segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Música e jornalismo: entrevista com Fábio Gomes

Quando fui agradecer o comentário elogioso de Fábio Gomes acabamos batendo um papo muito interessante para artistas e jovens jornalistas e estudantes das áreas. Por isso resolvi editar e publicar nossa conversa ao MSN. Além do Som do Norte, Fábio Gomes tem mais dois blogs (Brasileirinho e Jornalismo Cultural). E, a propósito, eu estava lá no Caverna Clube quando Andro (do Vinil Laranja) anunciou a banda finalista do Grito Rock Belém. Não publiquei porque a mostra foi transmitida ao vivo pelo Independentes do Brasil e imaginei que certamente estaria no blog do Megafônica. Mas é relevante o que Fábio ressalta. Confira, então, os principais trechos da nossa conversa abaixo.


Nicolau: Obrigado pelo comentário no blog. Fiquei lisonjeado. Posso replicar no meu?
Fabio Gomes: Não precisas agradecer, mereceste o comentário. Agora, se replicares, eu é que me sentirei lisonjeado.

Imagina. É isso mesmo. A gente tem que fortalecer a rede.
É por aí. Mas numas, né! Fortalecer o que é relevante.

Sim, claro.
No caso do teu texto, realmente me pareceu melhor dizer ao meu leitor ir no teu blog do que picotar teu texto. Lógico que ninguém quer picotar quando destaca trechos, mas na real é o que rola tecnicamente mesmo. Já o Sidney há alguns dias tinha me autorizado a reproduzir textos dele inteiros, se eu quisesse, e achei que esse sobre o Magnetique também era o caso de fazer isso. Assim também quem lê o blog acompanha várias visões da mesma parada. E, claro, fortalece a rede.

Tá certo. Conta um pouco como é essa história de jornalista gaucho fã do som do Norte?
É uma longa história. Mas tentando ser sucinto... Eu sempre fui aberto a sons novos, mas só fui me dar conta de que nessa novidade quase nunca tinha nada do Norte quando o Varadouro me convidou pra ir ao Acre em 2008. Fui ministrar um curso de Jornalismo Cultural e cobrir o festival. Aí conheci várias bandas do Norte: La Pupuña, Cabocriolo, Boddah Diciro, Filomedusa etc. Uns vão apresentando você a outros etc. Pouco depois, comecei a fazer assessoria de imprensa pra alguns artistas do Pará e chegou uma hora que tava dando um nó na minha cabeça em chegar a mim tantas referências de produção de qualidade, e saber que nada daquilo aparecia na mídia. E, obvio, que nunca iria aparecer mantido o status quo.

Que história!
Aí, resolvi fazer o blog pra começar a mudar o status quo.

Como você avalia essa atividade hoje no Brasil? Qual a relação entre as grandes revistas e o que ta acontecendo na internet?
O melhor jornalismo cultural no Brasil hoje está sendo feito na internet. A mídia impressa, principalmente as revistas mensais, não dão mais conta de acompanhar a efervescência. Mas isso as mensais acabam equilibrando ao optar mais por ensaios, entrevistas etc. Agora, o jornal diário poderia entrar numa de hard news na área cultural mas se omite. Sem querer me gabar, mas vamos lá: eu dei em 1ª mão que a banda classificada nas previas do Grito Rock Belém foi a Paralelo XI. Às 23h39, hora de Belém. Essa informação saiu nos jornais daí hj? Eu não li as edições de hoje. Mas enfim: já que o evento era anunciado, e faz parte da maior ação privada cultural já empreendida neste país – O Grito Rock 2010 -, não era o caso dos veículos destacarem alguém para cobrir? No mínimo combinar de ligar pra alguem do Megafonica numa hora X pra ter a informação e fechar a edição? O mais provável é que saia na edição de terça, quando quem se interessa já viu na internet. Você mesmo publicou na sexta a análise do show que viu na quinta e que provavelmente só apareceu nos jornais daí como agenda, antes do evento.

Você acha que isso justifica o fim das revistas?
Eu não falei em fim das revistas, e não vi isso na sua pergunta. Como eu disse, as revistas em geral acabam compensando o fato de não darem hard news culturais com uma análise mais aprofundada, entrevistas, coberturas mais densas que o do jornalismo impresso diário.

Certo. Na verdade era outra pergunta que eu tava pensando sobre a internet, enfim...
Claro que uma ou outra revista acaba fechando. Lembro agora da Palavra, que o Ziraldo editava em MG ali por 1998. Mas não vejo “ameaça” ao formato revista cultural.

E sobre a formação do jornalista cultural, uma vez que o jornalista hoje se forma em cursos "técnicos” nas universidades, e nós sabemos que o jornalismo cultural bem feito exige uma formação mais densa. O que você me diz sobre isso?
Bem, a maioria das universidades não tem Jornalismo Cultural como disciplina no currículo, e hoje por lei nem mesmo o diploma é obrigatório. Mas vejo que as empresas sérias continuam optando pelo diplomado. O jornalista interessado na pauta cultural em geral acaba se aperfeiçoando por conta própria, pois são poucos os cursos oferecidos pelas universidades na área de pós-graduação e especialização, e quase todos em SP e no Nordeste.

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