terça-feira, 10 de agosto de 2010

Na estrada com Felipe Cordeiro e os Astros do Século

Primeira Parte

Sábado, 8 de agosto de 2010. Passam poucos minutos das 14 horas e estou na van com Felipe Cordeiro e Os Astros do Século indo em direção a Castanhal, onde logo mais eles se apresentam em mais uma edição do Conexão Vivo. A viagem de pouco mais de 40 minutos tem o tempo suficiente para descobrir quem é o jovem artista que se destaca entre a nova geração da música popular paraense. Geração que nasceu influenciada por outras gerações da mesma música paraense, que, por sua vez, foi influenciada tanto pelo rock quanto pela música popular.

Felipe Cordeiro tem 26 anos e é filho de Manuel Cordeiro, que foi o “rei da lambada” nos anos 80, produtor de artistas como Beto Barbosa, Alípio Martins e banda Warilou. Sua formação musical começou ainda criança, em casa e entre estúdios e shows. Dos 11 aos 16 anos estudou na Escola de Música da Universidade Federal do Pará. “Mas considero que minha carreira começou mesmo há dois anos quando decidi ser músico profissional”, explica.

Formou-se em Filosofia no ano passado, depois de lançar o primeiro disco, Banquete, com músicas feitas na adolescência e gravadas com apoio de vários amigos ilustres como Lívia Rodrigues, Arthur Nogueira, Andréia Pinheiro, Juliana Sinimbú, Alba Maria e Olivar Barreto.

Felipe em show na noite anterior ao Conexão Vivo Castanhal

Felipe pegou o diploma e decidiu fazer música pop conceitual. Ele começa a definir seu som e seu conceito com o projeto ao lado d’Os Astros do Século. A personalidade inquieta foi acentuada pela formação acadêmica: “Inevitavelmente penso sobre as coisas que faço. Penso sobre a minha música, a influência que ela tem e como se insere no contexto da contemporaneidade. O curso de Filosofia enfatizou isso em mim”, diz do banco da frente da van.

O cantor ouve as perguntas, olha para frente, pensa, e volta novamente o rosto para trás ao me responder, num time que não se excede nem falta. Explica que depois de conseguir patrocínio do Conexão Vivo para fazer o álbum “Kitsch, Cult e Pop”, a ser lançado ainda esse ano, Felipe começou a materializar musicalmente o conceito do seu estilo. Juntou as amigas do teatro Luiza Braga e Adelaide Tereza, duas vocalistas performáticas ao estilo Blitz, o baterista Arthur Kunz e o baixista Mauricio Panzera, ambos do Clepsidra. Fechou o time com a turma do Casarão Cultural, com o guitarrista Leo Chermont e o percussionista Junhão. Dependendo da situação, outros músicos dão uma “turbinada” no show, como Nazaco, do trio Manari.

Com letras e performances inspiradas pela lírica da vanguarda paulistana de Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, Felipe testa a vibe do projeto - que tem conquistado fãs a cada nova apresentação. “Não devo gravar o disco como uma banda. O projeto tem todo o conceito, mas show é outra coisa. No disco algumas coisas serão diferentes”, explica.

A receita Kitsch Cult Pop inclui ainda a guitarrada, o brega e a lambada, “a música Kitsch do Pará”. Com o cult da vanguarda paulistana e o kitsch paraense Felipe fala pela linguagem do pop: “A cultura pop é onde todas as minhas referências se encontram. Não tem como eu pensar e falar sem ser a partir da cultura em que eu nasci e que vivo que é a cultura de massas, a nossa realidade."

E Felipe fala com segurança, mas não deixa de perguntar: “eu to sendo muito vago?”. Não, não está. Além de contextualizar sua arte com precisão e coerência conduz e coordena todo o trabalho. Foi ele quem contratou a van e fez reserva no hotel em Castanhal. Vez ou outra dá orientações para os músicos, que vão desde não fumar na van até usar cinto de segurança. “Antigamente, o músico entregava a carreira para o produtor. Hoje a gente já sabe que isso não é bem assim. Por isso sempre planejo a médio e a longo prazo."


Adelaide Tereza, vocalista performática formada no teatro

Quarenta minutos depois, a van chega em Castanhal. Vamos direto para a passagem de som na concha acústica da Praça Estrela, onde as vocalistas comprovam com alegria que elas e Felipe estão em destaque na foto do cartaz oficial do Conexão Vivo. Fazem troça com Leo Chermont, que foi destaque com os “metaleiros da Amazônia” no cartaz da edição do festival em Marabá. Elas roubaram a cena mais uma vez.

Cuidadoso, o técnico de PA’s da Conexão Vivo arranja o áudio como se fosse para “gente grande”. Qualidade de som rara em eventos na cidade. Na noite anterior, Felipe se apresentou no Espaço Cultural Cidade Velha, num palco bem pequeno. Seu show pareceu bastante sofisticado para o espaço. A passagem de som no enorme palco da concha acústica da Praça da Estrela em Castanhal cria expectativa maior sobre o show de logo mais.

Enquanto a banda se dirige para o hotel, eu acompanho Felipe e a assessora de imprensa do evento até a Rádio para uma entrevista. Depois voltamos ao hotel. No próximo post conto como foi o resto da minha jornada ao lado dos Astro do Século.

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