O desafio de transformar uma cena emergente em um mercado sólido passa pelo desafio de superar manifestações de individualismo egocentrico, sem dúvida. Infelizmente, este é um imperativo comum a todos os agentes da cadeia prrodutiva do cenário músical paraense. E, antes de digam que não é, isso pode ser, sim, uma auto-crítica. Mas pode ser também um desafio coletivo.
Aceitar a crítica é um problema para muitos. A não ser que ela seja feita apenas de elogios. Isso foi identificado há tempos não por mim mas por vários profissionais ligados à cadeia produtiva da música.
Aceitar a crítica é um problema para muitos. A não ser que ela seja feita apenas de elogios. Isso foi identificado há tempos não por mim mas por vários profissionais ligados à cadeia produtiva da música.
Um exemplo claro foi quando na mesa sobre jornalismo cultural da última edição do Conexão Vivo em Belém os jornalistas foram unânimes em dizer que preferiam não escrever críticas negativas em seus espaços. Por mais que um detalhe técnico pudesse ser observado, a via de regra é não escrever sobre quem não tem um trabalho que mereça um elogio. Mas Kuru Lima quando opinou nessa mesa disse que, às vezes, uma crítica bem posicionada pode contribuir para que ocorra uma transformação na carreira do artista. Pode ser verdade, mas a maioria não se arrisca. A crítica ser transformadora depende tanto de quem escreve quando de quem a recebe.
Uma banda de rock normalmente tem em si uma fonte gritante de conflitos e jogos de poder. Um exemplo de como outros profissionais (neste caso, produtores) lidam com a condição do artista na cadeia produtiva é o que transcrevo abaixo, extraído do livro "A Arte de Produzir Música", de Richard James Burguess.
- "Às vezes, produção relaciona-se com meditação, moderação e proteção do processo democratico; em outras, é preciso permitir que você ou outra pessoa seja o ditador. 'Normalmente o que as pessoas estão praticando não é a democracia, mas a covardia e as boas maneiras", diz o produtor Brian Eno. "Ninguém quer pisar no calo de fulano-de-tal, e por isso ninguém quer dizer nada. O que vale na democracia é a idéia de que, se há cinco pessoas aqui e uma delas sente algo muito forte sobre alguma coisa, voce pode confiar que a força dos sentimentos dessa pessoa indica que existe de fato algo por trás disso. Acho que um bom relacionamento democrático tem a ver com a idéia de que trata-se de uma liderança em constante alteração. Não de trata de 'todos lideramos juntos ao mesmo tempo', mas que 'todos confiamos o suficiente uns nos outros para crer que, se alguém sente algo forte, nós o deixamos liderar por aquele periodo de tempo'. E é o que normalmente acontece. Alguém dirá: 'Não, eu realmente acho que deveríamos fazer isto dessa maneira'. E eu direi: 'Oh, vamos tentar, vamos ver o que acontece.'" (BURGUESS, Richard James. A Arte de produzir Música. Trad. Marcelo Oliveira e Grace Perpetuo. Rio de Janeiro. Gryphus, 2002.)
Um artista imaturo não teria uma reflexão crítica como essa sobre a participação democrática do processo de criação ou de gravação de um disco, que é ao que se refere o trecho. Como se pode ver, o trabalho de um produtor musical assim como o trabalho de um jornalista ou crítico musical são diferentes. Podem ser exercidos pela mesma pessoas em momentos diferentes. Carlos Eduardo Miranda, Nelson Mota e outros produtores brasileiros foram jornalistas e produtores em momentos diferentes. Talvez eles tenham a capacidade de entender o que o artista, ocupado no fazer no produzir, não consegue perceber.
Um mercado precisa ter agentes, produtores, jornalistas, técnicos etc. Pessoas e profisisonais diferentes com qualificações diferentes. Na transformação de uma cena em mercado, no entanto, através da ação de agentes públicos interagindo com a comunidade que agrega os profissionais dessa cadeia produtiva (a setorial), é preciso ter o entendimento do papel de cada agente profissional e social desse processo. Algo que exige uma compreensão complexa de fatores que determinam uma economia que não está sujeita apenas aos principios elementares do capitalismo economico (oferta, demanda, preço etc).
A economia da cultura exige qualificação específica.
A tentativa de afirmar uma cadeia produtiva deve estimular a produção jornalística crítica, deve estimular a qualificação do produto musical: dos fonogramas e dos shows. Senão, os elogios generosos que deveriam servir ao empenho e aprimoramento do artista servirão ao contrário, a acomodação dele.
Mas isso é apenas uma nota. Há outras questões a serem consideradas.
Um comentário:
Obrigado senhor pela sua superioridade e pelos ensinamentos mais inovadores.
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