A apresentação do diagnóstico setorial do projeto Pará Pro Música, sexta-feira passada no Sebrae-PA, provocou alguma polêmica entre alguns músicos, produtores e empresários do setor. A consultoria responsável pelo estudo entrevistou 78 artistas e empreendedores ligados a música independente na Região Metropolitana de Belém. O diagnóstico apontou, por exemplo, que mais de 90% dos artistas e empreendedores nessa área estão afastados das entidades representativas de classe (logo, aquelas que deveriam estar defendendo seus direitos) como o Sindicato dos Músicos e a Ordem dos Músicos do Brasil. Dado que corresponde a uma realidade reconhecida por muitos, mesmo sem o estudo.
No entanto, o dado que apontava que cerca de 30% dos entrevistados utilizava a internet para comercializar seus produtos foi questionado de forma bastante incisiva por um dos produtores presentes.
Segundo a manifestação desse produtor, “nem 5%” dos empreendedores da RMB utilizam a internet para fazer venda direta ao consumidor. Mas ele poderia estar sendo só um pouco intransigente e demonstrando má vontade com o projeto.
Um estudo como esse não deixa de ser limitado por atuar num campo nunca antes organizado e sistematizado segundo a lógica do mercado formal. Muitos empreendedores formais e informais nessa área provavelmente não tem a noção estreita do conceito de e-commerce. E considerando que grupos bastante representativos, como o Circuito Fora do Eixo e o Música Para Baixar, lidam com formas alternativas de comércio, esse conceito pode ficar ainda mais dúbio.
Músicos e produtores podem ter ao responder os questionários, reconhecido o ¨e-commerce¨ nos ¨negócios¨ (as aspas se justificam por não serem negócios tradicionais ou formais) que fecham através do site Toque no Brasil ou nas negociações por e-mails ou ainda através das redes sociais como My Space e Facebook. Assim todas as atividades “internéticas” dos independentes seria (mesmo formalmente identificadas como ações de difusão e de divulgação) considerada parte do seu negócio ou do seu comércio.
Mesmo não ganhando dinheiro, mesmo tocando de graça nos festivais ou distribuindo sua música sem cobrar nada, a maior parte dos independentes faz uma economia girar. E a lógica punk do “faça você mesmo” faz o “corre” ser encarado como um negócio de verdade, cada vez mais de olho que os indies estão no futuro de seus empreendimentos.
Alguns outros músicos e empresários se mostraram pouco tolerantes com o processo iniciado pelo Sebrae-PA. As observações deles são pertinentes, mas a resistência ao método me parece ter mais a ver com a pouca familiaridade com a teoria e a prática empreendedoras.
Essa "intolerância" também mantém um ciclo de polêmicas e atritos que pode afastar quem tem interesse em uma ação de potencial transformador como a do Sebrae-PA. A hora de agregar é agora. E muitos dos músicos e produtores que se manifestaram já levantaram em outros tempos a bandeira da “agregação”.
O processo iniciado pelo SEBRAE-PA está perfeitamente de acordo com a lógica de planejamento. Lógica, de modo geral, pouquíssimo absorvida pelas categorias que compõem a cadeia produtiva da música na RMB.
Num curso que fiz recentemente no SEBRAE aprendi que empreender exige um ciclo constante de ações de Planejamento, Execução, Checagem e Avaliação. Nessa ordem cronológica cada ação conduz a outra e ao final o ciclo se reinicia. O diagnóstico do Sebrae-PA é parte da primeira ação de planejamento. Ação que será submetida às demais durante o processo e aperfeiçoada no tempo certo. Se um estudo realizado com 78 agentes tem falhas imagine começar um trabalho sem esse diagnóstico ou com a visão de um único produtor, por mais competente que ele possa ser na sua área. Não dá para trabalhar no “olhômetro” e muito menos com as verdades pré-estabelecidas. Acredito que o projeto da música do Sebrae-PA vai estar muito a frente de alguns projetos semelhantes. Em primeiro lugar, pelo potencial que temos aqui, em segundo lugar, porque começa acertadamente aperfeiçoando as iniciativas já existentes em outros lugares, inclusive de planejamento e diagnóstico. É como diz uma canção que não me lembro de quem é: “demorou, vai ser melhor”.
