos estudos. Amo a vida acadêmica e quero continuar minhas pesquisas em educação musical. Aqui estou estudando piano e violão, ano que vem farei minha pós-graduação.
Sou professora do conservatório Souza Lima, uma escola excelente. E estou muito realizada dando aulas lá, pois todo dia me sinto estimulada a crescer e evoluir. Sinto que amadureci como pessoa e como artista e hoje tenho a necessidade de fazer um projeto solo. Tenho planos para colocar em prática no ano que vem. Já comecei a trabalhar nele, e em breve darei mais notícias sobre isso.

E como foi gravar o DVD do Edgar Escandurra?

Nossa, foi um dos maiores presentes da minha vida. Ele me encontrou por acaso no myspace, me ouviu e gostou, e mesmo sem me conhecer pessoalmente, me convidou para participar desse novo trabalho. Então, fiz parte da banda base como backing vocal. E foi demais! Além dele ser um guitarrista incrível, é uma pessoa muito especial. Além de todos que participaram desse projeto. Foi um aprendizado novo todos os dias, a cada ensaio, a cada show, fazer backing vocal foi uma experiência nova para mim e quer saber: eu adorei!!! Aprendi horrores!. O DVD vai sair ano q vem. O Edgard tem feito alguns shows no formato trio, e nessa quinta, dia 10, fará um show no Studio SP e me convidou para cantar com ele. Não farei backing vocal dessa vez, cantarei uma música com ele, e vou tocar castanholas em outra. Minha vida aqui em São Paulo tem sido muito feliz. Estou colhendo agora coisas maravilhosas... meus planos são continuar dando aulas de canto e me aperfeiçoando pra isso. Quero um dia lançar um livro com os resultados de minhas pesquisas (mas isso ainda está bem longe). E ano que vem quero colocar em prática meu projeto solo. Vou montar um show como intérprete... estou em fase de seleção de repertório. Recendo músicas de compositores mais novos, músicas inéditas...dentre os paraenses, vou cantar músicas de Renato Torres, Felipe Cordeiro e logicamente, do meu mais fiel parceiro e amigo, Antonio Novaes.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Bafafá Pro Música


Dia 13 de dezembro é dia de Bafafá. Como todo paraense sabe, o Bafafá é um “disse me disse”, um burburinho que ronda a cidade e o país sobre a nova música que vem do Norte. E que aponta o Norte da música brasileira. O Bafafá é um manifesto que surgiu da união da Associação Comunitária Paraense de Rock (Pro Rock) e o Movimento Bafafá do Pará, capitaneado pelo compositor Paulo Luamim.
No dia 13 de julho de 2008, ocorreu o primeiro, que reuniu mais de 3 mil pessoas na Praça da República, no Dia Mundial do Rock. Um Bafafá Pro Rock. Em setembro, rolou mais um, dentro da terceira edição do festival Se Rasgum, e trouxe shows gratuitos de Johny Rockstar, Curimbó de Bolso, Telaviv e outros. Ainda rolou Bafafá no dia 28 de dezembro de 2008, quando mais de 12 artistas se apresentaram novamente na Praça da República. Jolly Jocker, Baby Loyds, Clepsidra, Mestre Laurentino e Resistência Suburbana foram alguns dos artistas que se apresentaram.
No próximo dia 13, serão mais 20 artistas fazendo o seu canto de manifesto a favor da música paraense. Cada artista ou banda apresenta 20 minutos de show em dois palcos alternados, divulgando a produção local e informando o que o movimento da música paraense faz pela cidade, pelo país e pelo mundo afora.
O Bafafá Pro Música tem apoio do SEBRAE-PA e da Secretaria de Estado de Cultura (Secult) e faz parte de uma campanha de valorização da música e da arte paraenses, com o objetivo de dinamizar a economia criativa em nosso estado. “Nosso objetivo é mostrar a produção musical para as famílias, para as crianças, para os jovens, enfim, que circulam pela Praça da República no domingo”, explica Nicolau Amador, um dos organizadores do evento.
“A idéia é muito boa porque, além de criar em espaço alternativo de divulgação e difusão da música paraense, também mobiliza os músicos dentro de um movimento cultural”, diz a cantora Juçara Abe, que vai se apresentar no Bafafá deste ano ao lado do pai, o compositor Rafael Lima.
O Bafafá também abre espaço para novos artistas como Arthur Kunz Trio, baterista que estréia seu projeto solo instrumental no projeto. Além dos já citados, estarão no Bafafá deste ano, Suzana Flag, Norman Bates, Vinil Laranja, Dharma Burns, Miguelitos S/A, Os Baioaras, Núcleo Base, Telaviv, Retaliatory, Pio Lobato Trio, Ataque Fantasma, Stereoscope, Dialetos, Tomates Verdes, Os Baioras, Licor de Xorume, DJ Morcegão e Máfia da Baixada e Joelma Klaudia.
Com o projeto Pará Pro Música, que esta sendo elaborado em parceria com o SEBRAE-PA, os artistas pretendem divulgar várias ações no ano que vem, como promover festivais e mostras semelhantes, além cursos de gestão e de empreendedorismo. Outros grupos, como a Pro Rock e o Bafafá do Pará também vão executar ações sociais através da música.
O Bafafá Pro Música tem ainda o apoio do selo Na Music, MM Produções, Gráfica Delta e Fórum Paraense de Música Independente.

Informações:
Email: associaprorock@gmail.com.
Fones: 9614 1005 (Nicolau) 8864 4361 (Hijo)


Programação Bafafá
13 de dezembro de 2009
Praça da República


10h – abertura

01 - Núcleo Base
Palco Anfiteatro
10h10 – 10h30

02 - Dharma Burns
Palco Carreta
10h30 – 10h50

03 - DJ Morcegão e Máfia da Baixada
Palco Anfiteatro
10h50 – 11h10

04 - Rafael Lima e Juçara Abe
Palco Carreta
11h15 – 11h45

05 - Joelma Klaudia
Palco Anfiteatro
11h45 – 12h05

06 - Os Baioaras
Palco Carreta
12h05 – 12h25

07 - Vinil Laranja
Palco Anfiteatro
12h25 – 12h45

08 - Arthur Kunz trio
Palco Carreta
12h45 – 13h05

09 - Tomates Verdes
Palco Anfiteatro
13h05 – 13h25

10 - Ataque Fantasma
Palco Carreta
13h25 – 13h45

11 - Suzana Flag
Palco Anfiteatro
13h45 – 14h05

12 - Licor de Xorume
Palco carreta
14h05 – 14h25

13 - Dialetos
Palco Anfiteatro
14h25 – 14h45

14 - Pio Lobato Trio
Palco Carreta
14h45 - 15h05

15 - Xamã
Palco Anfiteatro
15h05 - 16h25

16 - Norman Bates
Palco Carreta
16h25 –16h45

17 - Miguelitos S/A
Palco Anfiteatro
16h45 – 17h05

18 - Telaviv
Palco Carreta
17h05 –17h25

19 - Stereoscope
Palco Anfiteatro
17h25 – 17h45

20 - Retaliatory
Palco Carreta
18h05 – 18h35