terça-feira, 24 de agosto de 2010

Música Para Empreendedores



Leonardo Salazar é autor do livro “Música Ltda: o negócio da música para empreendedores”. Graduado em Comunicação Social/Jornalismo e pós-graduado em Gestão de Negócios, ele trabalha com o negócio da música desde dezembro de 2001. Durante sua caminhada já participou de mais de 200 eventos musicais, em 68 casas de show e 35 festivais, passando por 34 cidades de 5 países e 2 continentes.

Foi assessor de imprensa, assistente de produção, empresário/agente/produtor de artistas, promotor de shows, tour manager no Brasil e em alguns países da Europa, produtor fonográfico e sócio-administrador da própria microempresa de produção musical. Foi professor das disciplinas “Empreendedorismo” e “Elaboração de projetos culturais” do curso de Produção Fonográfica da faculdade AESO. Também foi palestrante da Feira Música Brasil 2009. Atualmente ministra cursos, oficinas e palestras em todo o Brasil.

Na próxima sexta-feira ele estará em Belém para uma palestra, trazido pelo projeto Pará Pró Música, parceria do SEBRAE-PA com o Fórum Paraense de Música Independente (FPMI). A palestra será compartilhada com uma mesa dentro do Congresso Fora do Eixo Norte que é sediado em Belém e organizado pelo coletivo Megafônica. Nessa mesa Leonardo vai confrontar suas ideias com o "papa" do Fora do Eixo, uma rede onde se pratica apenas parcialmente o comércio formal, susbstituindo a força de trabalho dos músicos por créditos, aquilo que Pablo Capilé chamou de Cubo Card.

Em entrevista exclusiva por email ele comenta o tino para negócios do músico independente brasileiro, que considera “um completo desastre” e comenta recentes declarações do cantor e compositor Lobão.

Uma matéria muito elucidativa para quem estuda o negócio da música e o confronta com as políticas públicas atuais para o setor. Não se trata de pregar o neoliberalismo no setor mas de saber que uma economia (mesmo a da cultura) precisa atender a princípios básicos de mercado para evoluir.


Nicolau: Como surgiu a ideia de fazer o livro Música Ltda?

A ideia surgiu no curso de especialização, precisava escrever um trabalho de conclusão de curso, então constatei a inexistência de bibliografia referente ao negócio da música em língua portuguesa. Daí, resolvi juntar minha experiência na produção musical com as competências gerenciais adquiridas no curso de gestão de negócios. Então, escrevi o Música Ltda., inserindo um modelo de microempresa para uma banda.


Como você avalia de modo geral a consciência do músico brasileiro para os negócios?

Em geral, o músico não presta atenção à parte gerencial, sua atenção está focada na parte artística. Isso é normal. Quando a carreira começa a decolar, o faturamento cresce, começam a aparecer problemas e exigências, como, por exemplo, passar nota fiscal, assinar contratos etc. Então, passa a exigir que o músico, além de compor e tocar, passe também a tocar o negócio, a administrar assuntos complexos. Isso é uma realidade.


Produção, circulação, consumo...o que você considera mais importante para o fomento de políticas públicas setoriais nessa área?

As políticas públicas, a meu ver, devem ter dois eixos: produção e consumo. Fomentar a produção cultural é incentivar, não apenas dando dinheiro, mas dando condições de sobrevivência, para que exista empreendedorismo e sustentabilidade, senão o artista fica dependente do Estado, isso é ruim para todo mundo. Fomentar o consumo é incentivar hábitos, práticas culturais, educar o público. A escola é fundamental nesse processo. Crianças adquirem hábitos que levam para a vida adulta, então, é importante a volta do ensino de música nas escolas para dar essa educação artística às crianças que no futuro estarão consumindo música, qualquer que seja o formato.


Qual o papel do Estado no fomento da música?

O primeiro papel do Estado é não atrapalhar a produção musical. Se fizer isso já está ajudando muito. Depois é incentivar o empreendedorismo dos artistas e a educação artística da população.


Como você avalia, do ponto de vista dos negócios, o circuito da música independente brasileira atualmente?

O circuito cresceu muito nos últimos anos. A quantidade de festivais e de prêmios mostra essa realidade. Falando do ponto de vista do mundo dos negócios, o circuito independente é um completo desastre. Quase todo mundo é informal, não há sustentabilidade, ninguém consegue fazer uma poupança, poucos ganham dinheiro, mal dá para pagar as contas, a estrutura de trabalho em geral é precária. O que deve haver, a partir de agora, é uma preocupação com a qualidade do trabalho e a remuneração dos trabalhadores desse setor.

Recentemente o cantor Lobão deu declarações dizendo que "a internet não vai salvar ninguém" e dizendo que o músico tem que ter uma gravadora para pagar jabá enquanto o jabá existir, senão não tem jogo (a não ser de "segunda divisão"). O que você acha dessa declaração?

Acho que o esquema das gravadoras funciona no Brasil, sim. Nisso eu concordo com ele. Mas não acho que o artista deva necessariamente ter uma gravadora e pagar jabá. Existem exemplos de artistas bem sucedidos fora desse esquema. A internet atualmente faz o papel que as rádios faziam no passado, isto é, divulgam o repertório, as músicas, mas não gera receita para o músico, não gera faturamento. O músico acha que basta colocar a música na internet e tudo o mais acontecerá. Isso é apenas o primeiro passo. Tem que empreender, realizar shows, fazer propaganda, assessoria de imprensa, colocar o disco para circular nas mãos dos produtores, participar de feiras, capacitações, cursos etc.

Ainda sobre o Lobão. Como você avalia do ponto de vista dos negócios as duas grandes guinadas que ele deu na carreira dele, brigando com a gravadora, indo ao circuito independente e depois voltando às majors e contrariando alguns dos argumentos que ele defendia antes?

Acho normal. Revolução na juventude e conforto na maturidade.

Você acredita em "cena"? Há lugares onde a música tem mais potencial do que em outros?

Eu acredito em cena. Aqui em Pernambuco teve o Manguebeat, há 15 anos, e ajudou a promover vários músicos no Brasil e no mundo, e ainda ajuda porque virou um selo de qualidade. Banda de Pernambuco é banda boa. O desafio é transformar a cena em mercado, onde todos possam ganhar, isso só é possível com a profissionalização de toda a cadeia produtiva, com a formalização de empresas.

Saiba mais sobre o livro Música Ltda. AQUI.

2 comentários:

coutinho disse...

Massa a entrevista. Muito bom trocar ideia com um cara que entende tanto sobre o nosso negócio como o Léo Salazar.

coutinho disse...

Massa a entrevista. Muito bom trocar ideia com um cara que entende tanto sobre o nosso negócio como o Léo Salazar.