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4 comentários:
É muito aceitável que qdo pessoas não conhecem o Circuito Fora do Eixo falem coisas equivocadas, por essa razão temos métodos de código aberto, pra esclarecer os que se interessam em entender oq é o fora do eixo, antes de fazer comentários sem legitimidade de ser. O que é e-commerce, simplesmente originou toda a rede que agrega hoje 45 pontos (cidades) no Brasil inteiro, se fosse algo frágil, não entenderia a participação de tantos agentes da música nessa rede... e em TODOS os Estados que tem ponto fora do eixo terem delegados eleitos na assembléia setorial de música. Seria um tanto quanto contraditório, eu acho.
A lógica do CFE é totalmente oposta ao "do it yourself", criamos uma nova: "do it together". Daí surge uma transparência absurda, onde todos juntos, fazem as coisas funcionarem, artistas (-pedreiros), produtores, jornalistas, etc etc etc. É isso (mais uma vez) que justifica a formação de uma REDE/CIRCUITO Fora do Eixo, fora do senso comum e engessado de produzir, tanto como o projeto apresentado se mostrou, engessado, possivelmente devido a criação ter sido feita por um núcleo que não conhece a lógica atual de funcionamento da cadeia produtiva, de circulação, distribuição e de tudo que gere e é necessário pra fazer o mundo independente funcionar de forma coerente e principalmente: com transparencia!!
Talvez aí esteja a explicação dos principais agentes da música que estavam presentes desde o início, terem se esvaído aos poucos, e os que ficaram terem argumentado oq estava sendo apresentado. Se é pra agregar, que seja de forma coerente e verdadeiramente agregadora para todos, e se é um projeto pra cadeia da música, que é ampla e variada em Belém, que todos participem da construção, e não simplesmente tenham que aceitar "o que se tem pra oferecer" como sendo algo imposto, porque aí sim, quem saiu do auditório antes do fim (e os que ficaram sem concordar) não voltam mais.
Bárbara Andrade
Coletivo Megafônica
Circuito Fora do Eixo
Barbara,
Obrigado pela sua opinião. Espero que ninguem tenha que ser imposto a ela para que vejamos alguma coerencia em seu discurso.Quando voce quiser conversar e propor saidas coletivas em que as opiniões possam ser compartilhadas não somente pela visão do CFE, mas numa situação em que essa iniciativa possa ser agregada a outras, desenvolvidas aqui por um coletivo que nem se chama "coletivo" mas está trabalhando e convocando sempre, a cada ação, toda a comunidade artistica paraense, ha anos, pela construção de politicas publicas na nossa área, estaremos sempre a disposição. Lembre-se que a comunidade artistica paraense é formada nao so de bandas de rock mas de uma diversidade imensa. E se formos contar nos dedos os nomes de quem provocou dissidencias na reunião eles cabem em uma mão. Um minoria (bastante barulhenta é verdade) perto dos 80 agentes presentes na reunião como noticiou o Diário do Pará.
Bjo.
Realmente a minoria que discutiu né? O marcelo da serasgun, o na figueredo, o angelo da unama, o cavalero, o carinha do studio mm producões. Apenas os caras que sempre vejo trabalhar, que o resto ali eu nem conhecia, tava lá só pra fazer volume. Como eu, que fui pra lá sem saber o que era.
Saí cedo, junto com o Ná e ele falou que dessa forma isso nunca vai funcionar.
Acredito nisso também.
Eduardo Tenório - Vocal e guitarrista da banda Funbox.
http://www.purevolume.com/funboxrock
http://www.fotolog.com/funboxhardcore
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=20738277
o Cenario de Belém é uma Merda Por problemas como esse, pessoal vamos dar as mãos e cantar juntos em prol dessa porra de cenário (que nem tem moral pra ser chamado de cenário*)
o norte cada vez mais NORTE* ¬¬
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