quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Caros editores da Rolling Stone Brasil,

Sou guitarrista e produtor das bandas Suzana Flag e Norman Bates, sou o segundo presidente de uma associação que leva o nome “Pro Rock”, sou jornalista e produtor, portanto, tive que vestir a carapuça que o meu colega Vladimir Cunha tirou da gaveta na resenha sobre a terceira edição do festival Se Rasgum “sem rock”. A frase lapidar de Vladimir me chamou atenção, “esse zumbi que ainda se arrasta pelos subterrâneos da cidade”. Como diria meu amigo Buscapé Blues, “é muita frase de efeito.”
Fico pensando que (tudo bem, é uma resenha, que não representa a opinião da revista etc) talvez a Rolling Stone Brasil, que tem contribuído para oxigenar o mercado editorial brasileiro devesse talvez também ajudar a oxigenar o cérebro de quem conduz esse negócio quase falido (quem diz é Midani em sua autobiografia) que é a indústria fonográfica. Eu que faço parte dessa cena quase desconhecida da maior parte do resto do país (fui guitarrista da banda de hardcore Pig Malaquias junto com Vladmir e integrei o Coletivo Rádio Cipó por dois anos em seus primórdios) não sei até hoje que porra afinal é esse tal rock paraense. Imagina o grande público leitor da RS! Talvez, antes de decretar a decadência do gênero na cidade, a revista pudesse produzir uma matéria de fôlego sobre o que é isso afinal, já que a maioria dos jornalistas daqui (mesmo o Vladimir) não conseguem defini-lo, seu fracasso ou sua improvável vocação. Se o rock paraense não tem vocação para a coisa, perguntem a Alex Antunes, a Carlos Eduardo Miranda, a Lúcio Ribeiro ou a Pedro Alexandre Sanches, que já estiveram aqui não uma, mas várias vezes conferindo a produção das bandas locais. Façam suas análises daquilo que é desconhecido do grande público. Ademais, só um legítimo “punk rocker”, que eu conheci em 1991 usando calças rasgadas, coturno e camiseta preta, poderia achar que a diversidade da produção cultural de Belém ou do Pará cabe dentro de um gênero, ou mesmo fora dele. Vladimir deveria ter visto o terceiro dia do festival, ao qual só chegou durante a última banda, onde o palco Bafafá Pro Rock apresentou imensa diversidade, do pop do Suzana Flag ao hardcore dos Rennegados e Delinqüentes, do carimbo do Curimbó de Bolso ao experimentalismo do Clepsidra, entre tantas outras bandas e artistas que apresentam propostas artísticas completamente diferentes do padrão da indústria falida. Mas ele não quer ver, ao que parece. Acredito que o Pará não é mais uma província. Viva o rock amazônico, viva a diversidade, não à monocultura seja ela qual for, a soja, o axé music ou o tecnobrega.

Cordialmente,

Elielton “Nicolau” Amador
Belém – PA

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