A manchete de hoje de um dos maiores jornais diários de Belém estampa “22 mortes por gripe suína no Pará”. Há algumas semanas, o mesmo jornal publicou matéria de página inteira dizendo que o número de casos de raiva humana no Pará, em 2009, chegou a “quase 900 casos”. O repórter, no meio do texto, explica, sempre de maneira enviesada, que esse dado é um arredondamento de supostos 830 casos reais.
Só a diferença entre o suposto número real (830) e o arredondamento “jornalístico”(900) somam 70 casos, 30 casos a mais do que os verdadeiros números de registro de raiva humana segundo a Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa) nos anos de 2004 e 2005. De 2006 em diante nenhum caso de raiva humana foi registrado no Estado.
Cada caso de raiva humana significa, invariavelmente, um óbito porque não há cura para a doença uma vez que o ser humano é infectado. O que acontece é que em casos de agressões por animais a pessoa recebe a vacina a tempo de evitar a infecção pelo vírus, que pode estar inoculado no animal agressor.
Os dados corretos sobre agressões por morcegos, animais que podem ser os principais transmissores da raiva, foram de 1104 em 2009, de acordo com os registros da Sespa.
É muito fácil constatar que as informações repassadas pelo repórter eram falsas. Das duas uma, ou ele foi ingênuo e inexperiente, mesmo que a informação tenha sido realmente repassada de forma errada por alguma fonte, ou usou de má fé, atendendo a ordem da sua chefia de que qualquer coisa que afete a credibilidade do governo deve ganhar destaque.
Depois de ser “desmascarado”, o repórter, que segundo consta dá aula de jornalismo em uma universidade privada do Estado, não admitiu o erro, e tentou justificar a informação creditada à assessoria de imprensa de um órgão tão respeitado quanto o Museu Paraense Emilio Goeldi.
Ora, se 22 mortes por Gripe Suína merecem uma manchete de jornal, porque os “900 casos de raiva humana” nunca foram parar na manchete?! Veja bem, são 900 óbitos! Um escândalo de repercussão internacional.
Ao tentar manter sua posição, jornal e repórter, como bem disse outra jornalista local, “bateram no fundo do poço da ética e da credibilidade”.
Em tempo em que a guerra eleitoral se prepara para se acirrar, mostrando que deve ser uma guerra como todas as outras, sem escrúpulos e sem bom senso envolvido, os órgãos de controle social sobre a imprensa devem ficar atentos, assim como o TRT.
Caso contrário, daqui a quatro anos alguém vai “querer” depor prefeitos, deputados ou governadores por ilícitos cometidos na campanha, sem que seja possível reverter seus atos de governo ao longo dos anos em que governou.
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